Capítulo 14 :

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ARTHUR

Com um copo de uísque na mão e a camisa social arregaçada, contemplo o quarto infantil parcialmente decorado para Isabella. Liguei para Thiago avisando sobre esse contratempo. O cretino primeiro gargalhou, se vangloriando que sua praga pegou, e depois concordou em me dar folga, afinal estou deixando que cuidem da minha empresa por terceiros para cuidar da dele de graça.



Mas nem por isso meu dia deixou de ser menos atarefado, foi uma força-tarefa de gente entrando e saindo do meu apartamento, para que pudesse organizar tudo. Tive até mesmo ter que tirar o meu pôster da melhor capa da playboy com a Pamela Anderson no meio da sala e esconder a imagem. Mas valeu a pena, o quarto de Isabella ficou bem bacana, considerando que montaram tudo em apenas uma tarde, um dos benefícios de se ter dinheiro. Eu não entendo nada de temas femininos, então apenas segui a dica de Carla e repassei para a designer de interiores, para que ela pudesse fazer o melhor nesse curto tempo.




Olhando bem, acho que a criança vai gostar. Agora que sei da sua existência, tentarei oferecer a ela uma vida confortável, ainda que não faça ideia de como isso funcionará. Não faço a mínima ideia do que fazer, como lidar e cuidar de uma criança. Sempre fui padrinho de Zé, mas sou apenas o tio legal que dá presentes e o diverte, sem toda a responsabilidade de lidar com um pequeno ser humano que vai se formar e se espelhar nos meus gestos, no adulto responsável. Isso é muito assustador, aterrorizante, na verdade. Ser o herói de alguém, ou melhor, o exemplo é algo que não esperava.



A campainha toca, me tirando do devaneio, sinto a mão suar, já sabendo que se trata da chegada dela. Sigo para atender, e quando abro a porta sou surpreendido por Mariano e o zelador do prédio chegando com diversas malas gigantes que ocupam minha sala. Vejo um amontoado que me deixa confuso, me questionando onde ela vai pôr tudo isso. Rapidamente eles se despedem, deixando ali aquela confusão. Não demora para que escute seus saltos ecoando no lobby do corredor, nunca senti um frio tão gelado na minha espinha dessa maneira; Carla aparece com semblante sério, e logo noto a criança nos braços, só vejo os cabelos loiros com cachos nas pontas. Incerto se devo me aproximar, apenas ponho as mãos no bolso, hesitante, e olha que eu não hesito nunca, porra!




Carla cochicha algo para ela e a põe no chão. A criança me olha com curiosidade e mede olhar com a mãe, como se esperasse concordância da parte dela. Eu a encaro pela primeira vez, tem a cor dos meus olhos, mas os traços, principalmente a cor da pele branquinha e o rosto, são da Carla. Isabella tem o formato dos olhos dela, mas verdes como os meus, os cabelos dourados lisos e cacheados nas pontas. Ela é uma mistura perfeita de nós dois. Eu me agacho para ficar quase do seu tamanho, e para minha surpresa, ela corre até mim, sorridente, me abraçando de uma forma bastante genuína e inocente. Apoiando a cabeça em meu ombro, sou pego de surpresa com essa sensação nova que brota em meu peito, enquanto retribuo o abraço gostoso. Meu peito está explodindo, o coração batendo forte.



Bella: Que saudade de você! — ela fala, cheia de ternura, como se já me conhecesse e fosse apenas um reencontro com alguém que ela convivesse desde sempre, e não um primeiro encontro.



Sinto meu coração roubado imediatamente por essa espontaneidade tão genuína. Porra, essa garotinha mal chegou e me pôs em suas mãos!




Arthur: Oi, eu sou o Arthur, seu pai — eu me apresento, e ainda que eu não fizesse ideia da sua
existência, ver a garotinha aqui na minha frente provoca uma enxurrada de energia que aquece o peito.




Tais palavras saíram com dificuldade, tamanha
dose de emoção que eu sinto. Minha voz saiu até mesmo travada, trêmula. Estou rendido pela emoção que ela me desperta ao ver com meus próprios olhos que eu tenho uma filha realmente minha. Mal consigo acreditar que essa pestinha diante de mim, sorrindo de um jeito tão lindo, com um furinho na bochecha, é fruto de uma noite insana de bebedeira com a louca da mãe dela.



Bella: Eu sou a Isabella. A gente é parecidos né?




Ela é inteligente e perspicaz, e nem um pouco tímida, percebe nossas semelhanças ao me encarar com curiosidade. Isabella parece fascinada pelas tatuagens no meu braço quando passa a mão com cautela, me conhecendo.



Arthur: Sim, você é mais bonita que eu. Nossos olhos são iguais!



Seu sorriso se alarga de um modo lindo, e seus olhos brilham pelo elogio. É a coisinha mais fofa do mundo; sinto meu coração não cabendo no peito, de um jeito que nunca senti em toda a minha vida ao olhar para uma criança. É uma sensação diferente de todas as vividas antes. Só de saber que ela é parte de mim, que essa menininha mais linda que eu já vi veio de mim, meus olhos até mesmo ameaçam marear, tamanha explosão de sensações esquisitas e efervescentes. Isabella, bastante animada, volta a me abraçar forte, toda saudosa.




Arthur: Tenho uma surpresa para você, pestinha.




Eu me recomponho desse momento, a pondo no chão e bagunçando seus cabelos, que ela trata de arrumar rapidamente. Eu a ajudo a tirar a mochila roxa das costas e sigo com ela agarrada na minha mão. Caminhamos de forma apressada para que ela descubra a surpresa; Carla, que até então se manteve calada e vigilante, apenas observando a situação, parece trazer segurança a filha, que olha para ela a cada vez que se sente incerta sobre o que deve responder. Abro a porta e deixo que ela entre primeiro, e Isabella atravessa o quarto correndo e girando para ver seu novo quarto rosa, com os móveis todos combinados.



Bella: Meu coração tá fortão! — Energética, levando a mão na boca e a outra no peito, surpresa como uma mini-adulta. Chega a ser engraçado sua autenticidade.




Ela vai conhecendo cada pedacinho do quarto, e
delira quando vê que há um grande quadro na parede da tal princesa que a mãe disse que ela ama. É uma satisfação da porra agradar uma criança! Ela grita, animada, sacudindo os bracinhos, pulando no mesmo lugar, mal se contendo. Eu rio orgulhoso, vendo que consegui alcançar meu objetivo. O esforço e correria do dia valeram a pena. Ela se joga de vez em cima de mim, agarrando minhas pernas, e eu a puxo para meu colo para ficarmos na mesma altura.




Bella:Eu vou contar para todo mundo! Brigada!



Com a criança sumindo em meus bíceps, eufórica pelo quartinho que nem ainda está totalmente finalizado, eu a abraço com cuidado. Em seguida, viro o olhar para Carla, que está próxima de mim, de braços cruzados, sorrindo toda derretida e amorosa para a minha interação com a criança. Nem parece a tinhosa que é. E mesmo sendo cedo, acho que finalmente entendo os motivos de Thiago ter feito o que fez por José. Por essa garotinha que acabo de conhecer, eu faria o mesmo e farei de tudo para protegê-la de tudo de ruim ao seu redor, só para ver esse sorrisinho mais vezes.

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