Um caminho sem saída

123 16 3
                                    

     Pov. Regina Mills.

Eu vestia uma calcinha de renda vermelha e uma camisa larga. Ruby não estava muito diferente de mim. Eu me sinto a vontade desta forma. Quanto menos roupa, melhor. O corpo parece gostar de "respirar", pelo menos é assim em um país tropical abençoado por Deus, como esse. Às vezes eu penso que me falta pudor, às vezes eu lembro que isso não importa, pelo menos não dentro do meu quarto. E às vezes eu percebo que nem os meus pensamentos fazem sentidos. Deve ser o baseado. A erva tem efeitos sem nexos, assim como a vida. E eu rio disso tudo. Dizem que os maconheiros riem de tudo. Deve ser porquê fugir da realidade é libertador.

Liberdade. Que porra é essa? Eu realmente gostaria muito de saber ao certo qual a sensação de uma liberdade não ilusória. Se eu fosse observada por alguém, diriam que eu sou a própria liberdade, mas no fundo eu não passo de uma ilusão. Eu faço o que quero mas não sei o porquê faço. Eu me definiria como uma jovem acostumada a ter tudo e não saber exatamente o porquê tem. Me ignore neste momento, isso é apenas uma brisa passageira causada por mais um trago.

Agora eu poderia me deitar e olhar para o teto, deixando o peso se desfazer sozinho, mas eu acabei preferindo focar em seus gestos delicados enquanto colocava a seda entre os lábios. Eu confesso que não sei disfarçar o quanto as mulheres me seduzem facilmente, parece cena de filme, aquelas que acontecem em câmera lenta onde uma pessoa fica hipnotizada enquanto a outra não faz nada demais.

- Você deveria parar com isso. - Ruby disse, e soltou a fumaça próxima a minha boca. - Eu sou hétero. - ela riu.

- Por você eu também seria só para dizer que héteros se pegam e conseguir um beijo. - Eu disse como se aquilo fosse a mais pura verdade. É claro que a gente riu mais uma vez. Dizem que a persistência é que nos leva a glória, se for verdade eu fico no aguardo. - Confessa que no fundo você tem curiosidade para saber o que me faz ter vários contatos, no fundo você tem vontade de descobrir o que eu tenho de especial.

- No momento eu só queria descobrir o que eu tenho de especial. Os homens devem me achar com cara de boi, não é possível. - Era nítida a sua frustração. Ruby não tinha sorte, era sempre a mesma situação, desde a primeira vez que nos encontramos.

- É por isso que eu digo que a sua melhor opção sou eu.

- Regina, você também não presta.

- Eu vou considerar essa fala como um: "eu te amo".

O baseado chegou ao fim. Nos deitamos, ela se acomodou em meu peito e logo pegou no sono. Às vezes a insônia se fazia presente em meu ser. Vários e vários pensamentos. Nada que fosse válido. Às vezes eu acho que falta algo em mim. Eu só queria ser um cubo mágico resolvido, um livro já concluído, uma certeza e não tantas dúvidas. O foda é não saber o que exatamente eu sou, o que me incomoda e o que me tira o sono. É uma merda ser assim.

***

Amanheceu. É um dia nublado. Eu posso dizer que gosto da sensação do tempo estranho e do cheiro de café pela manhã. Uma boa combinação. Talvez possamos dizer que seja até poético. Se eu fosse boa com letras estaria com uma caderneta em mãos escrevendo versos e mais versos para o jornal. Uma vez li uma história sobre uma jovem que escrevia para o seu amor platônico, em contraponto, o seu amor desejava ser amada daquela forma. Uma temia o amor, a outra o esperava ansiosamente. Falando nisso, eu gosto muito de um filme que diz: tem que ter muita coragem para fugir do amor". Eu concordo. Tem que ter coragem.

Eu sou um pouco confusa pela manhã. Como eu disse, é o tempo misturado com o cheiro do café. Como sempre, eu estava atrasada e não conseguiria esperar Ruby acordar.

Girassóis de Van GoghOnde histórias criam vida. Descubra agora