0.14 Apenas ele e mais ninguém.

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0.14 Apenas ele e mais ninguém. (att: gatilhos!!)




Em certos momentos, a escuridão consegue se tornar bela. São momentos raros, incomuns e quase inexistentes, mas ela está lá, te dando uma segurança de que você irá acordar bem, sem precisar buscar pelo conforto do estado inconsciente e fugir de seus problemas.

Porque, quando você adormece sabendo que quando despertar tudo estará bem e seu porto seguro estará ao seu lado, a escuridão da inconsciência já não te amedronta mais. Seus maiores protetores estão ao seu lado, cuidando de você, te dando a proteção que precisa enquanto se encontra em um momento vulnerável.

Eu sempre repudiei a ideia de desperdiçar tempo dormindo. Isso não apenas ao medo de não acordar mais ou de estar sozinho assim que abrir meus olhos, mas com ele ao meu lado, me dando o conforto e o aconchego que apenas seus braços me proporcionam, adormecer não se tornaria mais um problema no futuro.

Meu toque preferido, minha fragrância favorita, meu lugar preferido, minha risada preferida... tudo isto pertence à uma única pessoa no mundo inteiro. Ele, Park Sunghoon. Tudo dele, tudo sobre ele, apenas ele. E mais ninguém.

Ele respira fundo e me puxa com delicadeza para mais perto de seu corpo. Ele não sabe, mas estou acordado agora, mesmo com meu corpo frágil e cansado implorando por sono, me aproveito de cada centímetro de seu carinho em meu corpo. Mesmo pensando que estou adormecido, Sunghoon não para com as caricias. Descendo de minha nuca até minha cintura, em passeios leves e delicados.

No momento em que o suave toque sobe ao meu rosto, eu me arrepio por inteiro sentindo as feridas recentes queimarem. Sunghoon passa a mão pela minha mandíbula e acaricia com o polegar toda a extensão de meus lábios. Eu percebo que ele evita de tocar na ferida no canto superior e preciso evitar de sorrir com este detalhe.

Não consigo me segurar, lentamente abro os olhos sendo pego de surpresa pelo olhar carinho e suave de Sunghoon enquanto examina meu rosto. Desta vez, não consigo evitar de sorrir.

— Eu te acordei? — Sussurra ele com a mesma suavidade que seu toque e seu olhar transmite. Nego no mesmo momento, sentindo cada vez mais vontade de beija-lo de novo. — Fecha os olhos, você precisa de descanso.

— Não vou aproveitar o carinho se eu voltar a dormir.

— Claro que vai — Ele ri, humorado. — E quando acordar eu vou continuar fazendo.

Um formigamento me surge na nuca quando suas mãos acariciam suavemente a pele desnuda de minhas costas. Embora a maca da enfermaria não seja muito confortável para duas pessoas, Sunghoon consegue fazer com que seja o lugar perfeito para adormecer simplesmente por estar aqui comigo.

— Vai dar o horário de física — Ele bufa e me aperta para mais perto de seu peito. O corte na testa lateja, mas ele não precisa saber disso. — E você precisa de nota com ela.

— Você tá querendo arrumar desculpa pra voltar pro inferno da sala de aula e me abandonar — Ele diz me arrancando um risada boba. — Sinto muito em te avisar mas não está funcionando.

— A última coisa que eu quero agora é te largar, idiota.

— Então me faz um favor e para de tentar me mandar pra aula de física.

Embora minha preocupação com a nota de Sunghoon seja grande, não supera meu desejo de continuar ao seu lado em um conforto tão prazeroso. Eu nunca imaginaria que alguns machucados me levariam à uma situação tão confortável.

Depois de cuidar de cada um de minhas feridas, Sunghoon fez questão de ficar comigo na enfermaria. Segundo ele, eu precisaria descansar por mais tempo e para isso eu deveria receber uma dosagem considerável de carinho. Há quase uma hora nós nos deitamos juntos na maca, e, aproveitando do silêncio de uma enfermaria vazia, trocamos carícias e quem sabe alguns selinhos a mais.

Nem uma palavra a mais foi dita sobre nossa conversa anterior. Nada sobre a confissão repentina, nada sobre a aula de educação física, nada sobre nosso beijo. Simplesmente nos deitamos e aproveitamos da companhia um do outro, comigo, claro, vez ou outra arrepiando-me com seus toques calorosos e suaves.
Embora sinta uma obrigação de me aprofundar em nossa conversa, tentar entender a confissão repentina e esclarecer o que ele quis dizer com todas aquelas palavras... me incomodou pensar na possibilidade de sair de seus braços para uma conversa séria ocorrer. Apenas me imaginar saindo do calor de seu corpo me apavora, é como se meus pesadelos fossem a se tornar realidade, voltando há alguns minutos atrás onde ganhei estes machucado em meu corpo.

Por um momento me peguei em um desespero tão profundo que pensei em desistir. Desistir de tudo. Dos meus amigos, da minha vida na Coreia do Sul e de tudo o que construí aqui em apenas alguns meses. Há muito tempo não me machuco desta forma, não apenas fisicamente, mas emocionante também, onde me vi idealizando uma realidade onde nunca havia me apaixonado por Sunghoon e teria conseguido tê-lo abandonado assim que recebi as primeiras ameaças de Lucas e Yuri.

Por um segundo eu mandei tudo a merda, minha escola, meus amigos, e o garoto pelo qual me apaixonara, porém, assim como sua chegada, a despedida desta possibilidade foi-se embora com rapidez no momento em que seus lábios tocaram o meu. No primeiro toque minha mente se esvaziou. Todos esses pensamentos foram embora, tão rapidamente quanto vieram, e tão inúteis quanto pareceram quando nos beijarmos.

Palavra alguma no mundo seria capaz de descrever todos os sentimentos quando aconteceu. Uma chama dentro de mim ardia tão fortemente que pela primeira vez não tive medo de me queimar.

Em algum momento nós conversaríamos direito. Esclareceríamos os fatos e nos entenderíamos. Mas agora... agora não. Agora, eu só sinto a necessidade de aproveitar Sunghoon. Aproveitar seus carinhos, seus beijos que ainda não me acostumara. Parece um sonho, em um momento completamente triste a arrasado, segundos depois, vivendo um dos momentos mais marcantes da minha vida e uma experiência extremamente viciante.

Quem diria que os lábios de Sunghoon teriam um efeito tão gigantesco em mim.

— Ei — O sussurro chama minha atenção. Lentamente o olho nos olhos. — No que tá pensando?

— Meus pensamentos estão tão altos pra você perceber?

— Isso e também o fato de que estou pedindo pra te beijar de novo há  e você não me dar resposta alguma.

— M-Me beijar d-de novo? — Ele se prontifica em assentir. Rapidamente me recomponho. — Você já não tá me enchendo de selinhos?

— Não quero um selinho. Quero te beijar de verdade.

Minhas bochechas queimam como nunca arderam antes com tal declaração vinda de Sunghoon. A forma como seus olhos revezam entre meu olhar e meus lábios, a suavidade que sua mão aperta minha cintura e eu sinto a necessidade de espremer nossos corpos, tudo indicando o quanto a proposta era mais do que verdade e mais do que um desejo meu. É um desejo, uma ordem.

— Encaro seu silêncio como um “sim”?

Com um pequeno ato de coragem, levo minha mão até seu rosto e o deposito um selinho demorado em seus lábios, separando-me de si em alguns segundos depois.

Sem me dar chances de reagir, Sunghoon pressiona meu corpo ao seu e me beija de verdade, passando do massagear até as sensações quentes e úmidas. Ficamos assim até o momento em que algo nos atrapalha, algo que não deveria estar ali naquele momento, e eu falo sobre o celular de Sunghoon tocando magicamente minha música preferida de toque.

Se fosse uma música romântica seria a trilha sonora perfeita para o nosso beijo.

— Só um segundo — Se separando de mim, ele pega o celular e atende a ligação. Aproveito o momento para me deitar em seu peito novamente e escuto seus batimentos acelerados lentamente se acalmando. — Alô? — Era uma voz feminina do outro lado, muito familiar. — Ok, eu vou te esperar na secretaria. Até.

— Era sua mãe? — Ele assente, voltando a deixar o celular de lado e me abraçar pelos ombros. — O que ela queria?

— Que eu arrume minhas coisas, vou embora mais cedo hoje e ela tá frenética pra me buscar logo.

— Por que vai sair cedo?

— Psicóloga, hoje é aquele dia infernal da semana onde eu finjo que estou tendo alguma melhora pra eles saírem do meu pé.

— Não fala assim, você precisa desse tratamento. Sua psicóloga é ótima.

— “Ótima”? Onde? Você não tem diploma de psicologia e é milhares de vezes melhor que ela.

— Ela tem estudo e eu não, Sunghoon.

— De que adianta ter estudo e não saber cuidar de um paciente? Tava pensando nisso esses dias e cheguei à conclusão de que preciso parar com isso. Eu só perco tempo com essa coisa, e além do mais, eu não preciso dela quando tenho você do meu lado.

— Você precisa de terapia, Park Sunghoon — Ele ri quando aponto para sua cabeça. — Terapia, muita, muita terapia.

Nem consigo contar quantas vezes dei ênfase na palavra, só sei que perdi o sentido completamente quando uma frase dita por ele me atinge me desnorteando completamente.

— Você já é minha terapia.

Sorrindo bobo, ele se aproveita da minha confusão mental e encosta seu nariz no meu, rodeando aquela área com o próprio em um carinho gostoso. Filho da mãe, nem parece que me falou aquelas barbaridades na biblioteca alguns minutos atrás.

— Eu realmente preciso ir agora.

— Tá bom... — Não preciso dizer o quanto foi desconfortável sair de perto do calor de seu corpo, mas o desconforto não durou mais do que cinco segundos após nos levantarmos. Ele me abraçou pela cintura e quase me fez esquecer da dor nas costas pela queda na quadra. — Hm... calma...

— Também machucou as costas? Por que não me falou nada?

— Porque... não.

— Isso não é resposta — Antes que ele levantasse minha camisa e tivesse a visão das minhas costas, eu o guio até a saída da enfermaria. — Me deixa ver suas costas!

— Sua mãe tá vindo te buscar, não é? Vai se atrasar se continuar aqui — Ele desiste e entrelaça minha cintura, chegando seu rosto bem próximo ao meu beijando minha testa em seguida. — Escuta... quando você voltar e tiver algum tempo livre, vamos sair, eu quero conversar.

— Sobre o que?

— Sobre... isso tudo, sabe — Ele assente. Ignorando completamente tudo o que havia dito deitando seu queixo em meu ombro. — Eu tô falando sério... por favor, não esquece.

— Ok, vou te chamar assim que eu estiver livre. Mas afinal de contas, sobre o que exatamente você quer conversar? Imagino que seja sobre seus machucados.

— N-Não sobre isso, eu quero esclarecer as coisas sobre... sobre a sua confissão repentina e como a gente se sente de verdade.

A seriedade no seu olhar me arrepia, me faz ter medo de ter dito isto em um momento errado.

— Você quer que eu esclareça mais? Não acha que eu fui sincero?

— Não, não é isso... — Tento achar as palavras certas, mas nenhuma se quer sai da minha boca. — É só que foi tão repentino, eu não esperava isso depois de...

— Depois de tudo o que te disse na biblioteca, eu sei — Ele sorri sem graça fitando o chão, rolando os olhos por lá. — Tenho vergonha de te olhar nos olhos quando lembro disso. Você é a última pessoa no mundo que merecia ouvir aquelas coisas, sinto muito mesmo.

Um sentimento inexplicável surge dentro de mim.
Como ele conseguia ser duas pessoas completamente diferentes com tanta naturalidade? O Sunghoon da biblioteca não é o mesmo que eu converso agora.

— Tem muitas coisas sobre mim que me deixam confuso, muitos detalhes pequenos que fazem a diferença na minha personalidade e nos meus defeitos, mas eu te garanto, que tudo o que falei antes de te beijar, não se passa da mais pura verdade que eu já fui capaz de falar — Ele fala, tão tranquilamente como se não houvesse a tempestade dentro de si. — Existem algumas coisas que eu descobri sobre mim, algumas versões minhas são impulsivas e mentirosas mas eu te garanto que quem tá aqui e agora é Park Sunghoon e os verdadeiros sentimentos dele.

Ele me deixa perplexo, quase sem chão para me apoiar. Nunca ouvi tanta suavidade e certeza sendo proferida por ele.

— Você fala como se existisse vários clones seu. — Falo em forma de piada descontraidamente, Sunghoon ri sem graça e coça a nuca antes de falar algo que, na minha cabeça, sempre fez sentido. Mas, nunca foi tirado a prova.

— E realmente, porém eles estão todos em mim — Franzo a testa, confuso. — Minha psicóloga tá com umas teorias aí e eu... tô passando por uns testes nesses últimos dias. É muito complicado, mas, se eu sumir por um tempo não estranhe, ok? Vai ficar tudo bem.

— O que você quer diz...

— Minha mãe chegou, eu tô indo lá — Ele pega o celular em cima da maca, e beija meu rosto antes de dar os primeiros passos para fora da enfermaria. — Se cuida, Jake. Até outra hora.

E ele some, pela porta.

Ainda tentando compreender os recentes acontecimentos, encaro ao meu redor, a maca completamente desorganizada onde estávamos deitados, alguns pacotes de remédios recém abertos na lixeira, meu corpo ainda quente com os toques de Sunghoon, o corpo formigando pedindo por mais carinho, e por fim, meus lábios, desacreditados da benção recebida há pouco.

Nunca mais, minha vida será a mesma depois de hoje, depois de me viciar em Park Sunghoon e seus beijos doces e carinhosos.

Como Gelo, Sunghoon... (JAKEHOON)Where stories live. Discover now