Cap 5

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A fantasia de pantera demoníaca de Pazú era simplesmente incrível e sensual, feita de um pano fino e maleável, que se esticava em sua pele e abraçava as suas curvas.
A máscara do animal confeccionada com paetês negros que descansava em sua face só lhe conferia um ar mais misterioso.
Ela seria de todo linda, se não fosse o fato de ser um demônio e ter a voz mais prejudicada do que alguém que tivera as cordas vocais arrebentadas. 

O Palácio estava vazio, e o único som que reverberava eram os saltos agulhas de Pazú que estalavam pela espécie de mármore negro. Tinha certeza que não era um mármore comum. Todo o lugar era feito daquilo.

Meus pés desnudos não faziam barulho.

Andamos pelo que parecia em círculos. Primeira a esquerda, depois dois corredores a direita. Voltávamos o caminho até sairmos em um local diferente. Aquilo era realmente enorme, e aquela técnica era mais velha do que o próprio Asmodeu. Pazú estava confundindo o meu senso de direção para dificultar uma possível fuga, já que durante todo o tempo em que estava ali, só havia saído do quarto- prisão pouquíssimas vezes para ir a sala do trono.

- Não chegamos ainda?!- Exclamei cansada.

- Cala a boca, escrava.

Finalmente Pazú parou em frente a uma porta simples de madeira que destoava de todo o Palácio monumental e sofisticado. O plano da vagabunda havia dado certo. Eu não fazia ideia de onde estava, nem seria capaz de achar o meu quarto-prisão sozinha nem que quisesse voltar.

Ela se aproximou da madeira e assoprou.
A porta fez um clique suave, e se abriu por completo.

Estávamos no jardim que ficava na entrada do Palácio, e uma multidão fantasiada nos aguardava.

O ar estalava com poder... eram muitos os demônios reunidos ali, e poderosos em sua maioria. Respirei fundo.

Uma melodia animada e dançante preenchia o ambiente, assim como  falatórios e gargalhadas. Vários aromas de comidas e especiarias invadiram o meu nariz, e meu estômago roncou.

Observei rapidamente todos ao redor. Muitos cidadãos teleganos riam e conversavam entre si. A grande maioria estava completamente bêbada.
Paetês, brilhos, plumas e tecidos extravagantes se completavam felizmente naquela noite alegre.

Mesmo que eu fosse uma prisioneira, minha alma ameaçava ficar feliz depois de tanto tempo de torturas e ameaças...

E o melhor era que ali as únicas pessoas que sabiam sobre mim eram Asmodeus, seus irmãos, os criados e Pazú...

Hoje eu era uma convidada.
Prisioneira e escrava, mas convidada.

- Fadinha, se comporte ou a gargantilha te enforcará até você morrer pior do que um peixe que busca por água. Aproveite a noite, mas não se engane. Asmodeu sabe de tudo e de todos por aqui, ele é o todo de Télegos... onipresente. Não faça nenhuma merda.

- Onde você vai? - Perguntei berrando, graças a música alta.

- Vou finalmente trepar com um tritão. Aproveite...

Eu não sabia se ela estava falando sério sobre o tritão, porém eu conhecia sobre a existência de bruxas... então tudo era possível.

Me dirigi a uma mesa de bebidas para tomar algo, de preferência forte. Eu iria precisar de coragem para me encontrar com quem quer que seja no portal dos enamorados. Primeiro eu precisava descobrir onde ficava esse lugar.

Enquanto enchia o copo, senti olhares me circundando. Uns sussurros de aprovação, outros de desdém, e a maioria de curiosidade. Abri um sorriso torto. Eu me sentia muito bonita essa noite.

AsmodeuWhere stories live. Discover now