Aulas extras

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- Hoje faremos um trabalho em grupo. – antes mesmo que os alunos celebrassem com urros e palmas, o docente os interrompeu. – Eu selecionarei os grupos. Será um trabalho que lhes dará ponto extra, mas principalmente, pode lhes dar uma dica fundamental sobre o tema da avaliação final da disciplina.

- Pô, professor, a gente vai sentir sua falta no próximo semestre...

- Não seja por isso, João Carlos, estaremos juntos em Direito Processual Civil II, III e IV.

- O senhor ainda faz a optativa de Temas Aprofundados?

- Até semestre passado era Cátia, mas ela vai para um pós-doc e eu retorno. Mas será apenas por um período. Ano que vem, trocarei com Adalberto e farei Direito da Criança e do Adolescente.

Os alunos ficaram boquiabertos com a informação. Valentim Borba geralmente pegava optativas ligadas à disciplina obrigatória que ele lecionava; porém, um ou outro estudante que o acompanhava no grupo de pesquisa sabia a razão daquela escolha.

Quem acompanhava os artigos e trabalhos publicados pelo professor sabia que ele tinha um interesse especial na defesa dos direitos das crianças e adolescentes – e apenas uma vez, ele explicou a razão, em termos tão simples e sutis que foi o suficiente para não gerar mais perguntas:

- Um dia, eu precisei da lei e não tive.

O tema da discussão era um caso montado pelo próprio Valentim sobre uma jovem que desejava se emancipar dos pais aos quinze anos – sendo que a lei indicava que a permissão só poderia ser dada a partir dos 16 anos. Enquanto as conversas prosseguiam agitadas, em voz alta, com direito a dedo em riste e algumas considerações riscadas em papel, Valentim apenas observava a movimentação dos alunos, passando por uma e outra mesa, ignorando pedidos de análise antes do fechamento da aula e alguma indireta de alunas que acreditavam na teoria de que, em algum momento, ele as olharia de outra forma.

Contudo, na cabeça de Valentim e no coração do professor, só havia espaço para uma mulher: Sarah. Ele às vezes se via pensando em como ela estava, quais eram os sentimentos dela, e o que estava passando em sua mente após a primeira vez da jovem. Todos naquela relação tinham consciência de que inicialmente, Sarah descobriria o sexo individualmente, além de aprofundarem o romance, a intimidade fora da cama e como era o jeito de cada um, até os quatro estarem juntos, irmanados de uma maneira só.

Valentim possuía uma preocupação a mais: por conta do uso da bengala, e das dores crônicas nos quadris, ele imaginava que não poderia ser tão intenso ou tão completo quanto Ralf ou Stéfano, mas ele confiava que Sarah não percebesse.

Ao mesmo tempo, ele se lembrou da forma sempre muito gentil e cuidadosa que ela lidou com ele nos momentos em que os dois passearam, saíram à noite... "Sarah não é egoísta nem fútil. Será bom, eu tenho certeza disso."

Ele precisava encontrar uma nova oportunidade para que os dois estivessem juntos, vivenciando uma intimidade que pertenceria apenas a eles. Observá-la foi excitante, e de certa forma ele sabia que Sarah gostava também de ser o centro das atenções; contudo, às vezes sentia-se mais confortável em estar só.

Mas, naquele instante, o foco deveria ser na aula; e logo depois em outras situações que estavam passando por sua mente – relacionadas às trocas de e-mail do tal fornecedor da empresa que ninguém conhecia e que havia ameaçado Estêvão Martinez.

Mas, naquele instante, o foco deveria ser na aula; e logo depois em outras situações que estavam passando por sua mente – relacionadas às trocas de e-mail do tal fornecedor da empresa que ninguém conhecia e que havia ameaçado Estêvão Martinez

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Três DesejosWhere stories live. Discover now