Dividida

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Este é um capítulo até mais curto, mas temos informações importantes por aqui.

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Valentim Borba tinha mais um dia de trabalho que era bastante cansativo — acompanhar apresentação de trabalhos na faculdade de direito e fazer as avaliações após cada uma não era algo que ele gostava, particularmente; em especial porque ele não apreciava muito aquele método de avaliação — ou mesmo o modelo de apresentação de trabalhos.

Era sempre leitura de textos e artigos mais interpretação das temáticas. Ele gostava de casos simulados, repensar casos famosos, colocar a cabeça dos alunos para funcionar a partir da realidade.

Todavia, Valentim era apenas um professor, não o dono da faculdade. "Impossível ser dono de uma faculdade pública, a propósito..."

Já arrumado para o trabalho — camisa e calça sociais na cor azul marinho, além de um pulôver em tom de verde-musgo e sapatos italianos marrons bem lustrados — ele caminhou até a sala e percebeu a mesa vazia.

Era sempre o primeiro a acordar, e como Ralf tinha uma vida confusa com seus horários invertidos de homem da noite, muitas vezes Valentim tomava café sozinho.

Não tão sozinho, já que assim que sentou e deixou a bengala ao lado de sua cadeira, a aparição de Sarah com a bandeja de café fez com ele sorrisse de maneira discreta. Não queria assustá-la com algum excesso, ou sua necessidade cada vez mais constante de seduzi-la, fazê-la entender que seria em breve dele. Dos três.

Sarah vinha de uma realidade muito diferente e Valentim precisava ser cauteloso. Do trio, Ralf era o mais próximo dela — e era fácil para o produtor, sempre mais simpático e aberto. Ele era o menos traumatizado, fodido da cabeça. Valentim não era o maior fã de Stéfano, mas ambos tinham traumas familiares em comum.

Ao contrário do executivo, ele acabou se jogando nas drogas durante a adolescência para lidar com o abandono e a miséria.

⁃ Bom dia, Sarah.

⁃ Bom dia, Sr. Borba. — havia uma força na sua voz, o que animava Valentim, já que temia que nunca conseguisse tirar de Sarah o medo de conviver, estar ao lado deles. Se ela soubesse que o objetivo do trio era tê-la para sempre como a mulher deles...

Contudo, Valentim mal viu o rosto de Sarah em seu cumprimento. Ela olhava fixamente para a bandeja com o café e o açucareiro.

⁃ Aconteceu alguma coisa, Sarah?

⁃ Dormi... Um pouco mal, mas...

⁃ Está passando mal? Porque seu olhar está fixado na jarra de café.

Valentim se pretendia ser bem-humorado, e até conseguiu arrancar um ligeiro sorriso da cozinheira. Ele pôde ver, escondido; mas Sarah não ergueu o olhar em momento algum para fitá-lo.

Ela não queria: estava se forçando a desviar o olhar, focar seu interesse em qualquer coisa, menos em Valentim. A bengala, a voz dando ordens... Ele era um dos membros da "audiência" em sua noite quando se tocou intimamente... "Eu nem consigo dizer... Que me... Masturbei...", refletiu a jovem, a última palavra quase sussurrada na mente.

Só de pensar em encarar o professor, Sarah tremia de medo. Ela tinha certeza de que não apenas Valentim, como também Ralf e Stéfano perceberiam o que ela fez.

⁃ Se você está bem, erga o rosto e olhe pra mim.

Sarah engoliu em seco. Continuou fixada na jarra e no açucareiro, agora na mesa.

⁃ Com licença, vou deixar o senhor tomando...

⁃ Olhe pra mim, Sarah. — a ordem não dava espaço para rodeios.

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