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HERÓI. É o termo atribuído ao ser humano que executa ações excepcionais, com coragem e bravura, com o intuito de solucionar situações críticas, tendo como base princípios morais e éticos.

Para Eliza de cinco anos de idade Vasily Karpov era seu único herói possível, era quem a colocava para dormir, quem fazia sopa na noite fria, quem carregava no colo e quem tinha ensinado a ela a andar de bicicleta. Vasily era seu pai, só mais um cara que saía de manhã para salvar o mundo e voltava à noite em tempo de colocá-la na cama.

Tudo parecia muito mágico com o pai, muito fácil e mais colorido e apesar das constantes mudanças, os dois eram ótimos em serem pai e filha. Vasily amava a filha mais que tudo e Eliza amava o pai acima de tudo.

Para Eliza de dezessete anos, treinada pelo Soldado Invernal pelos os últimos 3 anos, Vasily era exatamente o que Steve Rogers tinha dito que ele era. Um monstro. 

Tudo era vago e tudo parecia ter virado uma grande farsa, ele não era herói, lutava do lado errado e torturava pessoas, fazia parte de um grupo de pessoas que o seu bisavô tinha lutado para destruir. Vasily amava a filha mais que tudo e Eliza não sabia mais se ainda amava o pai.

Eliza foi montando questionamentos conforme via as coisas acontecendo dentro da HYDRA, conforme via o jeito que tratavam o Soldado, conforme observava as ordens dadas pelo pai ao longo dos anos. Eles diziam estarem certos e estarem fazendo tudo aquilo pelo bem maior, ainda assim parecia errado.

Depois que começou a ser treinada sua vida se resumia a casa e treinos, visitava os bisavós uma vez ao ano somente, sempre junto do pai porque não podia correr o risco de deixar ela contar tudo que sabia e o que via. As coisas ficaram insosas, sem cor, sem mais aniversários ou natais ou qualquer outra data, sem viagens, sem cachorro. Eliza tinha quase certeza que tinha cometido um crime, só não sabia qual.

Aos poucos o tatâme foi virando quase que um tapete de sala de estar e o Soldado que não proferia palavras tinha virado sua melhor companhia, dias e noites de treino, dias e noites presa com ele no mesmo lugar para que ele se habituasse a sua presença. Eliza não sabia mas Vasily tinha certeza que usariam o Soldado Invernal para matá-la se fosse preciso, então ele preciava que ele ensinasse a ela, como se defender do indefensável. Não tinha sido uma boa estratégia ele admitiria isso mais tarde se tivesse tido mais tempo para se arrepender.

Vieram as brigas, as acusações, as tentativas de fuga e as tentativas de ver o Soldado livre, todas em vão. Depois de um tempo e logo após uma pequena ameaça a vida de sua querida bisavó Charlote, Eliza desistiu.

 
Tinha dezessete anos e estava exausta, queria uma vida ou queria morrer de vez, o pai então optou por deixa-la ir. Foi cursar enfermagem em Yale, queria aprender a cuidar, queria ser enfermeira como a bisavó tinha sido, queria deixar todo o passado para trás enterrado, jurou ódio eterno ao pai por tudo que ele era.

Mas o que é nosso carregamos junto até a morte, e o que era dela era ser a única coisa viva que o Soldado gostava. Por isso ela era arrastada até Washigton periódicamente para acalma-lo depois de algumas missões. Apenas sua presença bastava para ele, sua voz o deixava inerte, não era preciso muito da parte dela. Mas para ela foi ficando pouco reação alguma, até que um dia se atreveu a beijar os lábios daquele ser. O que não era nada virou um caso de amor tórrido e impossível. A paixão pelo Soldado Invernal foi crescendo, tomando conta, inundando peito a dentro, enquanto o amor e carinho que ainda tinha pelo pai definhava.

Vasily sabia, no fundo acho que todos os pais secretamente sabem o que os filhos precisam, mesmo sendo contra ele sabia que precisava fazer o que era certo, concertar era uma palavra muito forte, mas quando a Shield caiu ele viu a chance de tentar se redimir com o universo, destruiu todos os arquivos que podia sobre o Soldado Invernal e guardou consigo aquele caderno vermelho com uma estrela na capa. Uma noite antes do que estava para acontecer ele dirigiu mais de 12h para ir ver a filha pela última vez, olhou de longe Eliza deitada no gramado da universidade com os colegas, era uma tarde bonita para uma despedida. Se aproximou e lhe deu um longo e apertado abraço, disse que lhe amava e pediu desculpas. Virou as costas e foi embora sem explicações, se não fosse assim não consegueria. Foi a última vez que Eliza viu seu pai. 

Deriva - Bucky BarnesOnde as histórias ganham vida. Descobre agora