34- Já To Indo

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Por mais que estivesse tudo dito e definido, ainda assim não me sentia bem ali sentada com Julia. Minha perna balançava desesperadamente, porque minha ansiedade estava gritando dentro de mim. O que fazer? É isso? Acabou assim? Fico aqui comendo como se nada tivesse acontecido?

– Você não ta se agüentando, né? – Me perguntou Julia.

– Não to... não sei o que fazer, já fui atrás dela, já conversamos, mesmo que rapidinho, mas sei lá, parece pouco pra mim.

– Olha, pelo tempo que a gente ta aqui, ou ela já foi embora, ou ta pra ir... quer ir até lá? Se quiser eu vou contigo.

Fechei meus olhos e respirei fundo enquanto minha perna continuava a se sacudir. Realmente não havia mais o que dizer, mas acho que eu precisava ver, como se isso fosse a confirmação do que já estava dito. Acabou? Acabou mesmo? Esse era o nosso fim? Depois de tudo que vivemos e sentimos, era assim que íamos terminar?

Me levantei afoita e sai andando com Julia vindo atrás de mim e nem sei que fim deu ao que estávamos comendo, porque isso pouco me importava naquele momento, eu só queria ir até lá, mesmo que correndo, pra conseguir um último olhar, um último "adeus", ou sei lá mais o que poderia conseguir.

Será que eu tinha realmente dito que precisava dizer? Será que tinha realmente dito o quanto ela era importante pra mim e o quanto eu a amava? Será que tinha conseguido deixar claro o que tudo aquilo significava, ou será que isso tudo aconteceu apenas dentro de mim e não consegui expor como deveria?

Eu corri, às vezes literalmente, sem saber se Julia estava ou não conseguindo me acompanhar, mas é que minha mente estava em turbilhão enquanto o meu peito parecia que ia explodir. Precisava chegar antes que ela fosse embora e nem sabia se isso seria possível por causa do tempo, mas fui, desesperadamente, eu fui.

Cheguei em seu prédio suada e afoita, entrei as pressas pelo primeiro portão e parei angustiada no porteiro perguntando se Bruna já havia ido embora, quando a vi surgir antes mesmo de ouvir uma resposta, vinda do corredor dos elevadores, com uma mala e uma daquelas caixas de pet.

Não sei o que me doeu mais, se foi ver a mala, ou ver a caixa de pet, já que toda vez que dormia fora ela pedia pro seu vizinho cuidar do cachorrinho, mas dessa vez Bruna o estava levando... ela realmente estava indo embora e aquela cena me chocou mais do que qualquer outra coisa.

Seus olhos brilharam ao me ver, foi essa a impressão que tive enquanto vinha se aproximando e colocando suas coisas no chão. Respirei fundo enquanto me sentia em choque por ver algo que já sabia que estava acontecendo... eu nunca amei ninguém como amava aquela garota.

– O que você ta fazendo aqui? – Me perguntou Bruna em tom suave e quase sorrindo.

Me afastei do porteiro e fui em sua direção. Eu a abracei como nunca havia feito enquanto sentia meu coração martelar dentro do peito. Não importava como aquilo ia terminar, mas ainda havia algo a dizer e eu realmente não podia deixá-la ir sem antes fazer isso, que era mais por mim, talvez, do que por ela.

– Não sei se já te disse antes, mas você foi a melhor coisa que me aconteceu em anos e eu te amei, com todas as minhas forças e de todo o meu coração, mesmo que, em muitas vezes, minha razão me dizia pra não fazer, mas isso foi algo muito mais forte do que eu e, cara, eu não podia te deixar ir embora se te dizer isso. – Falei, olhando em seus olhos. – Eu amo você, de verdade, eu te amo e te ver indo embora me rasga a alma, mas se é o que você precisa fazer, faça... eu só precisava te dizer isso, mesmo que de novo.

As lágrimas voltaram a escorrer por meu rosto. Não faço ideia se o porteiro estava nos olhando, ou se Julia havia conseguido chegar a tempo de nos ver ali, porque minha sensação era como se não existisse mais nada além de nós duas. A mulher da minha vida estava indo embora sem previsão de retorno... não tinha como ser menos do que isso.

Os olhos dela brilhavam e se enchiam d'água quando sua mãe se aproximou, com uma cara emburrada, e dizendo:

– A gente precisa ir.

– Já to indo. – Respondeu Bruna.

Se houvesse um buraco no chão, eu certamente me enfiaria nele sem pensar duas vezes. Sua mãe se afastou de nós e eu a olhei de volta com cara de quem estava muito assustada. Bruna sorriu em meio as lágrimas e disse:

– Você também foi a melhor coisa que me aconteceu, sua louca.

– Eu não vi sua mãe. – Falei, em choque.

– Ela tava bem atrás de mim, descemos juntas no elevador, mas não se preocupa, pra colocar um fim na palhaçada do Leo eu tive que ter uma conversa bem sincera com ela, mas não quero e nem posso falar disso agora.

– Vai ficar tudo bem, então?

– Espero que sim, em algum momento.

Bruna segurou meu rosto com ambas as mãos e me beijou, no meio da portaria, com o porteiro e sua mãe em algum lugar que pudesse estar nos vendo, além de qualquer outro morador do prédio e Julia, que era o menor dos problemas, como se nada demais estivesse acontecendo, depois me abraçou e disse:

– Fica bem. Te amo.

– Você também.

– Agora preciso ir, meu pai ta ali fora no carro esperando a gente.

– Seu pai? – Perguntei atordoada, mas já era tarde.

Ela pegou sua mala e seu cachorrinho do chão e saiu, portão a fora, entrando num carro estacionado em frente, junto com sua mãe. Antes de sumir ainda olhou pra trás, olhou pra mim, sorriu e piscou, com ambos os olhos, lentamente, como se aquele fosse o nosso adeus.

Depois que o carro partiu foi que percebi a presença de Julia ao meu lado e nem sei como, ou em que momento, ela chegou ali, de tão atordoada que eu estava com tudo aquilo. Respirei fundo, agora um pouco mais aliviada, enquanto sentia Julia me abraçar de lado e, com uma voz calma, perguntar:

– Será que agora a gente pode comer em paz?


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Ai ai Deus, faltam só 2 hein, quarta que vem tem mais

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