Corte de Céus & Guerras

Capítulo 1 - Lizzie

Havia se passado apenas uma semana desde que Azriel tinha ido embora e as coisas estavam voltando ao que eram antes. Caóticas. Apesar de ainda ter medo de sair de casa, tenho que levar a Honey para a senhora Taylor, então eu me arrumava para ir. Coloquei o meu vestido marrom, já que o preto estava rasgado e o azul estava imundo. Posso não carregar mais uma adaga presa a minha cintura, mas agora portava um machado de prata puro nas minhas costas.

Assim que estou pronta, desço as escadas correndo, enquanto tentava calçar as minhas botas. Honey me esperava na porta, com a sua capa praticamente a engolindo em meio aos pelos de animais. Com rapidez, visto a minha capa preta e pego a cesta com mercadoria que tentaria trocar na feira hoje. Desde que o Az foi embora, notei que a Honey ficou praticamente muda e isso me preocupa muito. Seguro a sua mãozinha e a levo para fora, receosa.

Ainda nevava, mesmo estando no verão. Por isso, muitos agricultores perderam o espaço nas barracas da feira. Se não fosse por mim, o senhor Russo também teria perdido. Além disso, os produtos também ficaram extremamente caros, ou seja, não posso pagar por nada, principalmente carne. Sei que a Honey não percebeu isso, mas faz dias que não como nada além de hortaliças velhas, tentando manter o dinheiro e a mercadoria. No meio do caminho, pergunto a ela:

- Tudo bem, Hon-Hon? - ela estava cabisbaixa e isso partia o meu coração em pedaços ainda menores.

- Tô com saudade do Az - ela lamenta, fazendo beicinho.

- Eu sei, mas... - tento falar, porém a Honey me interrompe.

- Ele disse que ele ia voltar. Ele me prometeu de mindinho - ela para de andar, segurando a minha mão com mais força. Seus olhos escuros brilhantes formavam lágrimas gordinhas que desciam pelos seus olhos. Sem respirar direito, me abaixo, e fico cara a cara com ela.

- Eu sei - ergo uma das minhas mãos magras e passo o dedão pelas suas bochechas, limpando a água que molhava a sua pele corada de frio.

- Ele nos deixou? - ela me pergunta baixinho. Seguro seu rosto entre as minhas mãos e tento evitar chorar por causa do seu choro.

- Não. Não - digo rapidamente. Na realidade, eu não sei disso. Eu só estou seguindo os meus instintos primitivos e me agarrando ao laço como última esperança. Respiro fundo, continuando - Se lembra quando eu disse que a promessa de mindinho é a mais importante de todas? - ela assentiu - Poisé, ele não descumpriria ela.

- Jura? - ela me pergunta e eu dou um beijo no topo da sua testa.

- Juro - afirmei. Honey então foi me abraçar. Seus pequenos braços envolveram o meu pescoço com firmeza. Eu sentia seu coraçãozinho imenso bater contra o meu peito. Vê-la assim me deixa extremamente triste.

- Me leva no colo? - ela me perguntou, depois de um tempo em silêncio. Bufo uma risada, quando ela era mais nova, ela dizia: "Quelo colinho". Ela sempre foi fofa. Eu passo um dos meus braços por baixo da sua bunda e a seguro contra o meu tronco. E então continuamos o nosso percurso.

Finalmente chegamos na casa da senhora Taylor, que para a minha surpresa saiu da casa para nos receber. Ela usava as mesmas roupas de sempre e estava com o seu filho mais velho ao seu lado. Até onde eu sei, ele havia se casado fazia dois anos com uma lady da alta sociedade e já estava com o terceiro filho a caminho. No seu colo, ele segurava um menino enrolado em uma manta quentinha que dava inveja na minha colcha de retalhos.

- Vossa Graça! - ela gritou, se aproximando. Ao chegar nos meus pés, ela fez uma reverência exagerada. Seu sorriso era imenso.

- É muito bom vê-la tão feliz, senhora Taylor - digo, tentando ignorar aquele exagero. Não sou Duquesa ou nada do tipo. Meu pai era. Não eu.