Apoio Mútuo

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Vi

  Aquela conversa toda me deixou atônita, eu já não sentia mais medo como antes, mas meu corpo reagia a qualquer mero movimento próximo, estava entrando e saindo do transe de antes, Caitlyn tocou meu ombro e eu voltei do transe novamente como se uma onda de choque de realidade emergisse de sua mão, eu me perguntava como Vander havia se tornado aquilo? E o principal, o que Singed ganhava com isso tudo?

  Desmontar um esquema de corrupção que mostrasse tudo o que possivelmente estava acontecendo dentro da delegacia e das ruas de Zaun, seria uma grande surpresa para todos; há anos o caso do cão do submundo está arquivado, e o caso dos Barões só caiu em mãos incompetentes, e eu queria chegar lá, queria chegar ao ponto de descobrir tudo,tudo o que fizeram com Vander, aquela criatura diante dos meus olhos me despertou tanto medo, o que pode tornar um humano em um monstro? Deve haver mais pessoas sendo submetidas a isso! há algo me dando forças para continuar, existe algo nos olhos daquele lobo, parecia um pedido de socorro, mas ele sequer tem consciência! Eu não sei o que fala mais alto em minha mente, razão ou emoção?

  Eu encarei a mulher ao lado ao sentir seus dedos gelados tocarem delicamente minha bochecha, com um leve carinho; um apoio em silêncio, como foi que esse apoio mútuo surgiu? Ela se jogou sobre mim! Ela estava disposta a morrer, como eu posso ignorar isso? Ninguém nunca foi tão longe assim para me proteger, na verdade eu sempre protegi as pessoas, elas nunca me protegeram.

  Eu me sentia cansada e tudo o que eu sentia que precisava era de um apoio como aquele, por tanto tempo, tantas coisas ficaram presas em mim, era difícil não ser fechada para o mundo.

  Ela abriu a porta saindo do armário e eu a segui, a mesma abriu a janela saltando dela para o chão e eu a segui com velocidade, dessa vez eu não estava com muita paciência para esses jogos da Renata, se ver ela, ela está fodida!

  Assim que chegamos ao local onde costumeiramente Ekko ficava, eu arregalei meus olhos, tudo estava queimado, haviam cadáveres e pedaços de corpos caídos ao chão, eu me aproximei de uma criança, um menino caído ao chão, ele tinha olhos azulados como os de Caitlyn e um cabelo preto, o menino que tossia sangue se arrastava, eu me abaixei na frente dele, ele pareceu cansado e assustado, levantei ele em meus braços, corri minha mão sobre sua bochecha, o menino deitou a cabeça sobre meu ombro, é a segunda criança que vejo nesse estado.

-Hey... -Eu falei em um tom calmo, o fogo se alastrava no local, o menino fixou seus olhos repletos de lágrimas em mim, provavelmente não sobreviveria, mas eu quero que sim. -O que aconteceu aqui?

  Caitlyn se aproximou de nós com a arma em mãos, ela olhava para os lados atenta, eu me ajoelhei e apoiei o menino contra uma árvore.

-Os Barões, e tinha um homem com roupas iguais a dela!! -Ele apontou para Caitlyn, eu a encarei, ela usava o uniforme, apesar de ser vestido ainda era o uniforme de Defensor, ela apertou seus lábios. -Por que ? -O menino derramou lágrimas desesperado -Por que matam a gente?

-Shii... -Eu toquei seus cabelos, ele parecia exausto, me levantei e o peguei em meu colo novamente, ele apagou e eu me aproximei de Caitlyn. -Vamos achar o Ekko, se é que ainda está aqui, ou vivo.

  Ela confirmou e encarou o menino em meus braços, um leve suspiro veio de seus lábios e ela começou a caminhar, eu apenas a segui, aquela cena só me lembrava o passado, tudo destruído, pessoas mortas, o cheiro do sangue e do chumbo no ar.

Caitlyn apontou para Ekko, ele estava amarrado em uma árvore, apagado, eu suspirei fundo e entreguei o menino para ela, Caitlyn o segurou e eu me aproximei dele, conferi se ainda estava vivo, e me senti aliviada ao perceber que sim.

-Vamos, pra casa.

Caitlyn confirmou ela colocou o menino no chão e deu um disparo na corrente a arrebentando, que correntinha mais vagabunda!

  Eu peguei Ekko em meus braços e ela permaneceu com o pequeno menino, levamos ambos para Piltover, foi uma caminhada exaustiva, mas ao chegar em minha casa deitei Ekko devagar em um sofá, enquanto Caitlyn fez o mesmo com o garoto, eu ascendi a lareira e tranquei a porta fechando as cortinas, me sentei perto do corpo de Ekko e segurei sua mão, por que isso? Por que agora?

-Você tem algum kit de primeiro socorros?

  Eu toquei a testa na mão dele fechando meus olhos e confirmei, apontei para a gaveta na estante da sala, ela confirmou e eu ouvi ela abrir e fechar a gaveta, eu abri meus olhos ao sentir o cheiro de álcool entrar em meu nariz, encarei sua imagem, ela estava cuidando do menino, eu sorri curto, havia algo bom no meio de tanta coisa ruim, eu acho que Caitlyn é como aquele farol de luz, uma alma boa, em um mundo sucumbindo para a escuridão, e eu? Eu sou parte dessa escuridão.

  Ela terminou e se levantou vindo até Ekko, eu me aproximei do fogo da lareira me sentando, e após um longo tempo ela veio a mim, se sentou ao meu lado e eu não retirei meus olhos do fogo.

-Havia algum defensor com eles. -Eu falei baixo e ela suspirou, encarou o menino desacordado sobre o sofá, ela se deu por vencida enfim dizendo algo sobre isso:

-Acho que pode ser...Tremello.

-Talvez.

  Eu encarei ela e a mesma suspirou, era como se os momentos calmos carregassem alguma espécie de peso, ou eu ainda não havia me adaptado a esse tipo de coisa, eu me levantei e estendi minha mão para ela, a mesma franziu o cenho sem compreender e eu apenas continuei...Vencida por minha persistência ela pegou minha mão e eu a puxei a abraçando, Caitlyn não relutou, ela apenas me abraçou correndo seus dedos entre meus cabelos, eu me sentia bem, e pela primeira vez em anos eu senti a calma de alguém me preencher, estranhamente meu coração disparou e eu posso jurar que ela sente as batidas descompassadas, eu não sou boa em fingir, então eu apenas suspirei, ela falou baixo:

-Você se sente bem assim?

-Eu... -Me afastei lentamente e a encarei, tão perto de mim, quanto eu desejava que ela ficasse, eu sorri fraco. -Me sinto bem.

-Fiquei com medo, achei que você, morreria.

  Eu entreabri meus lábios, eu esperava que fosse algo preocupante, mas não medo, seus olhos se desviaram e ela me soltou se afastando, era quase como se quisesse evitar qualquer contato afundo comigo.

-Eu, deixo você desconfortável?

  Ela negou com a cabeça e eu me aproximei novamente, segurei seu rosto o guiando para que ela olhasse para mim, seus olhos deslizaram por meus lábios e eu sorri ladino:

-Deixo? -Repeti a pergunta e ela negou, eu neguei com a cabeça, eu aproximei meu rosto um pouco -Fala...

  A garota suspirou a pele de meu nariz correu sobre o dela, antes que eu me afastasse voltando a uma proximidade mais tranquila, um vacilo em sua respiração veio, ela pareceu um pouco sem jeito com o tom baixo, aveludado porém um pouco autoritário, seus olhos quase se fecharam, eu não sou boa com pedidos, mas alguma coisa nessa mulher me torna mais leve, tô afim de descobrir o porquê.

-Não, você não me deixa desconfortável, só um pouco...

-Vi?  -Eu arregalei meus olhos ao ouvir Ekko tossir falando meu nome com um pouco de dificuldade, corri até o mesmo me ajoelhando ao seu lado, eu o encarei e Caitlyn se aproximou e o encarou, ela se sentou na beira do sofá o olhando.

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