CAPÍTULO 85

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A valquíria encarou a infinidade de armaduras e aço, encarou o campo tomado por milhares de guerreiros, e apertou com força o cabo translúcido de Portadora da Luz.

Fazia uma semana desde que tinha sentido seu sangue queimar como veneno nas veias. Uma semana desde que Koschei estava livre do seu cativeiro. Uma semana desde que após aquela cena desastrosa, os soberanos haviam voltado para a sua casa para tomarem todas as providências em relação ao resto dos exércitos e a segurança do território e encontraram Elain agitada e com um resquício do brilho fantasmagórico nos olhos.

A Clarividente confirmou aquilo que todos já sabiam: Koschei viria, uma massa de pura escuridão pútrida acompanhada de bestas, com soldados e lanças. Um inferno sobre a terra. Como numa história antiga, contada e recontada várias e várias vezes. Com um fim triste, cheio de sangue e dor e sacrifícios.

Não demorou para começar, antes que pudessem contatar Vallham, eles o fizeram. Todo o continente ao leste de Prythian estava em guerra, cidades já começaram a queimar, os navios logo afundariam. Sangue já fora derramado, as barreiras resistiam, mas não sabiam do que adiantaria isso se não houvesse mais ninguém dentro delas no fim.

O ataque a eles não demorou a vir, há quatro dias, enquanto os exércitos das cortes se uniam, Elain acordara aos berros, dizendo que precisavam alertar a Lucien. Ninguém conseguiu entender o que no momento, mas não importava, apenas iriam obedecer o pedido desesperado. Mas, de novo, foram lentos demais.

Lucien chegou antes que Rhys ou Feyre pudessem fazer algo, Vassa nos braços e Jurian amarrado a ele. Só os Deuses sabiam como é que ele conseguira atravessar todo o território carregando dois adultos quase mortos em meio ao desespero, mas ele o fizera.

O primeiro movimento de Koschei, apenas para dar um aviso, ele aparecera no velho palacete em que os três moravam, atravessara o peito da Rainha com uma lança de escuridão e quase matara Jurian com um único golpe, quando ele tentou a ajudar.

Não havia tocado Lucien, mesmo que ele tenha lançado uma labareda de fogo sobre ele, a onda de escuridão que foi na direção do ruivo em retaliação só o arremessara nos ares, mas não o atravessou como fez com Vassa, nem o machucou como fez com Jurian.

Feyre correu para ajudar, havia sentido os fios de feitiço negro antes mesmo que Lucien cambaleaçe ao se firmar no chão, implorando por ajuda. Haviam chamado Helion, que veio o mais rápido possível, até a chegada dele Mor e Feyre e o próprio Lucien fizeram o máximo para os curar, mas aquilo só retardava um pouco o feitiço, o qual precisou ser quebrado.

Ela não estava lá no momento, mas ouviu quando Rhys disse a Az que tinha sido uma das coisas mais horríveis que tinha visto na vida, que os dois tinham agonizado de uma forma que ele pensou que os matar seria um favor. Graças aos Deuses, Helion havia vindo o mais rápido o possível e ele e Feyre, com muito esforço e uma boa quantidade de sangue de ambos, conseguiram quebrar o feitiço.

A ruiva e Azriel, assim como Nes e Cass tinham chegado no fim, quando os dois já estavam inconscientes e sendo tratados, então Gwyn fora procurar Lucien e... Nunca tinha imaginado que fosse ver ele daquele jeito. Medo, dor e angústia dissolvidos em raiva. Ela tinha perguntado como ele estava e ainda conseguia ouvir a voz num tom gélido e raivoso dele enquanto lhe respondia:

Estou cansado, Gwyn. Estou cansado de perder. Estou cansado disso, porra! Estou cansado de perder minha casa, estou cansado de perder quem amo toda maldita vez! Chega, para mim chegar! Estou cansado dessa merda!

Ela entendia, até havia tentando se aproximar mais, mas Lucien apenas se afastara bruscamente e sumira do campo de visão. Não tinha ficado chateada, mas tinha ficado triste por ele, preocupada também. Só que Lucien precisava de tempo e não adiantava forçar a barra, então desistiu e, quando enrolou no corredor, viu Elain, meio pálida, os olhos cansados e tristes. A Archeron não disse nada, só desviou os olhos para o chão e saiu na direção oposta.

𝐶𝑜𝑟𝑡𝑒 𝑑𝑒 𝑆𝑜𝑚𝑏𝑟𝑎𝑠 𝑀𝑒𝑙𝑜́𝑑𝑖𝑐𝑎𝑠Donde viven las historias. Descúbrelo ahora