Capítulo 4 - Um anúncio

92 19 0
                                    

Ah, não! Foi a única coisa que Fernanda conseguiu pensar. Celina continuava as apresentações, totalmente alheia ao momento mais constrangedor que acontecia bem debaixo de seu nariz.

- Nicholas, esta é Lady Fernanda Dawson, minha cunhada. Fernanda, minha tia você já conhece, Senhora Molly Atwood, e meu primo, Nicholas Atwood, conde de Highmore. Mas claro, não precisamos desta formalidade toda agora que somos família, não é? - Celina dizia, mas tudo o que Fernanda podia fazer era encarar Highmore, que pigarreou e olhou de Celina para Fernanda freneticamente algumas vezes, corando um pouco.

Fernanda, todavia, tinha certeza que parecia um pimentão neste memento. Foi ainda pior do que cumprimentar os Collins. Centenas, milhares de vezes pior. Ela sentia que havia engolido um sapo. 

- Lady Fernanda - ele estendeu a mão, e meio desajeitada, ela ergueu a sua.

Ele levou a mão dela aos lábios, sem encostar de fato, ao mesmo tempo que ela fez uma mesura, balançando a cabeça.

- Milorde - ela cumprimentou, a voz mais fina do que ela pretendia.

Voltou a erguer os olhos e puxou a mão, se virando para a senhora que sorria para ela, uma sobrancelha arqueada, provavelmente interpretando a reação dela como algo diferente.

- Milady - ela fez uma mesura.

- Ah, como você está linda! - Molly sorria, ao que Fernanda correspondeu.

- Ela está, e devo contar que Fernanda também é uma excelente musicista - Celina completou.

- Ah, podemos tocar um dueto, minha querida - Molly disse, apontando o piano.

Pensou em recusar, pois sabia que teria que ficar sob o olhar de Highmore enquanto tocava, mas pensou que seria indelicado dizer que não, já que a senhora parecia tão animada. Só iria piorar a situação.

- Claro - ela respondeu, ainda com a voz estranha, se sentando ao lado da senhora que agora se acomodava novamente.

- Está perdida, senhorita, minha mãe não a deixará sair deste piano mais - Highmore disse, se acomodando novamente sobre o piano.

Como ele podia parecer tão calmo? Era inacreditável! 

- Não seja bobo, garoto - Molly disse, e Fernanda arriscou erguer o olhar.

Foi um erro terrível.

Ele a encarava, os olhos azuis penetrantes e intensos, e quando seus olhares se encontraram... Ele sorriu e piscou rapidamente para ela, fazendo seu coração descompensar. Ele estava terrivelmente lindo! Ainda mais do que ela se lembrava, ainda mais com o ambiente iluminado, diferente daquela noite na biblioteca, na qual ela apenas o enxergava sob a luz da lua que vinha da noite. Ela voltou a olhar as teclas, tentando extinguir as lembranças que jorravam em sua mente naquele momento. Não era sadio pensar naquilo agora, enquanto se preparava para tocar, e Fernanda certa de que não estava com sua cor normal já que sentia a face arder e até mesmo um pouco de calor. Molly parecia encantada em tocar um dueto, ela conhecia bem o piano e logo escolheu a canção que tocariam. Quando, em um milhão de anos, sonharia que o desconhecido que beijou na biblioteca dos Collins seria o irmão de Eliana? A mulher que roubou seu primeiro amor. E primo de sua cunhada, ainda por cima! Aquilo não poderia ficar pior!

Quando os dedos dela tocaram as teclas, ela voltou sua concentração para a música o máximo que pôde, tentando ignorar o olhar que queimava sobre si. Alguns minutos se passaram antes que terminassem de tocar, e algumas palmas soaram pela sala. Ela sorriu, corando novamente. O jantar foi anunciado, e ela levantou-se rapidamente, se despedindo de Molly e voltando-se para Lorde Highmore, que sorria para ela com um olhar enigmático. Ela fez uma mesura e virou-se de costas, rumo à seus pais. Mas eles já estavam se aproximando.

Apenas um beijoWhere stories live. Discover now