Capítulo 6 - Lizzie

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Nós havíamos parado um pouco a nossa "fuga". Eu usava aquela droga de camisola de renda que ia até um pouco acima da metade da minha coxa que se levantava a cada movimento que eu fazia, mostrando boa parte da minha bunda. Não gostava do jeito que aquele macho me encarava. Então, optei por ficar perto da Feyre, mas sei que isso não vai me proteger.

Por todo o caminho, andei descalça pela floresta e aquilo voltava a acontecer. A cada lugar que eu encostava da mata com a minha pele exposta, cresciam flores e a grama ficava mais vibrante. Tenho medo que isso traga os soldados para a nossa direção. Feyre e o macho, que não sei o nome, montaram um acampamento abaixo de uma árvore, perto de uma caverna que, segundo eles, era usada para chegarmos até outras cortes discretamente.

Se eu tivesse vindo para as terras imortais de Prythian em outras circunstâncias, provavelmente teria amado esse lugar. Mas agora, eu só tinha nojo. Enquanto eles montavam a fogueira, eu disse que iria procurar comida. Uma mentira. Não conseguia ficar ali, principalmente porque estava enjoada demais para pensar em algo.

Caminhei pelo lugar, abraçando meus braços para não encostar em um tronco e fazer com que musgo crescesse nele. Ao mesmo tempo em que me afastava, vi que me aproximava de um lago. Fui até a sua margem, me abaixando e ficando na ponta dos pés, eu me inclinei na direção do espelho d'água.

Finalmente consegui ver a minha aparência, depois de quase um mês. Eu parecia doente...ou melhor, um monstro. Analiso as minhas garras pretas que surgiram naquela fatídica noite e passo-as pelo o meu cabelo que estava curto, quase na altura dos meus ombros. Com o indicador e prestando atenção no meu reflexo, ergui o canto do meu lábio, vendo o meu canino, que havia se alongado (tanto os de cima, quanto os de baixo).

Se antes eu poderia ter argumentos que diziam que eu não era uma bruxa, agora eles haviam ido para o mesmo lugar que eu planejava procurar a minha sanidade. Eu encarava o meu reflexo monstruoso, pensando no que faria agora. Precisava libertar Nyx do Caldeirão, mas também gostaria de saber se eles estavam bem. A incerteza me matava.

Então, percebi que sombras e densas praticamente me engoliam. Elas eram geladas e similares... Por um instante, achei que Az estivesse comigo. De onde as sombras vieram? Olho para as minhas mãos, que também tinham fumaça, só que azul, saindo da minha pele. De repente, uma coisa brilhante chama atenção dentro do lago, que por causa da noite que se aproximava, estava escuro.

Sem pensar muito, eu entro dentro dele de uma vez. Sinto a água gelada tocando a minha pele e lentamente entrando no meu corpo. Havia uma magia que me deixava assim, eu tenho certeza. Estranhamente, não sinto os meus pulmões arderem enquanto o líquido do lago me preenchia. Meus olhos tendem a relaxar e mal sinto meu corpo, apenas algumas contrações involuntárias dos meus dedos.

À minha volta, uma criatura me rodeava, fazendo com que a água se mexesse. Eu me sentia calma. Não consigo olhar em volta, mas uma voz doce e grossa me chama. Uma voz que eu já conhecia muito bem.

- Elizabeth? - Nyx fala meu nome, mas não consigo responder - Está me ouvindo?

"Sim" - digo, enquanto o seu toque gentil se afastava da minha mente. Era como se ele estivesse me controlando ou eu estivesse em coma.

- Fico feliz que tenha saído com a Grã-Senhora da Corte Noturna e o Grão-Senhor da Diurna - ele me diz, realmente aliviado. Que? Melhor nem perguntar.

"É você que quer me afogar?" - pergunto, começando a me desesperar.

- Não, de jeito nenhum. Se acalme - Nyx começa -Esse é o único jeito que consigo falar com você, estando tão longe.

"Por que não consigo respirar ou me mexer?" - por mais que tentasse, nada funcionava.

- Para não te machucar - ele me conta.

"Quanto tempo se passou?" - pergunto, sem fôlego. Literalmente.

 - Um mês e meio, mais ou menos - Nyx me diz, continuando - Não se preocupe criança, vai encontrar a sua família novamente. Por hora, apenas queria conversar com você.

"Por que?" - ele não me responde de imediato.

- Por que você precisava e sei que não vai entender isso agora - havia pesar na sua voz melosa.

"Só por causa do nosso acordo?" - lhe questiono, lutando para não me aborrecer.

- Não fizemos acordo algum - me surpreendo - Você gostaria de oficializar?

"Como assim?"

- Deixar marcado na sua pele o nosso acordo - ele me esclarece.

"Mas o que eu ganho em troca? Já que tem que ser um acordo" - na minha mente, sinto a sua risada desajeitada preenchê-la - "O que?"

- Você é realmente muito parecida com a minha esposa - sinto como se os seus dedos estivessem acariciando a minha mente - Lhe garanto que poderei lhe ajudar mais no futuro como quiser.

"Então se é assim..." - não há tempo de terminar a frase, quando um formigamento passa pela a pele do meu ombro e a parte superior do meu braço.

- Sugiro olhar no lago. Te mandei um presente, Elizabeth - ele me avisa - Não é certo uma dama andar tão nua.

Antes que eu tivesse tempo de me despedir ou perguntar sobre essa sua última frase, desperto do transe em um único segundo. A água gelada queimava meus pulmões e eu nadei em direção até onde as minhas bolhas de ar iam. Ao subir, o vento frio da noite mais profunda batia contra o meu rosto. Tusso toda a água, me rastejando em direção à margem do lago.

Assim que os meus antebraços tocam o solo, dentes-de-leão nascem na margem em volta deles e eu solto um suspiro irritado. Então, olho para onde ainda estava formigando de leve, vendo uma flor cheia que ocupava um pedaço do meu ombro direito até a metade do meu braço (acima do cotovelo). Era delicado e até que bonito. Sei que isso é permanente e talvez não tenha sido a melhor coisa negociar com o Caldeirão, mas era o que eu tinha para sobreviver.

Me levanto, apertando o meu cabelo molhado, tentando tirar a água em excesso. De repente, vejo algo grande boiando no lago e se aproximando de mim. Era um corpo. O cheiro do cadáver me deixava mais enjoada. Acho que esse era o presente que o Nyx me falou. Vou até o defunto e o puxo para a margem. Ele usava uma camisa verde de linho, calças do mesmo material e botas de couro. Abro um sorriso aliviado, não antes de rezar:

- Que o Caldeirão lhe salve. Que a Mãe lhe segure. Passe pelos portões e sinta o cheiro da terra imortal de leite e mel. Não tema o mal. Não sinta dor. Vá e adentre a eternidade.

Então, começo a retirar a roupa do corpo e as colocando em uma pedra. Assim que tirei tudo, inclusive as meias, removo aquela merda de "camisola" e a jogo dentro do rio. Pego as roupas do cadáver, que estavam um pouco grandes, mas serviriam muito bem por enquanto. Mantenho a faca que ganhei de Jurian presa a minha calcinha. Tirei ela da terra sem que Feyre pudesse notar e a amarrei ali.

No momento em que me vesti, calçando as botas que eram do meu tamanho, ajeitei a camisa de mangas longas para que cobrisse a tatuagem. Dessa forma, empurrei o corpo do civil de volta para a água. Ele estava apodrecendo na minha frente com a boca espumando, ou seja, veneno. Não sei o que aconteceu com ele, mas o corpo que antes flutuava, simplesmente afundou quando entrou em contato com o líquido do lago.

Olho para o brilho da fogueira atrás de mim, caminhando em direção a ela. Era melhor eu voltar. Não vou responder pergunta nenhuma e vou me fazer de louca até sairmos dessa situação ruim de peregrinos. Não vou me aproximar do macho, porque há alguma coisa nele que não me faz confiar nele. Apesar de Feyre confiar nele.

Ainda vou ter que pedir para que ela me ajudasse a controlar meus poderes, que pareciam extremamente fortes agora. Eu adoraria saber de onde aquelas sombras surgiram, mas acho que não tenho forças para fazer isso nesse momento.

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