8- Eu e Você

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Me sentia constrangida por ter insinuado qualquer intenção diferente de uma amizade, ainda mais pra alguém que eu havia acabado de conhecer e com quem dormi embolada em abraços e conchinhas. Será que ela se sentiria abusada de alguma forma? Será que ela pensaria que me aproveitei da situação?

– "Me conta tudo!" – Exclamou Julia em sua mensagem.

Eu também queria que aquela mensagem não tivesse vindo da minha amiga, também queria me surpreender com qualquer sinal que Bruna pudesse me dar de que estávamos bem, mas infelizmente não foi isso o que aconteceu.

Cheguei em casa e fui direto pro meu quarto... depois de ter cumprimentado minha mãe, lógico. Lá me deitei, olhando pro teto, e fiquei revivendo tudo o que havia acontecido, principalmente aquele "nude" inesperado, ao vivo e à cores e, por mais que tudo me desse muito tesão, ao mesmo tempo me sentia preocupada.

Contei tudo pra Julia, através de alguns grandes áudios que enviei em resposta, e ela ficou muito surpresa, o que me indicava que nem tudo poderia ser apenas uma viagem da minha cabeça.

– O que você acha da gente pedir uma pizza mais tarde? – Me perguntou minha mãe, na porta do meu quarto.

– Pode ser. – Respondi, sorrindo, tentando disfarçar minhas emoções.

– Só eu e você, ou quer chamar aquela sua amiga da faculdade?

– Pode ser só a gente.

– Ta bom.

Minha programação de sábado seria essa, só eu e minha mãe, não que não gostasse da companhia da Julia, mas não estava me sentindo muito bem e sabia que ela me encheria de mais perguntas, só que uma coisa é responder por mensagem, coisa que posso fazer no meu tempo, e outra é estar pessoalmente com ela.

– "To me sentindo mal, é como se eu tivesse me aproveitado da situação e não queria que ela pensasse dessa forma." – Desabafei, brevemente, por escrito, pra Julia.

– "Olha, existe essa possibilidade, não vou mentir, mas acho que não vai rolar isso não, até porque você foi parar na casa dela, e nessa situação, porque ela te colocou nisso, não foi você que se convidou, ou que disse pra ela tirar a toalha." – Me respondeu em áudio.

Fazia sentido, de certa forma, embora o mal estar ainda permanecesse dentro do peito. Concordo que não estava lá por vontade, ou insistência minha, mas... sei lá... era estranho pra mim, e eu sou assim, sou do tipo que não gosto de ser inconveniente... talvez seja por isso que quase não me relaciono com ninguém, fica aí uma ideia para reflexão.

Tomei um bom e longo banho, daqueles que parecem lavar a alma, embora o resultado final não seja um alívio completo, mas me senti muito melhor depois dele. Saí e, vestindo minha roupa confortável de ficar em casa, fui pra sala, onde minha mãe havia passado boa parte do dia, e me sentei ao seu lado.

– Já ta com fome? – Me perguntou ela.

Nesse momento me lembrei que não havia comido praticamente nada o dia inteiro, o que era extremamente estranho, já que tenho fama de gulosa. Meu estômago roncou, até porque parece que ele também tem ouvidos, e respondi que sim, até porque já estava começando a anoitecer.

Pedimos a pizza e levamos tanto tempo pra escolher o filme, que deu tempo do entregador chegar com nossa diversão gastronômica. Nos sentamos no escuro da sala, com nosso cachorro ao pé do sofá, e por lá ficamos durante as horas seguintes, enquanto meu celular seguia carregando no meu quarto.

Aquele foi o meu momento de desligamento, mesmo que com várias falhas, mas foi divertido e já tinha algum tempo que não fazíamos isso, então quis tentar aproveitar, embora os pensamentos vinham e iam com muita frequência durante o nosso filme. Faz parte, quem nunca viveu um drama, que atire a primeira pedra.

Levei tudo pra cozinha, lavei a louça e fui pro meu quarto. Me deitei em minha cama, sem pegar no telefone, e fiquei, novamente, olhando pro teto. Seu rosto, seu sorriso e seu cheiro... sua pele em contato com a minha. Respirei fundo e decidi me focar um pouco só na parte boa. Seu olhar, seu jeito de falar quando se dirigia a mim... era tão gostoso pensar nisso.

Meu celular vibrou. Respirei fundo, ainda imóvel e desmotivada. Senti meus olhos lacrimejarem de forma involuntária. Não foi uma emoção grande, mas é que havia uma angustia dentro do meu peito. Eu queria falar com ela, queria muito, mas não queria ouvir o que ela poderia ter a me dizer... minha ilusão tava tão gostosa, que não queria ter um choque de realidade.

– "Vi aqui que amanhã deve fazer sol, mas não deve ficar muito quente, aí pensei em ver se você toparia de ir no parque que abriu no shopping aqui perto de casa." – Era ela, era Bruna.

Meu coração parecia que ia saltar pela boca, não só por ela ter feito contato, mas por todo o contexto, porque ela não tocou no assunto constrangedor e, além disso, estava me chamando pra sair.

– "Quem vai?" – Perguntei ansiosa.

Se todos fossem e se ela ainda sugerisse de chamar "a minha amiga", isso seria um pouco frustrante perto de toda empolgação que aquela mensagem havia gerado em mim, ainda mais se os meninos também fossem... em especial o Leo.

– "Só eu e você." – Respondeu.

Dei um pulo da cama e comecei a andar de um lado pro outro dentro do meu quarto. Bruna estava me convidando pra irmos num domingo à tarde num parque de diversões. Tem noção? Porque eu juro que, pra mim, estava difícil de assimilar o que estava acontecendo ali.

– "Isso parece um encontro." – Falei.

O que é um pingo pra quem já está encharcado? Já tava na merda mesmo, então resolvi jogar mais um verde. Era arriscado? Talvez, mas já que o primeiro não impediu que aquele convite ocorresse, então joguei... eu precisava muito daquela resposta.

– "Se você quiser... pode ser. Você quer?"

– "Quero."

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LGBT - À Primeira VistaWhere stories live. Discover now