Capítulo IX: Sucessão

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Depois que o idiota do Filipe transou comigo eu o expulsei não só dá minha casa, mas também da minha vida. Assim que eu descobri que ele praticamente me entregou pro Gabriel eu não consegui confiar mais nele, até porque ele nem me pediu desculpas e falou aquilo como se não fosse nada. Babaca! Quero ver se fosse o contrário, eu chegando na boca de fumo dele e falando pra alguém que era comigo que ele transava toda noite e não com alguma novinha como ele costumava falar. Mas enfim... agora ele virou passado. Faziam uns três dias que a gente não se falava. Eu até que o via com frequência no morro e agora ele cismou de frequentar a igreja para participar do projeto de artes, porém eu não estava à fim de falar com ele. Eu precisava virar essa página o quanto antes.

Por outro lado, Gabriel tratava Filipe igual um neném. Era Filipe pra lá, Filipe pra cá, chegava a me dar náusea. Ele estava fazendo pixo e várias outras coisas com os jovens da igreja e o que me conforta é que pelo menos ele parou com o tráfico, mesmo não sendo por livre e espontânea vontade e sim porque o primo o afastou. Agora ele estudava, se envolvia em trabalhos voluntários na igreja e, mesmo com todas essas mudanças eu ainda não conseguia me reaproximar dele, pois sabia que isso seria prejudicial.

Eu estava no ministério de louvor, Gabriel tentou, mas não conseguiu me impedir. Meu pai mexeu uns pauzinhos e ele acabou cedendo e deixando o ministério comigo, porém sempre sob a supervisão dele. Ele gostava de deixar claro que era ele quem decidia as coisas no ministério, mesmo eu sendo o líder. Era uma liderança de fachada, porém eu gostava de estar ali com os jovens e ensinando sobre música, algo que eu gostava bastante.

- Essa é a playlist do culto de amanhã, Gabriel. - Mostrei o papel com os nomes das canções para Gabriel aprovar e ele passou o olho, riscando algumas e anotando outros nomes no lugar.

- Pronto, agora está perfeito. - Ele trocou duas canções e me entregou a lista.

- Deseja mais alguma coisa? - Eu odiava ter que tratá-lo como um superior, porém ele deixou claro que eu deveria me dirigir assim quando fosse falar algo com ele, na verdade Gabriel queria me dominar de alguma forma, mas deixa estar, o que é dele está muito bem guardado.

- Não, está ótimo. Estou gostando muito do seu papel aqui na igreja, Miguel. Está indo tudo conforme planejado. - Dei um sorriso forçado e aceitei o "elogio" dele, pois nem preciso dizer que ele me ameaçou super com a parada do Filipe, fora que assim que o ex traficante decidiu entrar no projeto de artes ele já veio logo colocar a faca no meu pescoço dizendo que se acontecesse algo que desonrasse a congregação dele, ele acabaria comigo e com Filipe. Idiota.

Saí da sala do diácono com ódio no coração e dei de cara com Filipe no corredor. Nos esbarramos e ele passou direto sem falar nada, e muito menos olhar na minha cara.

- Como sempre a educação mandando lembranças... - O alfinetei, porém diferente das outras vezes ele não retrucou. Filipe virou a cabeça para me olhar e logo após saiu andando com pressa, como se estivesse fugindo. Naquele simples esbarrão vieram várias memórias de nós dois. Eu sei que não podíamos ter nada, mas porra... Eu estava com saudades dos toques e do beijo dele. Queria tanto que ele tivesse parado para falar alguma coisa, queria que ele fosse agressivo e me colocasse contra a parede, que me chamasse de playboyzinho, metido, qualquer coisa. Queria discutir com ele e no final meter até ficar cansado, mas aparentemente isso não iria rolar nunca mais. Bufei um pouco frustrado e saí de cena, odiando essa distância entre mim e Filipe, mesmo eu tendo sido o autor dela.

Filipe

O filhinho do pastor estava tentando me testar. Ele tava doido pra me dar, só não sabia como pedir e, claro, eu não iria facilitar. Não foi ele que não quis mais me ver? Me expulsou? Fez ceninha? Então... Ele que arque com as consequências. Agora eu estou mudado, estou focado no meu trampo, focado nos estudos e tentando levantar uma grana pra comprar os remédios da coroa. Depois que o VH me tirou do tráfico eu não quis saber mais dele também. Cortei todo tipo de relação e nem o dinheiro dele eu estava aceitando mais. Com certeza minha mãe não pegava dinheiro com ele, pois ela tinha pavor dessa parada de aceitar dinheiro de tráfico, então a gente estava vivendo basicamente do dinheiro que o pastor ajudava e dos corres que eu fazia. Tudo isso para viver em paz.

Amor Marginal (Romance Gay)Where stories live. Discover now