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   Desde nova sou muito competitiva e bem seletiva, quase nunca perdia e quando isso acontecia, eu só sabia descontar em mim mesma, ou nos exercícios ou na dor física. Nunca fui muito boa de lidar com sentimentos. Ou eu não lido e só ignoro, ou eu tento lidar e acabo machucando ambos de maneiras horríveis. Por esse motivo nunca fui muito amorosamente sociável, e nem nunca havia pensado nisso. Quando você nasce em uma família pobre, quase sem comida na mesa, apenas com o almoço e o lanche da tarde, você aprende a ser forte e esquece do que mais precisa, os sentimentos. Meu pai e minha mãe sempre estiveram fora de casa a procura de emprego, mamãe trabalhava como cozinheira de uma escola do ensino médio e era sempre humilhada pelos alunos, já até jogaram um prato de comida nela. Papai era gari, algo nada muito bem visto nas escolas. Sempre fomos uma família humilhada, por assim se dizer.

Aprendi cedo demais o que era sair na rua vendendo balinha e correndo de homens nojentos. Ir a escola era um privilégio pra mim, mas era difícil, as vezes. Como eu disse, só havia o almoço e o lanche, mas o lanche era da escola e o almoço era o que mamãe trazia das sobras da escola. O que eu mais desejava naquela época era sair daquela vida, todos pensam isso, todos querem isso, todos anseiam por isso, mas alguns não tem a bela sorte.

Tinha um saco de pancadas no quintal de casa, estava todo rasgado, mas um dia o costurei escondido de mamãe. Bom, tive que tirar a linha de uma das minhas blusas para poder costurar. Depois daquele dia eu nunca mais parei de me exercitar e lutar, socar, me defender. Eu só tinha uma amiga que encontrei quebrando meus lápis de cor dentro da sala. O ódio que aquela cena me proporcionou não foi normal, não mesmo. Fazia bastante tempo que eu estava "treinando" com o saco de pancadas, então os meus braços estavam bem fortes. Eu era tratada como menino naquela escola. Os meninos me chamavam de mulher macho, o que era para ser uma ofensa, virou algo positivo para mim. Porra, eu era uma mulher que parecia um homem e que conseguiria pegar mais mulher que os próprios homens! Isso era o máximo pra mim.

Bom...naquele dia todos passaram a ter medo de mim. Pulei em cima da minha amiga e depositei vários socos em seu rosto, como um animal cego pela raiva. Sorte que um dos professores chegou rápido, pois já não se conseguia ver o rosto dela, apenas o sangue e um corpo desacordado. Nunca me arrependi por aquilo, pelo contrário, aquilo me deixou mais animada com tudo. Fui expulsa da escola e espancada por papai e mamãe ao chegar em casa. Na época eu já tinha uns 15 anos, por ai. Tive sorte que já havíamos feito o 4°bimestre e eu já poderia passar para o ensino médio.

Adivinha para onde fui estudar? Sim, na mesma escola que mamãe. No primeiro dia de aula todos vinheram falar comigo, as meninas se engraçavam pra mim e os meninos me tratavam como uma amiga colorida. Mas...quando descobriram de quem eu era filha tudo mudou, o comportamento mudou, os olhares mudaram, tudo. Aquilo não me deixou triste, pelo contrário, me deixou muito feliz.

Eles começaram a humilhar mamãe na minha frente. Aturei aquilo por meses, pois mamãe Implorou para mim várias vezes, mas quando jogaram sopa quente em seu rosto e ela teve que ser afastada por queimadura de terceiro grau, eu não me contive. Bati tanto no grupinho que a humilhava que cada um ficou a um fil da morte. Eu teria matado, bom, eu não sei se alguém morreu, pois mamãe e papai me mandaram embora quando cheguei em casa com a roupa e mãos tudo cheio de sangue.

Me mandaram embora sem nada, apenas a dignidade intacta. Choveu naquele dia, o que agradeci já que tirou todo o sangue do meu corpo. Naquela época, um alguém me ajudou, esse alguém é muito especial pra mim, muito mesmo, mas é alguém que desejo nunca mais encontrar.

Como percebe-se, eu nunca tive tempo para conseguir lidar com sentimentos amorosos. Nunca recebi amor dos meus pais, nunca me interessei por alguém, pois tudo era por interesse próprio, por ganancia própria. Todos só queriam sexo. Aquele sexo que todo adolescente almeja ter, almeja esfregar na cara dos colegas. Sempre que algo ruim acontecia, sempre que coisas tristes aconteciam, eu socava meu saco de pancadas sem parar, até perder todo meu fôlego e meus punhos ficarem em carne viva. Era horrível cuidar deles depois.

MY BABYS [BTS] ~+18Where stories live. Discover now