Break my heart again

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"Eu estou saindo agora. Eu posso voltar mais tarde essa noite? Ou... Você precisa de tempo. Sim, claro, tudo bem."

Pov. Regina Mills. 

Quem me olhar nesse instante irá se deparar com uma criança assustada que ainda não conseguiu compreender o que está acontecendo. O pânico, a ira e todas as sensações possíveis estão muito presentes aqui dentro. É palpável a agonia que me assombra, que me tira o sono, que deixa as minhas mãos trêmulas e quentes. O meu corpo é o que mais sofre as consequências de toda essa loucura. Não, eu não o machuco, apenas me sinto frágil. Eu ouvi dizer que os males da carne são os reflexos do espírito. O meu espírito foi se deteriorando pouco a pouco... até padecer. Existe alguma explicação para aqueles que seguem vagando por toda uma eternidade sem ao menos saber o que estão fazendo, sem ao menos saber quem são? Eu não posso esclarecer a ti todos os meus questionamentos, todas as minhas dúvidas, todo o meu vazio, eu só posso contar que isso está mais pesado do que consigo carregar.

Eu me sinto pressionada pela vida. É como se ela estivesse esperando uma reação enquanto me dá golpes e golpes. Para ser sincera, eu já não sei mais de onde é que está vindo a porrada, chega a ser covardia. Como que eu vou encontrar um caminho, se não estou tendo tempo de respirar? Eu apenas aceito os socos na cara e sangro. Não literalmente. Eu acho que ser assim é negativo. Sabe quando a pessoa te conta tudo sobre ela, sem estar o fazendo? Esta pessoa sou eu. Por mais que pareça que estás tendo contato com a minha alma, nós ainda não saímos da página dois. Não, eu não estou exagerando, é que eu ainda não sai da página dois no quesito me conhecer. Se eu fosse ler as minhas entrelinhas não saberia que tipo de história é essa, mas possívelmente não seria do meu agrado. Sinceridade é o meu forte.

Sabe, eu não me odeio, se é o que lhe parece. Eu só estou me perguntando: quem sou eu? Que tipo de livro seria capaz de me descrever com maestria... Como eu poderia me descrever com perfeição? Nós somos o resultado dos momentos eternizados em nossa alma, dos cafés que tomamos, dos sorrisos bobos entregues a alguém e das feridas não cicatrizadas. Creio que a minha maior confusão se deu no rompimento do cordão umbilical. Não é fácil crescer sabendo que fui rejeitada por quem deveria me amar. Conforme os anos foram se passando, o sentimento de abandono só aumentou. A verdade é que criei uma barreira invisível entre mim e o amor. Eu me sentia incapaz de ser amada. Eu não acreditava nisso. Demorei para baixar a guarda. Talvez, o fiz tarde demais.

Eu me machuquei ao me reprimir tanto, ao fugir das minhas emoções. Eu fui empurrando os traumas para debaixo do tapete, até quando não deu mais. Eu não notei o quão cruel estava sendo comigo mesma e não pretendo notar agora. Como que se encontra a cura no ápice da doença? Como que podemos querer recomeçar quando aquilo já lhe matou? É impossível. Não dá. Eu me sinto uma puta covarde por não tentar. Não é bacana se olhar e não se reconhecer, não saber por onde começar a mudança, não ter uma perspectiva sobre um futuro menos doloroso. Quando eu era mais jovem, me passava alguns ataques de pânico, o desespero me dominava a ponto de me fazer sair correndo para qualquer lugar distante de onde eu me encontrava. Era pior quando estava em uma sala de aula ou em um show. Era muito involuntário. Aconteceu em algumas aulas na faculdade. Lembro-me que a professora chegou a me perguntar se eu havia procurado algum terapeuta. Eu fingia demência em relação a isso. Sempre pensei que não era preciso. Sorria e diga que está tudo bem. Funcionava com a minha família. 

Eu me enganei. Eu precisava de ajuda. Eu precisava perdoar o meu passado e me desprender dele. Seria melhor do que seguir alimentando as minhas inseguranças. Ao invés de gritar por socorro, eu sorria. Eu não queria que a família que havia me adotado pensasse que escolheram uma criança com defeitos, eu não queria vê-los arrependidos, eu queria ser perfeita. Tem horas que tenho asco do meu jeito. Eu tinha tudo para me sentir bem, mas acordava toda noite chorando porque achava que haviam me deixado também. Teve uma época que Zelena passou a dormir comigo. Eu tinha medo de estar incomodando, mas o esquecia de imediato quando ela me abraçava. Acho que de alguma forma, me acostumei a ser protegida dentro dos braços de alguém e são gestos assim que me cativam. O amor nasce dos detalhes. 

Girassóis de Van GoghWhere stories live. Discover now