Capítulo 42 :

999 78 313
                                    


CARLA

Sentindo uma pressão no peito e um aperto na garganta, tento cessar o turbilhão de dor no peito, mas esse sentimento é pior que qualquer coisa. Não aguento mais essa sensação de viver em um eterno limbo, de insuficiência, de que nada vai dar certo, de ter e não ter ao mesmo tempo. Meu pai tem razão, minha vida é medíocre; e pior, dessa vez Arthur não está desaparecido, está bem aqui, no outro cômodo, mas optou por não sermos uma família. E essa sensação é parecida com o medo que senti quando ele voltou à minha vida: receio da rejeição.


Ele mostrou que decidiu sobre tudo sem mim, então está na hora de eu fazer o mesmo. Sem querer ficar aqui me lamentando por algo que não quis que desse certo, limpo minhas lágrimas com muito custo, precisando decidir meu futuro sem esperar o melhor momento para que as coisas aconteçam.



"Não deixe o escuro te atormentar, siga em frente e seja corajosa."  Era o que minha mãe sempre dizia para mim, porque eu não gostava de dormir sozinha, tinha medo do vazio e do silêncio do meu quarto.


Suas palavras acolhedoras se encaixam perfeitamente nesse momento. Sinto tanta saudade dela; sei que minha vida não seria essa bagunça se ela estivesse ao meu lado. Minha mãe saberia perfeitamente como me acalmar agora, teria um plano incrível de super-heroína pronto para ser posto em prática. Foi por causa dela que eu quis seguir com a gestação de Isabella. Sei que ela também engravidou cedo, e não desistiu de mim. Uma pena que o câncer a tenha levado antes de me ver aprender a identificar os tipos de roupas e descobrir que o escuro não era tão apavorante quanto o peso da sua falta. Nas minhas lembranças, ela sempre estava com uma taça de espumante entre os dedos, ouvindo jazz pela casa, cheia de sorrisos. Era serena demais, refinada e gentil, mesmo que amasse correr pelas fazendas como faço hoje. Sua presença trazia calmaria.


Acho que, no final das contas, eu quero tanto que a boutique dê certo porque assim retomo lembranças dela, nem tanto pelo dinheiro, afinal seria mais fácil não peitar meu pai e viver sob suas asas o restante da vida. Porém, gerenciar essa marca nos aproxima. Durante a primeira gravidez, eu corria para o depósito, era e sempre será meu porto seguro, meu ponto de paz, porque era como se ela estivesse mais perto de mim. Ter a sua boutique e marca é muito mais que um sonho realizado, me faz ter a sensação de estar no lugar dela, comigo sendo a mãe em vez da filha. Tento fazer com que minha pequena se sinta especial e única ao meu lado, quero que tenhamos uma relação gostosa, como minha mãe fazia. Isabella gostar do vinhedo, querer estar ali em meio às uvas, curiosa com o que estou fazendo, é uma honra para mim.

E sei que se minha mãe estivesse aqui, me daria um ótimo conselho sobre não parar no primeiro ou no vigésimo obstáculo, não me intimidar pelas dificuldades. Diria quão preciosa eu sou e me lembraria de que, se ela conseguiu ser forte e otimista até o último dia de vida, já carequinha e pálida, aguentando tudo aquilo sem deixar de acreditar, fazendo de cada dia da sua vida um momento inesquecível, eu também sou capaz de lidar com meus problemas. Sigo seu exemplo à risca em tudo que aparece pelo caminho. Agora não será diferente. Preciso ser um exemplo para minha filha, para os meus filhos, como ela foi e é para mim até hoje.


Não vou esperar que Arthur dê seu golpe de misericórdia, que me coloque para fora, já que demonstrou com clareza que não me quer mais por perto. Sei o momento de sair e sei também que mereço bem mais do que um homem que hesita em me querer em sua vida, ainda que o coração doa demais pelas coisas estarem acontecendo dessa forma. A falta da resposta dele também é uma resposta, porque o sim é inconfundível e claro, não deixa dúvidas. Mas com Arthur qualquer coisa parece complicada, e eu estou cansada de complicações, farta. Só quero algo tranquilo e recíproco.


O Canalha! Donde viven las historias. Descúbrelo ahora