CAPÍTULO 91

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Gwyn sentiu o silêncio e a tensão ao redor do acampamento pesar no ar.

Sabia que todos os batalhões tinham sido postos em batalha, as Valquírias estavam em campo também. Tinham conseguido conter o ataque comandado por Beron, interceptando as tropas que eram compostas por soldados de Hyrben e da própria corte. Esses últimos, após o ataque inicial, haviam se virado contra a ordem do Grão-Senhor a mando de Eris.

Isso tinha lhes dado vantagem. Além, da sua participação nisso. Mesmo que quase tenha custado sua vida, mesmo com agonia que sabia que tinha causado a seu parceiro, não conseguia se arrepender. As forças de Hyrben superavam as que Eris tinham implantado que estavam concentradas no lado Leste. Por sorte ou intervenção divina, tinha escolhido o Oeste e conseguiu atrasar o fluxo de batalha e, depois disso... Houve Az.

Nestha tinha lhe dito o que seu parceiro tinha feito, a escuridão que emanou dele, que engoliu o batalhão inteiro, as sombras que tinham matado mais soldados do que poderiam contar, o negrume que tomou o chão quando elas explodiram dele e nem o sangue que era demorado conseguia disfarçar.

Analius Mersury.

O nome soou em sua mente, fazendo um arrepio a percorrer.

Gwyn focou a mente, caminhando na direção dos limites do acampamento, estava quase vazio, mas quanto menos atenção chamasse, melhor. No entanto, não conseguiu desviar quando sentiu a corrente de calor. A Valquíria seguiu aquele pulso de poder, no fundo, sabendo o que e quem iria encontrar.

Primeiro viu as duas silhuetas altas, ambos com cabelos vermelhos, mãos na espada. E, entre eles, Beron, ajoelhado no chão pisoteado, acorrentado e com um olhar que poderia matar alguém. Ela se aproximou o suficiente para ouvir o Grão-Senhor dizer:

— É igual a mim, Eris, pode odiar isso mas é. Sabe que é. Só lamento que não tenha tanta ambição ou paciência, você ainda é filho da sua mãe, essa fraqueza vem dela.

Lucien apertou o cabo da espada com mais força, Gwyn viu aquilo ao se aproximar, mas foi o único movimento que veio dele. Eris permaneceu como estava e apenas disse:

— Tenho ambição e paciência o suficiente, pai. Foi o bastante para conseguir enganar você e vai ser para o matar.

Os olhos de Beron se incendiaram e ele cuspiu:

— Então, faça...

Nesse momento, já estava perto o bastante para ser notada.

Os olhos do Grão-Senhor se voltaram para ela, o que fez com que os outros dois Vanserra se virassem e a encarassem. Gwyn manteve a postura. Nestha também havia lhe dito sobre o julgamento de Beron, sobre a sentença de morte e a exigência de Eris de que não houvesse plateia para execução, dizendo que o corpo seria deixado, para que não ficasse dúvidas de que tinham o matado, mas que não queria que ninguém além dele e de Lucien, se esse quisesse, presentes.

Também sabia que tinha sido Eris a tirá-la do meio do exército, que se não fosse por ele, provavelmente teria morrido. Que o grão-feérico também tinha buscado Thesan e o levado até ela, mesmo que tenha sido sobre as ameaças de Az.

— Ah, a mestiça é mais forte que parece — Beron disse, um sorriso repugnante no rosto — uma pena que a flecha não tenha sido mortal.

Lucien pareceu se irritar, mas quem falou foi o irmão dele:

— Cuidado, Beron, o parceiro dela morde.

Gwyn conteve a irritação pela forma como Eris falou de Azriel e com tanta frieza quanto podia colocar em seu tom, retrucou:

— Não, ele estrangula — e quase sorriu com uma satisfação sombria ao ver a garganta do ruivo oscilar, a marca dos dedos tinham sumido, mas a da sombra que quase o tinha sufocado ainda estava lá. Ela se voltou para o Grão-Senhor — Mas acho que usaria a lâmina em você.

𝐶𝑜𝑟𝑡𝑒 𝑑𝑒 𝑆𝑜𝑚𝑏𝑟𝑎𝑠 𝑀𝑒𝑙𝑜́𝑑𝑖𝑐𝑎𝑠Onde histórias criam vida. Descubra agora