Capítulo 28.

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                                   Maratona.
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                                         🥀

- Priscila? - Carolyna chamou no meio da madrugada, fazendo a maior abrir os olhos
imediatamente.

- O que foi? - Ela perguntou meio sonolenta e Carolyna se virou na cama, enterrando o rosto em seu pescoço.

- Tive um pesadelo. - Ela disse baixinho e Priscila nada disse, apenas envolveu um de seus braços em torno de Carolyna e iniciou uma carícia mansa.

- Quer compartilhar? - A maior indagou e Carolyna assentiu.

- Eu saía daqui e você ficava... E eu nunca mais te via. Você não queria me deixar te visitar, nessa droga de pesadelo. - Carolyna disse e o silêncio se propagou pelo ambiente.

- Sh... - Priscila falou, depositando um beijo nos cabelos castanhos.

A menor a abraçou fortemente antes de voltar a falar algo.

- É exatamente o que fará, não é? - Carolyna perguntou e Priscila a fitou.

Apesar do escuro ela conseguia ver com clareza os olhos castanhos e tristes.

- Eu sou pobre fora daqui. - Priscila disse por fim. - E fodida, eu não tenho ninguém lá fora, sequer tenho aonde ficar. - Confessou. - Nunca fiz uma faculdade e terei a ficha manchada, o que dificultará minhas chances de arrumar um emprego. - Sua mão foi até o rosto de Carolyna unicamente para enxugar uma lágrima solitária. - É isso o que quer para a sua vida?

- Eu quero você para a minha vida e não importa o resto, Priscila. - Carolyna falou e a maior umedeceu os lábios.

- Você merece coisa melhor, Carolyna, alguém que possa...

- Não! - A menor a cortou. - Eu não preciso de alguém rico, eu já sou e sei que o dinheiro não pode comprar amor. - Falou firmemente. - Não preciso de alguém formado em nada, Priscila. Olha, você pode não ter um lugar na alta sociedade, mas cuidou de mim melhor do que qualquer pessoa antes.

- Quando você sair faltará um ano e meio ainda para eu sair, Carolyna. - Priscila disse tristemente. - Você pode encontrar alguém lá fora e...

- Não! - A cortou novamente. - Um ano e meio não é nada perto do resto de nossas vidas.

Priscila sentiu seus olhos arderem, ninguém nunca havia insistido nela daquela forma.

- Você só me conhece há dois meses, Lyna.

- Mas já percebi que o coração da garota que me deu um bilhete anos atrás não mudou e eu gosto disso em você.

- Podemos... Não falar disso agora? - Priscila pediu e Carolyna assentiu tristemente.

- Tudo bem. - Carolyna disse e se inclinou, aplicando um beijo nos lábios da maior antes de se virar, puxando o braço de Priscila junto com ela, fazendo-a abraçá-la.

Fazia semanas que Priscila não dormia na própria cama, Carolyna sempre queria ela ali com ela.

- A terceira vez que nossas vidas se cruzaram foi em um hospital. - Priscila disse do nada, a abraçando mais forte. - E é por essa vez que eu sei que você merece mais do que eu.

Carolyna se virou para ela rapidamente, analisando minuciosamente suas feições.

- Não pode me dizer só isso. - Alegou e Priscila riu.

- Eu posso sim, na verdade, mas não farei isso. - Ela disse. - Meu avô tinha uma doença rara no pulmão e por isso vivia internado. - Ela começou, não vendo o porquê de esconder aquilo de Carolyna. - Ele precisava de duas cirurgias, mas era um valor exorbitante e não tínhamos condições, por isso eu trabalhava de qualquer coisa que aparecesse.

- Eram da Florida? - Carolyna indagou e Priscila assentiu.

- Mudamos para cá porque conseguimos uma vaga num hospital melhor para ele. - Priscila explicou. - Ele estava prestes a morrer e eu sentia meu muito inteiro desmoronando, porém fui contemplada com a notícia de que o número do quarto do meu avô foi sorteado por uma doadora, e com esse dinheiro conseguimos pagar uma das cirurgias que passamos anos adiando. Era você, Lyna...

Carolyna viu o lábio inferior de Priscila tremer e levou uma mão ao rosto da maior, espantando as lágrimas com o polegar.

- Eu sempre faço doações em hospitais, só não tinha a noção da dimensão da minha ajuda. - Carolyna confessou e Priscila sorriu tristemente.

- Você me deu de presente sete meses a mais com o meu avô e eu nunca, nunca irei esquecer isso. - Ela disse, abraçando a menor. - Sempre desejei te agradecer, mas nunca tive a oportunidade, então obrigada, Carolyna.

- Sete meses? - Carolyna perguntou confusa e Priscila assentiu

- Como eu disse, ele precisava de duas cirurgias, só realizamos uma.

Carolyna sentiu seu coração se comprimir em seu peito e sua boca secar.

- Como... Por que você não... Deveria ter me contatado, eu poderia...

Maldito planeta onde sem dinheiro permitiam alguém morrer.

Que tipo de crueldade era aquela?

- Me desculpa, Priscila. Me perdoa, eu poderia...

- Não. Não faça isso com você, meu amor. - Priscila pediu ao ver que Carolyna havia começado a chorar. - Você não poderia saber de nada, sem você ele morreria em semanas, você me deu o melhor presente do mundo, sete meses a mais com ele. - Disse, vendo Carolyna ainda desolada. - Eu só te conheci ali por Anna Carolyna Borges, sem rosto, apenas um nome. Quando vi você entrar aqui e ser anunciada como Anna Carolyna Borges eu não pude crer que as duas pessoas que mais admirei na vida eram a mesma pessoa.

- Pri, você não tentou me contatar, por quê?

- Você era rica e importante, nunca deixariam uma pobre falar com você. Te procurei em redes sociais, mas não achei. - Priscila confessou. - E eu sequer te conhecia para pedir tudo aquilo de dinheiro.

- Eu daria. Céus, eu teria dado sem pensar duas vezes. - Falou com firmeza. - Por favor, me perdoa.

- Eu sei que você teria dado. - Priscila disse sorrindo fraco. - Você é você, a pessoa dona de um coração gigantesco.

- Eu estou me sentindo impotente e vazia. - Carolyna falou e Priscila a beijou docemente nos lábios.

- Você é o anjo da minha vida, não deveria se sentir assim.

- Então por que ainda me sinto? - Carolyna perguntou sentindo um buraco em seu peito e
Priscila suspirou.

- Porque essa é você, tende a sentir a necessidade de melhorar o mundo e odeia injustiças. Essa é você, Lyna.

A menor umedeceu os lábios, ainda frustrada.

- Se eu pudesse ter salvado o meu pai eu teria feito, Priscila, não posso acreditar que eu poderia ter te ajudado. Eu não...

- Sei como se sente. - Priscila disse. - Eu também tentei salvar meu avô, mas olha só a diferença de uma rica para uma pobre... Eu precisei acabar presa para isso. - Carolyna ergueu o rosto e a fitou.

- O que quer dizer, Priscila?

A maior suspirou.

Diria o motivo de ter ido presa para ela sem remorso, diria porque Carolyna a tinha por completo.

Diria porque finalmente sentia-se pronta para isso.

Presa Por Acaso | Capri Onde histórias criam vida. Descubra agora