Capítulo 9 - Uma tempestade

130 27 3
                                    

Fernanda viu os primeiros raios de luz entrando pelas cortinas, e foi até elas, mas sem abri-las. Sentou-se na cadeira diante da claridade, e suspirou, apoiando as mãos no queixo. Mal pregou os olhos, não se despediu do irmão e de Celina, não queria sair desse quarto e encará-lo. Era uma covarde. "É mais forte do que qualquer um aqui", pensou. 

Levantou-se. Não sabia o que era mais doloroso, saber que ele a ajudou a ficar melhor e ela precisava deixá-lo ir, ou pensar no que poderia ter sido e não foi. Mas pensou, sonhou, e pensou, e chorou, e ali estava, com medo de sair do quarto. Chamou uma criada para ajudá-la a se trocar, e saiu, caminhando pelo corredor da casa tão silenciosa. Parou diante do quadro de Julia, o sinal do amor de Phillip pela amada. Eles não tiveram um final feliz, ela teve que fugir para salvar Celina. Mas Phillip não desistiu de encontrar a filha. 

- Linda, não é? - Ela ouviu, e deu um pulo. 

Eliana se aproximava, a barriga sobressaindo-se um pouco sob o vestido.

- Sua barriga já está aparecendo, ninguém notou quando chegou - ela apontou, sorrindo.

A outra sorriu, e ficou dolorosamente parecida com Nicholas naquele momento. Fernanda voltou-se para o quadro.

- Ah, já está, e os enjoos matinais também. Não consegui dormir muito bem - a outra disse.

- Nem eu - ela comentou, sem olhar a outra de fato.

Eliana estendeu um braço e tocou no colar de Julia.

- A Celina vivia para cima e para baixo com esse colar, eu sempre pedia e ela nunca me deixava usar - ela disse, e fez um beicinho.

Fernanda não pôde deixar de rir, que coisa a se lembrar nesse momento.

- Eu a amo, sabe, sempre amei, e confesso que foi um pouco difícil para mim aceitar que ela não confiava em mim, me sentia... Incapaz de conquistar a confiança dela. Ela sempre era a melhor em tudo, pelo menos era assim que eu via - ela comentou.

- Ela não contar a situação dela não significava que ela não confiava em você - Fernanda disse.

- Eu sei, hoje eu sei, mas por muito tempo não consegui enxergar assim. Até que surgiu Edgar. É incrível o que o amor pode fazer por nós, e é muito bom ver que você está descobrindo isso também, assim como meu irmão - ela disse, encarando Fernanda. 

Ela sentiu as lágrimas brotando nos olhos.

- Tenho certeza de que está fazendo mais por mim do que para ele. E tenho medo, sabe.

Eliana riu.

- Está brincando, não é? Nunca vi o Nicholas tão feliz. 

- Não pode estar falando sério...

- É verdade. Nunca, em todos esses anos. Ele sempre era o mais sério, e ranzinza, principalmente comigo. Não que eu não tenha merecido - ela disse, rindo.

- Mas e se ele olhar para trás e perceber que eu... Eu não fui a escolha certa. De que sou um fardo.

- Ah, para com isso, não se coloque nessa posição. Ele escolheu você, e você a ele, seus corações se completam. Olha, eu vi o modo como olhou para mim e Edgar naquele dia, isso martelou em minha mente por muito tempo. Eu não quis perguntar, e nunca irei. Sei que já passou. Quero que fique bem, e vi que está bem... E naquele dia na trilha, tudo ficou claro. O amor de vocês, claro como o sol - ela estendeu a mão, e tocou o braço de Fernanda, que a encarou novamente.

- Acha mesmo isso? - Ela perguntou.

- Sei que as vezes o caminho dói, mas era para ser Nicholas na sua vida, e você na dele. Não negue a ele o amor que ele merece, quando só quem pode dar é você.

Apenas um beijoOnde histórias criam vida. Descubra agora