Arid Landscape

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O céu surpreendentemente limpo clareou o cômodo pela pequena fresta da cortina que tinha sido fechada de maneira desajeitada, trazendo irritabilidade aos olhos do rapaz, o feixe de luz solar estava perfeitamente posicionado aos seus olhos fazendo com que não demorasse a acordar. Ele xingava mentalmente, por mais que gostasse dos dias quentes odiava ser acordado com o sol na sua cara e o seu humor também não ajudava.

Se sentou a cama ainda meio zonzo vendo a bagunça da noite passada, sua cabeça doía ao tentar relembrar seus passos, lembrava do beijo, lembrava das músicas mas lembrava exatamente do que tinha dito ao Son. Não queria ver a cara dele nem tão cedo, não sabia como reagir nem o que dizer.

Sabia apenas que o encontro seria inevitável mas queria adiar o máximo possível.

*

As aulas das quartas eram sempre as mais entediantes, ainda piores que as da segunda, mas mesmo assim ele se esforçava para manter-se conectado as aulas, ainda que o tédio levasse sua mente longe, seus olhos se mantinham fixados no professor, quem via de fora tinha a impressão de um aluno atento.

Mas a sua mente vagava pelos mais diversos assuntos, sendo Heung-min Son o personagem principal de muitos deles, tentava entender o porquê ele tinha o beijado, tentava entender ainda mais porquê não tinha o parado.

Será que eu gostei?

Definitivamente não!

Respondia prontamente os pensamentos intrusivos que rodeavam a sua mente. Pela primeira vez tinha alguém que o fazia se sentir incluído, não fazia ele se sentir "o estrangeiro", só mais um.

Depois da grade de aulas, às quartas, ele tinha aula extra de inglês no final da tarde. Ele não gostava da professora, via ela como uma senhora arrogante que fazia de tudo ao seu alcance para zombar do sotaque alheio com seu sotaque britânico rebuscado.

Já na classe da Miss. Miller, sua mente não lhe dava trégua, tentava ao máximo tentar manter o foco nas aulas pois sabia da importância delas e não queria dar mais motivos para a professora iniciar um monólogo sobre como a decadência da universidade os levou a aceitar qualquer estrangeiro.

Richarlison sabia qual tipo de estrangeiro ela estava falando, e não eram outros europeus ou americanos, eram especificamente sul-americano. Era quase visível o veneno que tinha em suas falas quando se referia a "povos menos culturais", tinha certeza de que quando estava entre amigos usaria termos ainda mais carregados de ódio e xenofobia.

Ele nem conhecia essa palavra antes de ir para Inglaterra, sabia das dificuldades que pessoas negras passavam em seu próprio país, é claro, mas não sabia que num lugar tão "evoluído" como a Europa esse tipo de discurso fosse tão perpetuado.

*

Chegando no quarto, depois de um dia exaustivo, já se deparou com Paulo sentado a sua própria cama, novamente com o notebook do falecido amigo. Ele nem se deu o trabalho de o cumprimentar e já foi direto para o banho.

A água quente caindo ao seu corpo era uma recompensa por aguentar o dia todo naquele lugar, submergiu a cabeça sobre a água corrente do chuveiro tentando lavar todos os seus pensamentos. Saiu do banho já vestido olhando compulsivamente o celular, se perguntava se não deveria mandar mensagem para o rapaz, mesmo que o quisesse evitar pessoalmente, preferia resolver as coisas por mensagem ao invez de ser cara a cara. Escreveu e reescreveu diversas mensagens antes de desistir e se jogar a cama bufando.

Waiting For The Sunrise (2son)Onde histórias criam vida. Descubra agora