Enfim a conversa

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Pov. Regina Mills

Havia se passado alguns dias. A minha recuperação foi rápida e sem nenhuma secuela... Aproveitei para ficar ao lado de Cora sempre que me foi possível, já que o caso dela foi um pouco mais doloroso, até que ela recebeu alta. Acho que um dos maiores ensinamentos e prova de crescimento pessoal foi que eu aprendi a rezar, a confiar e a ter esperança de um novo amanhecer. Não adiantava me deitar e xingar... Era preciso se levantar e erguer a cabeça. É preciso acreditar que tudo não passa de um pequeno degrau para a evolução. Quando temos a oportunidade de recomeçar, temos a obrigação de fazê-lo sem questionar absolutamente nada. Eu não sou um exemplo de pessoa, mas quando me olho no espelho consigo me sentir feliz, não sei se por completo, só que não há nenhum peso me empurrando para o abismo. Óbvio que existe diversos fatores que me atingem, só não vamos dar valor a isto.

Sabe, já que falamos sobre o abismo, vos confesso que tenho buscado uma boa definição para tal palavra – pois a do dicionário já não me basta. Não creio que seja uma profundeza inexplorada, todos nós o conhecemos em algum momento de nossas vidas, conhecemos o fim, não encontramos luz, e acabamos desistindo de seguir rumo a saída... Até que em um passe de mágicas, ficamos frente a frente com ela. Lembre-se que antes de cair, a vista era bonita. Era emocionante estar ali, no topo do infinito. Não acho que estou dizendo bobagens, não agora, pois todos os amantes sentem a brisa forte de um precipício. Muita das vezes me foi acolhedor estar aqui. Imagine que és um aventureiro e que estas sentado em um rocha com os pés sem apoio, sabendo que um descuido tombaria todo o seu corpo. Resumindo, viver é se equilibrar sobre um abismo. Vossa mercê não precisa concordar comigo, seria de inteira compreensão se me chamasse de louca.

Louca – outra palavra que precisava de um novo significado, mas não serei eu quem lhe dará. Não sei se é importante, se mudaria algo, só sei que não vou questionar caso tenha essa ideia sobre mim. Sabe, eu concordo que penso em demasia, muita das vezes sou descartável. Sim, me sinto totalmente descartável, não sei nem como chegou até aqui, meu caro. Espero que esse sentimento não me devore, não posso deixar que isso aconteça. Com o tempo venho me domando com mais facilidade. Talvez a minha intensidade não fique tão aflorada, é melhor, sentir é perigoso, é preciso controlar. Ah meu amigo, se serve de conselho, viva como se estivesse em uma corda bamba segurando firme o seu coração por entre as mãos, não existe a possibilidade de deixá-lo cair. Eu sei que normalmente foge do nosso controle, então, descartamos esse último parágrafo. 

Sendo assim lhe digo que hoje é domingo. Um adorável domingo. Não faz sol, mas também não faz chuva – o famoso tempo nublado. Não é tarde, mas também não é cedo. Digamos que é um bom horário para um café da tarde. As janelas da casa estavam abertas. Eu gosto do vento que adentra e faz morada. Gosto também da música que toca na vitrola. Sim, sou uma mulher apaixonada por objetos um tanto ultrapassados. O silêncio, as reflexões, as decisões. Acho que preciso ouvir antes de falar. Eu confesso que estava ansiosa e assustada com a sua visita. Enquanto Cora estava internada eu usei de argumento a sua fragilidade para fugir da conversa, mas não dá mais para continuar se esquivando. É necessário ser adulta e compreensiva, não por ninguém, por mim... Eu me devo isso. É igual ao quadro que tenho no meu quarto – só é possível recomeçar depois de um ponto final. 

Não sei se foram longos minutos, eu estava dispersa com a melodia, com tudo, mas a campainha tocou e a minha alma saiu do corpo – não literalmente, óbvio. Eu fechei os olhos, respirei fundo, contei até dez... Fiz tudo que é recomendado em certas ocasiões. Os passos denunciando a sua aproximação. A empregada lhe dizendo para ficar a vontade. Era hora de encarar de uma vez por todas aquilo que tanto me assombrou. Eu não sei se fui covarde por não me jogar naquilo que poderia me machucar, mas sei da minha coragem por agora. Ah, eu quis sorrir por entender a minha força. É tão bom se sentir suficiente e capaz. As minhas mãos e as minhas pernas estavam trêmulas – detalhe irrelevante. Ela estava na minha frente... Não igual a primeira vez... ou segunda... etc... a mulher que eu nunca fiz questão, estava bem aqui e pelo visto o meu coração esperava por esse momento. 

Girassóis de Van GoghOnde histórias criam vida. Descubra agora