Capítulo 1 - Um lenço

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Beijar um completo estranho com certeza não fazia parte dos planos de Fernanda Dawson no dia em que o homem que amou por toda sua vida se casou. 

Na verdade, naquela tarde, enquanto descia as escadas sem qualquer vontade, só queria que tudo acabasse logo para poder se deitar em sua cama e chorar depois do que seria uma noite terrível.

- Vamos, filha? É hora de ir, temos que encontrar seu irmão na igreja - Lady Dawson a chamou, já na porta. 

Fernanda acenou positivamente e atravessou o hall em direção à Sophie, que estava elegante como uma condessa deve ser. Fernanda seguiu ouvindo o eco dos seu passos no ladrilho decorado, sentindo um pouco de pena de si mesma, que com seu vestido de debutante igualmente elegante, parecia o exato oposto da graça que uma condessa deve ter. Não que fosse se tornar uma algum dia, de qualquer forma.

A porta da frente da mansão dos Dawsons em Londres se abriu, trazendo uma rajada de vento da brisa de final de verão para o rosto de Fernanda, e ela pôde notar o leve aperto da mão de sua mãe que a guiava até a carruagem.

Fernanda sentia novamente como se fosse morrer. Começava com um engasgo na garganta, como se ela estivesse se fechando, além do frio na barriga que se tornava uma dor física, a qual a impelia a apertar a barriga com força. O peito era pressionado por um peso invisível, um sufoco que por vezes a impedia de respirar. Sua visão se tornava tão turva que pouco poderia falar sobre o percurso, ou sobre o que falavam. Era como se o ouvido fosse explodir. "Respira, respira, respira". A sua constante em todos os trajetos. 

Haviam dias e dias. E nesse, em especial, era o mais terrível do qual se lembrava nesta temporada, pois havia uma dor latejando em seu peito que neste momento, se intensificava, e nada tinha haver com o seu trauma. Ela balançou a cabeça torcendo para os pensamentos não virem à tona, o zumbido parecia piorar na medida em que a carruagem se locomovia. Esse seria o trajeto mais terrível e assim que parou na frente da igreja, sentiu alguém - sua mãe ou seu pai -, a guiar para fora. Inevitavelmente, Fernanda encarou a construção antiga diante de si, com a enorme cruz escurecendo entre a luz do dia nublado de final de outono. A igreja um tanto turva, mas conhecida o suficiente para ela saber entre seu desespero que chegou o momento. 

Ele iria se casar. Edgar iria se casar. Mas, diferente de tudo o que já sonhou, ela não seria a noiva hoje.

- Vamos? - O pai chamou, ao que pareciam metros de distância, quando eram apenas poucos centímetros. 

Ela seguiu andando e contando os passos, respirando devagar e fundo, sem cumprimentar quem quer que estivesse falando com eles agora. E então, estava sentada. Piscou algumas vezes, a pressão sumindo. Apertou as mãos uma na outra.

- A noiva chegou.

- Já? - Ela perguntou, virando-se para a sua mãe, que já se levantava. 

Ela seguiu os movimentos. Quantos minutos se passaram desde que entraram? Dez? Quinze? Uma hora? Não se deu conta, tudo era um borrão, mas agora, estava claro. Estavam na segunda fileira, no canto direito. Willian estava ao lado de sua mãe agora, nem sequer lembrava-se de o irmão já ter aparecido. 

Fernanda respirou fundo, e naquele momento, a marcha nupcial começou. Ela abaixou a cabeça e fechou os olhos. Quem notaria? A noiva seria o centro das atenções. O noivo que ela sequer teve coragem de encarar seria o centro das atenções. Não ela, a débil criatura que entrava em pânico toda vez que precisava sair para fora. Respirou, e notou o zumbido voltando. Respirou mais uma vez, as imagens que tentava apagar voltando a sua memória. 

Duas semanas antes

Era o final da temporada. Estavam na festa de aniversário do duque de Winstead, amigo da família, assim como mais da metade dos nobres da Inglaterra, incluindo o amor da vida de Fernanda e amigo de sua família, Edgar Collins. Como seu pai, o conde de Winbourgh, era íntimo do duque, a Grand Valley House era como uma segunda casa para Fernanda, e desta forma, pôde aproveitar o fim de semana e ter um pouco de diversão, já que poderia ficar dentro de casa o máximo possível, e quando saísse, seria para os jardins próximos que a ofereciam um pouco mais de segurança.

Apenas um beijoOnde histórias criam vida. Descubra agora