Houve um dia na minha infância em que questionei duramente meu pai sobre o porquê dele estar fazendo aquelas coisas comigo. Se ele queria o melhor para mim porque não me tirava do lugar podre em que vivíamos? Ele me disse que era impossível sair de lá, pois não era o lugar, éramos nós dois. Ele dizia que quando olhava para mim eu o lembrava da minha mãe e, mesmo que não me lembrasse do rosto dela ou tivesse alguma memória sobre ela, eu acreditava que éramos parecidos. Então meu pai me disse que, mesmo que ele fosse um desgraçado, ainda iria me proteger e por mais merda que ele tivesse feito comigo, foi a única pessoa em que pensei como uma espécie de família. Mesmo que estivéssemos sozinhos e distantes. Quando ele foi morto eu sofri o luto, estava só, mas não apenas me sentindo só, logo vi que realmente fiquei só por minha própria conta.
Quando olhava para Ryung me pegava pensando se era capaz de protegê-lo, eu tinha invadido o mundo dele, mas não podia deixa-lo se aproximar do meu, porque era podre e ruim; e ele não merecia algo assim. Então tinha tentado viver no mundo dele, porém apenas causei desastres, caos e destruição. Eu ficava olhando-o dormir do meu lado e pensava que não o merecia, pois ele era bom demais para alguém como eu.
Agia como um idiota, no entanto quando pensava na hipótese de deixá-lo próximo ao meu mundo, era o suficiente para ele virar um alvo, me desesperava. Entretanto eu era fraco o bastante para não deixá-lo ir para longe, onde era seguro. Ele foi a única coisa boa que aconteceu no meu mundo de desastres e vazio. Sempre que tentava o tocar soava como se eu estivesse o machucando e aquilo era doloroso. Eu estava apenas tentando o proteger de tudo e todos, até mesmo quando ele estivesse errado, porque ele foi o único capaz de me prender, e amar. Ele me suportava mesmo eu sendo todo o Caos. O único que conseguiu enfrentar o Caos e ganhar.
Respirei fundo, olhando para Ryung e deslizei as costas dos meus dedos pela sua bochecha, o vendo respirar fundo, ainda dormindo. Não havia nada nem ninguém no meu mundo, apenas eu, então meu mundo tinha ele, e eu não sabia o que fazer. Mimado, birrento e pirracento. Fazendo-me não saber lidar com ele.
Mas Ryung foi a primeira pessoa na minha vida capaz de me afrontar e aquilo me parou e desmoralizou, porque, mesmo que eu pudesse o vencer, toda a sua coragem me fez ceder. Eu não me importava mais em abaixar a cabeça quando ele gritava comigo por eu estar errado, por ele eu dava os passos necessários para trás, era capaz de ceder. "Se você quer muito algo, deve estar disposto a sangrar por aquilo". Eu o queria, então deveria estar disposto a tudo por ele.
Percebi que quando ele estava triste, eu ficava triste; quando ele estava com raiva, eu ficava irritado e se ele estava com raiva de mim, eu me sentia arrependido. Quando ele sorria, eu sorria e quando ele queria algo fazia de tudo para buscar aquilo que ele desejava, faria o possível para vê-lo feliz. Eu queria o ver rir constantemente, mesmo que o motivo da piada fosse eu. Não importa, ele não me machucava. Quando éramos apenas nós dois sabíamos ser algo bom. Então isso devia ser todo aquele negócio que Dylan me dizia sobre amar alguém, que quando se ama tudo que você pensa é sobre aquela pessoa, tudo que se quer é vê-la bem.
Deslizei as pontas dos dedos pela sua barriga e meus olhos se levantaram até seu rosto, o vendo dormir. Inclinei-me, beijando seu ombro e ele se mexeu. Eu não acreditava no lance de almas gêmeas, nem em todo aquele papo furado de cara metade. Eu pensava que Ryung era importante para mim e o mínimo que eu deveria fazer era o proteger de tudo e, para alguém que viveu como eu, era estranho se preocupar com algo que não fosse a sua própria cabeça.
Eu dei tudo, meu tudo e não sabia se estava errado em também querer o tudo dele. Mas, mesmo que ele não me desse seu tudo, mesmo que ele só me desse um pouco, já seria o suficiente para um cara que não tem nada.
Meus olhos se abaixaram e eu beijei o dorso de Ryung, descendo pelo seu peito. Minhas mãos massagearam sua cintura e ele balbuciou algo que eu não entendi. Deixei beijos molhados, que viraram mordidinhas, que se tornaram chupões, e Ryung tremeu, gemendo quando cheguei na sua virilha.
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Underground 2: Fora do ringue ( original version)
RomanceSérie Mafia Portinari ( Livro 3 ) VIOLÊNCIA/ LUTAS/ TRANSTORNO/ LEMON HARD/+18 A vida sempre foi como um ringue para Christopher Arcangelo. Preso em um ciclo vicioso, movido pela raiva e a dor, o grande lutador de Underground era apenas um caos viv...