Os Habitantes de um Mundo Adormecido

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Harry se achava recostado na cama, imerso em um lago de suor que lhe banhava o corpo, porém, sem a menor surpresa. Os pesadelos já haviam se transformado em uma triste rotina, e acordar às três da manhã tornara-se hábito igualmente indesejado.

A única diferença estava no fato de que ele não estava mais nos Dursley, mas sim na nobre e sombria residência do Largo Grimmauld. Tantos acontecimentos haviam se desenrolado num espaço de tempo tão curto.

Cedrico havia chegado, e esse acontecimento, em particular, foi um choque. Ver o amigo acordado e bem pareceu aliviar o peso de uma montanha que repousava sobre o peito de Harry. Naturalmente, ele atribuía a si mesmo a culpa por tudo, como é do seu feitio. Se tão somente fosse menos idiota, pensava, teria chegado à Taça Tribruxo por conta própria, e Cedrico não teria sofrido o que sofreu.

Harry havia enviado cartas ao Sr. Diggory antes de ser transferido para a sede da Ordem, mas o silêncio ensurdecedor que se seguiu foi suficiente para enlouquecê-lo durante todo o verão passado na casa de seus parentes. Além da angústia que o dominava sempre que pensava em Cedrico.

Sentia falta da paz que a mera presença do amigo proporcionava. Claro, Hermione e Rony faziam falta também, mas a sensação que Cedrico lhe causava era diferente, quase aguda, e Harry não compreendia o porquê.

Assim, ali estava ele, descendo furtivamente as escadas do número 12, na calada da noite, com o livro "Quadribol Através dos Tempos" em uma mão e envolto na segurança proporcionada pela capa de invisibilidade. Era como se aquela casa, já sombria e empoeirada durante o dia, ganhasse vida própria à noite.

Ao alcançar a sala, Harry parou abruptamente. Cedrico estava sentado em um sofá, com um livro aberto em seu colo. Seus olhos cinzentos estavam levemente avermelhados, e seus cabelos castanhos pareciam mais desgrenhados do que nunca. Cedrico o observava com um olhar tão penetrante que Harry se sentiu como uma presa na mira de um caçador, a um passo de ser capturado.

- Harry? Você está aí?- Cedrico sussurrou.

- Sim, estou- respondeu Harry, sua voz mal passando de um murmúrio. Cedrico sorriu de forma contida, como se um peso tivesse sido aliviado de seus ombros.

-Bem, geralmente não tenho o costume de conversar com coisas que não posso ver- disse Cedrico.

-Normalmente, esta sala é o meu lugar a esta hora da noite-, retrucou Harry, enquanto tirava a capa de invisibilidade.

-Ei- cumprimentou Cedrico.

-Oi- devolveu Harry.

Harry se sentou ao lado de Cedrico, examinando o livro em suas mãos. "Magia das Trevas na Execução de Feitiços Mentais: Uma Perspectiva Histórica", leu em voz alta, lançando um olhar interrogativo em direção a Cedrico.

- Eu pensei que, já que não consigo dormir, poderia fazer algo de útil- disse Cedrico, desviando momentaneamente o olhar antes de voltar a encarar Harry. - Mas já estou há uns cinco minutos na mesma página.

- Por que você não consegue dormir?- indagou Harry, preocupado.

Cedrico desviou o olhar para suas próprias mãos por um breve instante antes de fitar Harry com um sorriso forçado.

-Você não está cansado de ler este livro? Ele parece estar em pedaços- observou, evitando a pergunta de Harry.

-Você não quer falar sobre isso, não é?- Harry percebeu, compreendendo a hesitação de Cedrico. Ele próprio compartilhava da mesma aversão a falar sobre seus sentimentos, não querendo que as pessoas o vissem com preocupação, pena ou, pior ainda, com medo.

Cedrico balançou a cabeça e deixou escapar uma risada estrangulada.

- O problema é que eu realmente quero falar sobre isso, mas 'isso' é uma parede muito alta para se escalar, e, quando tento, parece que um punho aperta minha garganta.

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⏰ Last updated: Aug 28, 2023 ⏰

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