Capítulo 7

1 1 0
                                    

Liam

O meu avô exagerou com esta ideia. Eu não vejo qual a necessidade de nos ausentarmos durante três meses. Sei que a editora irá sobreviver a isto, mas eu não. Não vou conseguir estar três meses com a Francesca.

Francesca levantou-se e preparou-se para sair da sala. Os seus movimentos tiraram-me dos meus pensamentos, não podia perder a oportunidade de esclarecer as coisas.

— Será que podemos conversar?

— Acerca? — Levantou a sobrancelha.

— Acho que deveríamos ter uma conversa para nos organizar.

Ela voltou a sentar-se calmamente.

— Sou toda de ouvidos!

— Já que vamos ter de fazer isto, quero saber a tua opinião.

Ela olha-me de soslaio. Endireitou-se na cadeira e entrelaçou as mãos em cima do tampo. A típica postura formal da Francesca.

— Em relação?

— À ideia do meu avô?

— Sinceramente? — Assinto. — Acho descabida a ideia do Sr. Matias. Nós podíamos muito bem escrever o manuscrito aqui. Poderíamos arranjar tempo e espaço na tua rotina para encaixar a escrita dele.

— E porque não te opuseste?

— O teu avô consegue levar sempre a dele avante. Não consigo dizer-lhe que não!

— Mas sabes que isto vai-nos fazer estar vinte e quatro horas juntos durante três meses?

— Eu sei disso, mas como negar-lhe isto?

Desvio o olhar para a minha garrafa de água, para organizar as minhas ideias, antes de me pronunciar.

— Já que vamos fazer isto, temos de acordar algumas coisas. Visto que temos um manuscrito para editar durante este tempo, acho que seria bom definirmos horários do dia para tratarmos de cada coisa. — Ela assentiu. — Qual é o horário em que consegues ser mais produtiva para a escrita?

— Durante a manhã.

Levo a mão ao queixo.

— O que foi? Sou uma pessoa matinal!

— Ninguém disse o contrário, Francesca. — Respiro fundo. — Tem calma. Estou apenas a tentar arranjar um equilíbrio para conseguirmos fazer as coisas.

Ela solta um suspiro.

— E tu? — Não entendo a sua questão e levanto a sobrancelha, o que a faz revirar os olhos. — Quando é que costumas escrever?

— Devido à minha vida de editor, não consigo ter tempo para escrever, atualmente. — Ela cruzou os braços. O público estava difícil de agradar hoje. — Mas sou uma pessoa que gosta de escrever pela noite dentro.

— Eis um problema!

— Facilmente solucionada, minha cara. — Debrucei-me sobre a mesa. — Como eu só tinha aquele tempo para escrever, criei hábitos e rotinas para que isso acontecesse. Como neste último ano escrevi uma vinte páginas, acho que conseguirei adaptar-me e deixar-te à vontade para trabalharmos no teu tempo.

— Posso fazer-te uma questão? — Assinto. — Porque não deixaste que o Manuel fosse o meu editor?

— Eu sempre editei os teus livros não faria sentido deixar de ser o teu editor, se temos sido uma boa equipa, não achas?

— Sim, mas vais ficar sobrecarregado!

— Escrita e edição de apenas um livro? Duvido! O meu avô deve ter mexido todos os cordelinhos e, mais alguns, para conseguir que eu tivesse tempo para os seus caprichos.

— Mesmo assim, vais estar três meses afastado...

— Consegues contrariar o Sr. Gustavo Matias?

Ela negou.

— O que temos a fazer é aceitar e fazer o que ele quer. A mim também não me agrada ter de escrever um romance.

— O que tens contra o romance?

— Nada! Se fosse assim, não seria solicitado para ser o teu editor. Só não é um género que eu escreva, mas editar é diferente.

— Como vamos fazer isto?

Então a ideia surgiu-me.

— E, se fizéssemos um livro com dois pontos de vista?

— Como assim? — A cara dela denunciava que não tinha entendido a minha ideia.

— Se escrevêssemos o livro sobre dois pontos de vista, tu tratavas de um e eu do outro. Como se demonstrássemos a história do lado de cada um dos protagonistas?

— Mas como isso pode funcionar?

— Deveríamos delinear algumas coisas para começarmos a escrever. Acho que seria importante, antes demais.

— Então o que pretendes? Um CEO podre de rico e a sua secretária? — Ironiza. — Ou, melhor, uma menina virgem e um multimilionário qualquer?

— Porque temos de seguir os padrões e o que já está batido na sociedade?

— Tens alguma ideia?

Assinto.

— Se o meu avô quis que tivéssemos três meses isolados do mundo, porque não aproveitar isso a nosso favor? — Ela franze o sobrolho. — Se fizéssemos um livro sobre dois escritores que foram obrigados a trabalhar juntos?

— Eu não vou dormir contigo!

— Ninguém disse que o temos de fazer, Francesca! Podemos aproveitar a nossa estadia para trabalhar no manuscrito. Nós estaremos lá para trabalhar, apenas isso.

— E como vamos fazer com o meu manuscrito?

— O que têm?

— Quando é que vamos trabalhar nele? — Endireitou-se.

— Aceitas fazer um livro com dois pontos de vista? — Assente. — Então teremos de escrever um capítulo por dia. Como cada um irá escrever um capítulo alternadamente, vai ser mais simples. Tu escreves o teu capítulo, eu leio e converso sobre isso contigo nesse dia. No dia seguinte, trocamos. Achas que pode ser assim?

— Sim, mas não precisas de te armar em editor comigo ao leres o meu capítulo.

Claro que ela iria dizer isto.

— Francesca, aquilo será o nosso primeiro rascunho. As coisas serão limadas com o seu tempo.

— Certo, mas...

— Não te preocupes. Eu apenas vou ler para entender o contexto e saber como levar a narrativa.

Ela abre um leve sorriso. Reparo nas covinhas que se formam quando ela o faz.

— Depois desse tempo, teremos o resto do dia para trabalhar no teu manuscrito. — Ela assente. — Tu escreves quando achares mais oportuno e eu faço o mesmo. Vou solicitar uma impressora para que possamos imprimir o nosso capítulo, para o darmos a ler.

— Já viste o papel que vamos desperdiçar?

— Como queres fazer, então?

— Podemos partilhar um com o outro digitalmente.

— Tudo bem! Partilhamos o documento numa nuvem e trabalhamos nele. — Vejo um leve sorriso a apoderar-se dos seus lábios, de novo. — Cada um leva o seu portátil e trabalhamos assim.

You've reached the end of published parts.

⏰ Last updated: Feb 28 ⏰

Add this story to your Library to get notified about new parts!

O ContratoWhere stories live. Discover now