Amor Marginal (Romance Gay)

Capítulo V: Visão de cria

Depois de anos Miguel estava de volta definitivamente. Ainda não consegui assimilar bem aquela informação e quando o vi naquele terno preto quase tive uma parada cardíaca. O puto tinha presença, isso era inegável. Eu só não podia deixar a presença dele me afetar.

- Miguel voltou! O morro inteiro só fala disso. - Minha mãe chegou toda animada do trabalho. Ela havia dormido na casa da patroa e só havia conseguido chegar em casa agora. Revirei os olhos a ponto de quase conseguir enxergar o meu cérebro ao ver a animação dela. - Vou fazer um jantar especial pra ele aqui em casa, pode tratar de se arrumar pra receber o Miguel. Vai cortar esse cabelo, colocar uma roupa decente...

- Ih mãe, viaja em mim não. Quem vai receber ele é você.

- Você também, Filipe. Vocês são amigos, não se vêem há bastante tempo... - Miguel sempre foi o mais nerdzinho. Enquanto eu era o porra louca e mau exemplo, ele era o completo oposto, sempre servindo de bom exemplo para todos da comunidade. Os pais dele nem aprovavam nossa amizade, porém eles não nos impediam de ter contato porque pra mim era bom ter uma "influência" positiva no meu ciclo de amigos. Era isso que os pais dele diziam para minha mãe. Eles a apoiavam muito, principalmente por ser mãe solteira. Mas a real mesmo é que essas comparações me irritavam demais. Principalmente porque eu conhecia Miguel de verdade e eu sabia que ele não era esse santinho que todos pintavam. Por baixo da máscara de bom moço, havia o menino que sempre abusava de mim como amigo, sempre tirando proveito e tirando cascas.

- Nós nunca fomos amigos, você que forçava a gente a conviver. - Minha mãe balançou a cabeça negativamente e eu saí de cena antes que ela me desse um sermão. Agora essa é boa, vou ter que ficar me emperiquetando e fazendo sala pra Miguel enquanto vejo minha mãe o enaltecendo e o comparando comigo? Dispenso. Prefiro cuidar dos meus assuntos.

Mandei uma mensagem pro VH e ele pediu para que eu comparecesse em sua casa o quanto antes. Subi na minha moto, coloquei o capacete e fui em direção ao meu primo, seja lá o que ele queria, parecia ser urgente.

Me enfiei entre as vielas da comunidade, acelerando e mexendo com um cria e outro que via. Passava buzinando para não atropelar ninguém e, durante o trajeto, acabei avistando Miguel que parou diante da minha moto, o que ele estava fazendo aqui no topo do morro? Não tirei o capacete e nem disse nada, apenas o encarei até ele sair da frente.

- Cuidado, garoto. - Ele disse indignado e eu respondi acelerando a moto, fazendo o ronco do motor soar alto. Continuei meu caminho e fingi não me abalar ao vê-lo.

Miguel agia como se fosse o maioral. Se ele pensa que aquele terninho sob medida dele vai me enganar igual engana a todos, ele está completamente errado. Era incrível como todo mundo pagava pau pra ele. O certinho, filho do pastor... Se todo mundo o conhecesse como eu conheço... Enfim, espero que ele tenha mudado.

Cheguei na casa do VH e a mansão no topo do morro mais parecia uma fortaleza inacessível. Estava cercada de crias armados, o muro era alto com fios elétricos de proteção e câmeras de segurança. A casa por trás do muro era bonita, porém para chegar nela tinha todo um protocolo de segurança exagerado, parecia muito com o interior do meu primo. Quem conhece o Victor Hugo no íntimo, sabe que ele é uma pessoa muito especial, porém poucos tinham acesso a esse lado carinhoso e para chegar ali era bem difícil.

- VH. - O chamei assim que entrei pela porta da frente. A sala era ampla, branca, clara pra caramba e com móveis também brancos. Parecia a recepção de um SPA, tá ligado? Minha mãe piraria com isso, como manter limpa a casa toda no branco assim?

- Tô aqui, Filipe. - Meu primo estava na cozinha, caminhei em direção ao cômodo e ainda continuava o tom de branco transmitindo certa paz e tranquilidade a medida que vc vai permanecendo. Principalmente por estar tudo arrumado e cheiroso, meu primo tinha mania de limpeza, então já viu...