Capítulo 3

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Liam

Eu sei o que o meu avô tem em mente, mas assusta-me as ideias dele. A escrita de um livro, em conjunto com a Francesca, não me amedronta. O que me aterroriza é as exigências que ele irá impor durante o processo. O meu avô é excêntrico e não poupa a meios para ter aquilo que quer.

Acredito que se ele não negasse o manuscrito dela, nunca iria conseguir que ela aceitasse este seu capricho. Sim, isto é um capricho de um velho de 80 anos que pensa que ainda consegue ter o que quer no ramo editorial. Eu adoro o meu avô, mas esta ideia é descabida! Como é que eu vou ter tempo e cabeça para escrever um livro? Eu tenho imenso trabalho para me preocupar com isso!

Caminhámos, lado a lado, enquanto nos deslocávamos para a editora. Ela estava muito pensativa, tal como eu. Estava preocupado com o que possa advir da cabeça do meu avô.

Chegámos à entrada do prédio e cedi-lhe passagem. Eu tentei ser o mais cordial possível com ela, apesar de acreditar que está chateada comigo. Entrámos no elevador vazio. Notei que Francesca começou a tremer.

— Está tudo bem? —Questionei preocupado com o que ela possa estar a passar.

Ela limpa as lágrimas que lhe teimam em cair. A minha reação é parar o elevador. Olhei para o relógio, estávamos a vinte minutos do horário marcado.

Francesca olhou para mim e notei uma tristeza profunda no seu olhar. Algo se teria passado durante a escrita deste manuscrito, que a deixou abalada. Do que conhecia dela, não era um adiamento do seu lançamento que a preocupava.

Aproximei-me dela e abracei-a. Sei que não deveria estar a fazer isto. Estava a quebrar as regras e o meu avô iria saber disso. Os elevadores tinham câmaras de segurança, tal como todo o edifício. Saberia que ele seria alertado de algum comportamento impróprio por parte dos seus colaboradores. Sim, eu era considerado um colaborador para ele!

Francesca aperta-me contra ela. A minha mão acaricia os seus cabelos, tentado que ela se acalmasse. Não vou mentir, eu estou a adorar este momento. Eu sempre mantive a minha distância dela, por motivos profissionais. Ela tinha namorado, tanto quanto sei, estavam a morar juntos. Nas nossas sessões de edição dos seus livros, partilhávamos parte da nossa vida pessoal para desanuviar do stress das nossas vidas, enquanto jantávamos. Essas alturas eram de muito stress para a Francesca e, por insistência do meu avô, tínhamos um dia específico que nos juntávamos para tratar da edição dos livros dela. Esse era o momento alto da minha semana, quando estávamos a no processo de edição. Ela era como uma lufada de ar fresco neste escritório.

Sentir que ela estava mal, por um capricho do meu avô deixava-me irritado. Ele não tinha o direito de a magoar! Eu sabia que elas tinham uma amizade e ela visitava-o imensas vezes. Todos os livros dela mencionavam o meu avô nos agradecimentos, ele era o seu maior motivador na sua escrita. Não entendo o propósito disto.

Quando finalmente se conseguiu acalmar, afastou-se de mim.

— Obrigada! — Agradeceu, enquanto abria a mala e tirava um estojo.

Ela abriu o espelho e observou a sua cara. Retocou a maquilhagem e recompôs-se. Eu observava-a encostado às paredes do elevador, sem tecer qualquer comentário. A leveza dos seus movimentos cativavam-me, eu poderia perder-me por horas a olhar para ela. Apenas queria que ela tivesse preparada, antes de ser atirada aos leões.

Terminou de se arrumar e olha para mim. A minha vontade é de a envolver nos meus braços e protegê-la do mundo exterior. Desvio o olhar e coloco o elevador em andamento.

A porta do elevador abre-se e o meu avô encontra-se no átrio, à nossa espera. Engulo a seco por saber que isto trazia água no bico.

— Minha querida! — Cumprimenta-a o meu avô, beijando-lhe a mim.

Ele olha para mim e abre um sorriso vitorioso. Isto cheira-me a esturro!

O ContratoWhere stories live. Discover now