Capítulo Final - A Viagem

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A última vez que o vi foi no lançamento de meu primeiro Best Zeller, quando ganhei o mais importante prêmio literário do país. Como fiquei sozinho e sem direção, pois perdi completamente o desejo pelas mulheres. Passei um bom tempo em companhia da solidão, até que conheci Eduardo, minha pior desgraça. Eu acreditei ter encontrado minha alma gêmea, o cara com quem iria ser feliz para sempre.

Me entreguei a ele dos pés à cabeça. Porém, mais tarde descobri que sua aparição na minha vida foi um castigo. Acho que por ter vivido nesse mundo praticando as coisas mais imorais e vergonhosas que se possa imaginar, o homem lá em cima encurtou meu tempo de vida e ordenou ao Diabo para que viesse me punir. Minha nova paixão foi um cara que apesar de sua extrema beleza trazia no seu sangue um veneno mortal para encomendar minha alma direto para o inferno.

Mas isso explicarei no capítulo seguinte. Quando nascemos, crescemos e permanecemos nas trevas espirituais e morais pouco compreendemos sobre a importância e a necessidade de andar na luz, nos sentimos bem na escuridão. Entretanto, chega um dia em que o poder divino decide colocar fim nas nossas ações maléficas neste mundo e envia um justiceiro para nos punir.

Aconteceu assim comigo durante minha caminhada cega pelo universo da prostituição e da imoralidade, completamente perdido meio as trevas de meus atos insanos. Sem querer parar e concertar minhas ações que destruíam meu caráter moral e envergonhavam meu criador que um dia escolheu me fazer sua imagem e semelhança, a solução do eterno foi lançar sobre meu corpo já totalmente contaminado pelo pecado um mal para reduzi-lo ao pó e a cinza.

Durante minhas práticas imorais conheci um novo parceiro cuja beleza era quase que perfeita, satanás se encarnou em forma humana e surgiu à minha frente no intuito de lançar no meu sangue a praga que me mataria aos poucos, definhando minha carne lentamente. Porém, dando-me tempo de avaliar minhas atitudes infames e reconhecer que minha existência aqui foi em vão.

Nos conhecemos numa boate numa das várias noitadas de embriaguez e sacanagem que proporcionei a minha alma. Acorrentada pela infame orgia e luxúria na qual permaneci escravizado por longos anos, de repente nasceu uma grande amizade que como tantas outras acabou na cama.

Foi apenas uma vez e o bastante para que a morte se infiltrasse dentro de mim, expulsando a vida saldável que possuía. Uma semana depois passei a ter várias complicações, vivia gripado e uma intensa fraqueza me dominava logo que acordava pelas manhãs ao ponto de não conseguir levantar e ir ao trabalho.

Os resultados obtidos nos exames médicos foram os piores possíveis, ao avaliar meu prognóstico o médico me olhou com profunda compaixão e declarou que eu não teria mais que um ou dois meses de vida.

Me encontrava contaminado com o HIV e em estado terminal, era o fim da picada, estava morrendo. Eu nunca me casei nem gerei filhos com mulher alguma, porém, sabendo que todo ser humano precisa um dia de alguém que fique com seus bens e o legado que porventura tiver para deixar no final de sua caminhada neste mundo.

Adotei dois meninos que hoje são maiores de idade. Informá-los sobre aquela triste situação não foi tarefa fácil, porque apesar de nossos laços familiares não serem naturais, pelo menos o foram pela veracidade de nossa amizade uns pelos outros. Tive sorte de poder contar com a gratidão de ambos e são eles que cuidam de mim agora.

Devido ao alto poder aquisitivo que possuímos e por causa da nova droga que foi criada pela medicina, afim de prolongar a sobrevida dos aidéticos, permaneço vivo, mesmo que meu médico tivesse antes me dado apenas algumas semanas. Sei que isso ocorre não é nem tanto pelo soro que essa enfermeira carniceira tem aplicado em minhas veias, mas pela misericórdia divina.

Memórias de um sádicoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora