Capítulo 17 - Conveniente (C)

20.1K 1.4K 3.4K
                                    

Há determinados acontecimentos na nossa vida que somos predestinados a passar. Eu, por exemplo, achava que o gesto de gostar de uma pessoa não fosse para mim. 

Karla Camila Cabello Duarte

Sabe esse sentimento gostoso, que arde no peito, e que ao mesmo tempo te faz ansiar ficar próxima a uma pessoa específica? 

Eu nunca tinha sentido ele. 

Aos trinta, me acostumei com a ideia de passar uma velhice sozinha, de viver uma vida onde meus únicos propósitos seriam aumentar minhas riquezas, contribuir intelectualmente para a educação do meu país, e ao falecer, deixar toda a minha herança a um sócio querido e à entidades de caridade. 

Nunca levei uma vida miserável. Não há o que sentir pena, foram as minhas escolhas e até então elas estavam sendo suficientes para com os meus planos. Talvez só seja difícil pensar em desejar partilhar seu tempo ao lado de uma pessoa, eu pelo menos achava. Era tão complexo, tão raro, que entrava hora, saía hora, e tudo o que eu mais queria ou precisava entender, era o que motivou a minha amiga, Dinah, a largar toda sua vida e carreira na França apenas para se aconchegar nos braços de uma mulher casada, esta que também arriscava tudo que tinha conquistado. Entendendo este sentimento maluco de Dinah, consequentemente eu entenderia o meu sentimento. A sensação que me fizera deixar Buenos Aires após ver uma maldita foto e vídeo. 

Aquela mesma que me levou a adiar reuniões. 

A sair da rotina. 

A pensar diferente de quando eu tinha apenas trinta anos de idade.

Quando eu entrei na minha casa em Jabaquara, avistando de fininho a mulher mais encantadora, estonteante, que já vi em toda a minha vida, eu me roguei a esconder o buquê de flores e chocolate. 

Me roguei porque eu estava sentindo novamente aquela ansiedade que eu sempre sentia no peito para recebê-la após passarmos uma semana longe uma da outra. Lauren era tão diferente pessoalmente. Me tratava com mais carinho, em seus olhos verdes eu conseguia enxergar admiração. Ela não sabia, mas somente através desse olhar, aos poucos, ELA ia mudando minhas definições de propósito de vida.

— Boa noite...

Aquela camisola preta com barra e alças rendadas.... 

Vira e mexe ela me esperava assim: apenas de camisola, sem calcinha. 

Ao entrar, rapidamente avisto sacolas de um sex shop em cima do nosso sofá. Ela continua me olhando toda maliciosa enquanto isso. 

— Eu trouxe para você. — estendi meu buquê pequeno, porém muito significativo, de astromélias lilás. Ele simbolizava minhas saudades por Lauren. Eu sei que ela não irá me perguntar o porquê das astromélias dessa vez, mas se perguntasse, elas tinham um significado bonito e eu estava louca para contar sobre ele para ela. — Os chocolates também. 

Eram seus favoritos. "Talento", com castanhas do Pará. Eu lembro de ela ter me falado sobre eles na última terça. 

Além do chocolate "Talento", arrisquei com algumas novidades. Chocolates ao leite suíços, os meus favoritos.

— Obrigada... — vamos... me chame... me chame por aquele apelido que eu tanto adoro ouvir do seu timbre rouco dengoso, Lauren. — Quer ajuda para guardar seu casaco? — droga! Ela não me chamou dessa vez. Tudo bem. Terão próximas. 

Assenti com a cabeça, cada vez mais não podendo negar o estado em transe, quase hipnótico, que ela me deixava sempre que me olhava com aquele par de esmeraldas verdes, onde estavam sem resquício algum de maquiagem. 

Shark Tank (Concluída)Where stories live. Discover now