CAPÍTULO 09

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     Não demorou muito pra eu ficar um pouco mais confortável perto dele, porque John é engraçado e tranquilo, mas foi inevitável ainda ficar nervoso com a aproximação. Depois de comer, ele me ajudou a lavar todas as tigelas que eu sujei para preparar a comida, e confessou que quase não usa a cozinha e que geralmente come fora, em alguma lanchonete por aí.

      Um silêncio tranquilo recai sobre nós quando terminamos, então eu peço meio sem jeito para ele ir me deixar em casa, porque tenho algumas coisas para resolver. Parte de mim quer apenas que a questão dos desenhos e da minha quedinha por ele não venha à tona. Gosto de pensar que ele não desconfia de nada, mas sei que Hunter não é tão lerdo assim.

      Depois de esperar menos do que dois minutos sentado no seu sofá, ele aparece novamente na sala, vestindo uma camisa e com sapatos brancos dessa vez, mas ainda com a calça de moletom. Meu olhar recai sobre o volume do lado direito da sua perna (e não é o seu pau, porque esse está para a esquerda, e parece ser enorme, por sinal).

     — E-encontrou seu celular? — Levanto e enfio as mãos nos bolsos da calça, meio sem jeito.

      — Estava no bolso do casaco que estava vestindo ontem. — Hunter dá de ombros, então seguimos em silêncio até a porta da sua casa.

        O dia está ensolarado do lado de fora, mas uma brisa fresca faz com que esteja um pouco frio, apesar das poucas nuvens presentes no céu azul. Consigo sentir as mechas do meu cabelo balançando por causa do vento, e preciso fechar os meus olhos quase que por completo pra poder olhar pra cima.

      — Você enxerga direito? — John-Hunter pergunta ao me ver franzindo os olhos.

      — Sim. — Dou de ombros e observo-o abrir o portão da garagem. Sei que a maioria das pessoas com albinismo também apresenta algum grau de cegueira, mas no meu caso só tenho um pouco de sensibilidade por causa dos olhos super claros.

      — Desculpa a pergunta, é que você é tão...

      —  Pálido? — Solto uma risadinha bem-humorada ao ver a sua cara meio espantada, provavelmente achando que me ofendeu ou algo assim.

      — D-desculpa, eu...

      — Tudo bem, John. — Reviro os olhos, mostrando que estou de boa. Ele solta um pequeno suspiro e entra no carro, balançando a cabeça levemente pros lados enquanto faz isso.

        Eu entro no carro também, e assim que John dá ré para sair da garagem, o portão começa a fechar automaticamente.

      — onde você mora? — Ele me pergunta enquanto dirige com apenas uma das mãos, e usa a outra para conectar o Spotify do celular no som do carro. Tento a todo custo não olhar para a sua virilha, que está marcando pra caralho depois que ele sentou, então forço-me a continuar olhando para frente e encarar a estrada pouco movimentada a nossa frente.

      — No dormitório ao lado do Campus. — Explico, então ele confirma levemente com a cabeça, mas continua me encarando com sua visão periférica, e só isso é o suficiente para minha pulsação aumentar. Um Rock pesado, mas altamente viciante, começa a ecoar pelo carro.

     — Você estuda o que, Dean?

     — G-gastronomia. E você? — Gaguejo. Ele falando o meu nome de forma tão compassada me deixa um pouco maluco.

      — Isso explica a comida sensacional. Eu faço contabilidade. — John responde, fazendo as minhas bochechas corarem devido ao elogio.

       Porra. Preciso me controlar, ou então vou passar mais vergonha do que já passei, e olha que sequer me recuperei do fiasco na biblioteca. Agradeço internamente por ele está ignorando o assunto, ou talvez o assunto seja tão banal para ele que Hunter sequer se dá ao trabalho de lembrar.

       Talvez ele tenha tantas pessoas apaixonadas por ele que nem se importe em lembrar de todas...

      — Hey. Cê tá bem? — A voz levemente rouca de John faz eu olhar rapidamente por cima do ombro, encontrando-o com um olhar um pouco preocupado.

     — T-tô sim.

      — Você ficou triste e meio pensativo do nada. — Ele explica, abaixando um pouco do volume da música.

      — Desculpa. Acho que viajei um pouco. — Esboço um pequeno sorriso, e fico feliz pra caramba quando ele sorri de volta, fazendo aquelas covinhas profundas aparecerem nas suas bochechas.

       Pelo pouco tempo que convivi com Hunter, sei que ele não é do tipo que sairia pisando nos sentimentos dos outros ou tiraria proveito disso. Além disso, ele provavelmente está ignorando o assunto para não me magoar, e eu agradeço imensamente por isso.

        De carro, não demora mais do que uns 15 minutos até chegarmos no meu condomínio, e mesmo daqui é possível ver os enormes prédios do campus, que ficam apenas a uns duzentos metros de distância. John estaciona ao lado da calçada e desliga o carro, e eu fico alternando o olhar entre o seu rosto e a entrada do prédio, como um bocó.

      — B-bom... Obrigado pela carona. — retiro o cinto de segurança e tento abrir a porta do carro, mas ela está travada.

       — Eu que agradeço pela ajuda, Dean. Cadê o seu celular? — Ele diz, abrindo um sorriso bonito. Sem conseguir me conter, dou uma bela checada na sua mala, que continua marcando pra caramba na calça de moletom.

       — E-está descarregado, lembra?

      — Ah, certo. Então coloque o seu número aqui no meu. — Hunter estende o próprio celular para mim, e eu forço-me a lembrar da sequência de números e não tremer enquanto digito, mesmo que meus neurônios estejam praticamente se suicidando.

        Ele só destrava a porta depois de eu entregar o celular para ele de volta, então eu saio do carro, sentindo as minhas pernas bambas.

       —  A gente se ver por aí, Dean. — Ele diz, mordendo o lábio inferior, antes de fechar o vidro do carro e começar a dirigir pela rua novamente, me deixando aqui parado completamente atônito.

        É coisa da minha cabeça ou isso foi um... Flerte?

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         Assim que abro a porta do meu apartamento, meu olhar vai diretamente para o sofá, onde Sean está esparramado, ainda com a mesma roupa de ontem. Ele levanta rapidamente assim que me vê.

     — O que você...

      — VOCÊ DEU PRO NEGÃO NÃO É?! ESTÁ MAIS CORADO DO QUE TUDO!! CONTA TUDO PRO SEU IRMÃOZINHO AQUI!! — Ele me interrompe, gritando tão alto que metade do prédio deve ter escutado.

      — O-o que? não!! — outra onda súbita de vergonha passa por mim, e eu preciso esconder o rosto com as duas mãos, como se isso fosse impedir meu rosto queimar de tanto vexame.

      — Qual é, não precisa esconder nada de mim. — Sean vem até mim e agarra o meu braço, antes de começar a me puxar até o sofá. — Senta aqui e conta tudo, maninho.

      — Eu te odeio. — Rosno, empurrando-o com força. Mas o desgraçado apenas senta no sofá e cruza as pernas.

      — Nah. Você me ama. Agora conta tudo.

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MEU CRUSH SECRETO (COMPLETO)Onde histórias criam vida. Descubra agora