Capítulo 10 - Uma promessa

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- Quero cuidar dela, protegê-la, não deixarei que ninguém a machuque - Nicholas disse à Andrew, que o encarava da janela. 

Estavam no quarto, e Nicholas ainda não sabia ao certo como caiu. Era como se tudo fosse um borrão em sua mente, apenas se lembrava de sair para cavalgar e então... Lá estava ela, diante dele, ajudando-o a se levantar e subir para a estrada. O salvando. Era irônico, pois pouco tempo antes, tinha certeza que seria ele a salvá-la, cuidar de Fernanda. 

Andrew assentiu, em concordância com a afirmação de Nick. Não era bem essa a forma que ele imaginava conversar com o pai de Fernanda, mas considerando os últimos acontecimentos, e obviamente, a ligação entre os dois escancarada para todos que estavam em Grand Valley Hall, não havia muito o que fazer. Se havia alguma dúvida sobre a ligação entre eles, essa duvida se estirpara, e agora, teria que adiantar sua conversa com Lorde Winbourgh, o que não era ruim de um todo. Só não seria da forma que imaginara, já que ele ainda estava deitado. Tentou se levantar e até deu alguns passos, mas a tontura insistia em continuar. Seria assim por alguns dias, dissera o médico. Ele bateu a nuca, e perdeu uma quantidade de sangue exorbitante. Por sorte, não estava morto, ou com a queda, ou com o afogamento eminente, se Fernanda não tivesse chegado a tempo.

- Fico satisfeito com sua resposta, mas espero que entenda. Talvez ela melhore. Talvez, não. Não quero que crie uma expectativa que não possa ser correspondida.

- Eu entendo o que estar com Fernanda significa. Compreendo a sua situação e darei a ela todo o tempo e apoio que ela precisar.

- Vejo que já pensou a respeito.

- Sim, eu pensei.

Ele assentiu, e suspirou.

- Cuidou de Celina todos estes anos, mesmo ela sendo filha de uma criada da família. Isso já me diz muito sobre o seu caráter. Confio em você. Não me decepcione, Lorde Highmore.

Ele assentiu.

- Obrigado, não o farei.

- Ótimo, falarei com Fernanda sobre isso. Diante de toda a situação, entende que não poderão adiar o casamento por muito mais tempo, e quando se sentir melhor, conversamos sobre os preparativos.

Ele assentiu e pensou a respeito durante a tarde. As coisas mudaram em uma velocidade surpreendente, e mesmo que seu plano fosse se casar essa temporada, ainda não acreditava em como tudo se encaixou tão bem. Adiantar a cerimônia seria o mais prudente. Não que fosse querer adiar o casamento até o final da temporada, nenhum dos dois iria querer isso depois do que houve.  

Conversaram sobre isso na noite em que ele acordou, após o acidente, e ela estava lá com ele. Na noite anterior, Nicholas tentou abrir os olhos, sentindo o forte latejar atrás da cabeça. Gemeu.

- Ei, está tudo bem? - Ouviu, ao que abriu os olhos. 

E ali estava ela, o encarando, os olhos inchados, o cabelo desgrenhado, olheiras profundas que eram visíveis mesmo na escuridão da penumbra das velas. Era a criatura mais linda do mundo.

- Por quanto tempo eu dormi?

Ela sorriu.

- Já jantamos. Mas vou pedir sua comida.

Ela se levantou, e puxou a sineta. Logo foi até a porta, e abriu, aguardando. Falou com alguém e fechou a porta, voltando ao seu lugar. Estava em uma cadeira ao lado da cama.

- Por que está aqui? - Ele perguntou, percebendo a situação totalmente imprópria. 

Era difícil imaginar o conde aprovando aquilo. Mas ela deu de ombros, como se aquilo não fosse nada.

- Meu pai cansou de tentar impedir, e quando eu disse que ficaria do lado de fora da porta, eles finalmente cederam.

Ele riu, e balançou a cabeça.

- Ai - ele gemeu.

- Dá para parar de se mexer? - Ela pediu, arrumando os travesseiros para que ele se levantasse. 

Aspirou seu cheiro e suspirou, erguendo uma das mãos até tocar no rosto dele. Ela parou e olhou nos olhos dele.

- O que pensa que está fazendo? 

- Obrigado - ele sussurrou.

Ela sorriu.

- Isso vai custar caro, muito caro - ela riu, maliciosamente.

Ele ergueu uma das sobrancelhas.

- Sabe que é um momento bem complicado para se aproveitar de mim, não é?

- É perfeito, na verdade - ela disse, se aproximando, e depositando um beijo nos lábios dele, o qual não durou muito, já que ouviram a porta se abrir. 

Ela se sentou rapidamente, corada.

A criada não pareceu perceber nada, ou não fez a expressão de quem tenha percebido, mas permaneceu no quarto enquanto ele comia obedientemente. Fernanda o incentivou a comer tudo, mas não precisaria tanto incentivo já que estava morrendo de fome.

- Que hora são?

- Acho que duas da manhã - ela comentou.

- Argh, eu dormi muito mesmo - ele disse, entregando o prato -, obrigado - disse à moça que assentiu e saiu, deixando-os sozinhos novamente.

- Sobre ontem...

- Ssh - ela fez.

- Não podemos ignorar o que aconteceu.

- Eu sei, mas não hoje - ela pediu.

Ele balançou a cabeça.

- Não posso viver mais um dia sequer sem saber o que você vai me dizer.

Ela colocou os cotovelos sobre a cama, o encarando. 

- E então? - Ele pediu. 

Fernanda ergueu uma das mãos, colocando no rosto dele. Ela ficou olhando para ele, os olhos inescrutáveis.

- Vai ficar ao meu lado me olhando ou...

Ela se aproximou-o, e depositou um beijo nos lábios de Nicholas, que retribuiu. Foi terno, lento e esplêndido. Quando se afastou, ela tinha lágrimas nos olhos.

- Não sabe como eu senti medo hoje, um medo tão, tão profundo, de te perder - ela sussurrou, depois riu -, eu te amo, Nicholas Thomas Atwood, e prometo fazer cada minuto da sua escolha valer a pena. E não sair do seu lado nunca mais.

Nicholas suspirou, segurando as mãos dela.

- É uma promessa? Sabe que depois disso, termos que nos casar um pouco mais rápido, ainda mais considerando que a senhorita está nos meus aposentos, um pobre lorde indefeso.

Ela revirou os olhos, e assentiu, apertando as mãos dele entre as suas. 

- Prometo o mesmo a você, Lady Fernanda Dawson - ele sussurrou, antes de unirem os lábios mais uma vez. - Mais um beijo, e mais um, e para sempre, eu prometo - sussurrou ele.


Apenas um beijoWhere stories live. Discover now