Isso é um encontro?

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– Cara, eu não acredito que tem um membro da Quadris na nossa sala! – Dois alunos do primeiro ano estavam conversando, quando Ao chegou.

– Eu sinceramente, achei que seria... – Quando os olhos do colega se encontraram com os de Ao, ele gaguejou. – Ah, esquece.

– Você já conheceu ele? Como ele é?

– Sabem que não posso falar sobre isso...

Outros primeiranistas estavam bombardeando Char com perguntas. Muitas das quais ele não tinha como responder.

– Qual seu posto? – Perguntou a garota sentada ao lado de Char.

Uma pergunta que ele podia responder. Estufando o peito de orgulho, respondeu:

– O braço direito. Dex.

– Caramba! Tinha que ser o filho do Primeiro Ministro!

– Silêncio, alunos. Sei que estão todos animados para cumprimentar o colega da Quadris, mas agora é hora de estudar. Sentem-se.

Os alunos reclamaram, mas obedeceram e se sentaram. A aula prosseguiu, embora ainda houvesse cochichos por todos os lados. As luzinhas da chegada de mensagens nos tablets se acendiam com mais frequência do que normalmente seria permitido, mas o professor fez vista grossa. Até ele parecia mais feliz do que o normal.

A atmosfera em toda a escola era de animação.

No almoço, Yuna e Ao escolheram um cantinho isolado do jardim, longe da balbúrdia adolescente.

– Yuna, você é muito boa nisso! – Ao exclamou, ao morder um pedaço de bolinho de arroz recheado de salmão com maionese.

Ela corou.

– Obrigada. Fico feliz que tenha gostado.

Após terminarem, ficaram apenas observando o jardim e as pessoas caminhando.

– Conversei com meu pai ontem.

– Hum?

– Sobre você sabe o quê. – Ela sorriu. – Agora não há mais segredos entre eu e ele.

– A relação de vocês parece boa.

– Não é ruim... Ele só se preocupa demais comigo. Mas eu entendo. Depois que minha mãe morreu, ele nunca mais foi o mesmo... – Yuna encarou o chão, com alguma tristeza.

– Ele se preocupa com você, é o que importa. – Ao se aproximou dela e pegou sua mão. – Seu pai é um cara legal. – Só um pouquinho sádico às vezes, completou mentalmente.

– Tenho certo orgulho dele por não ser um militar estúpido. Sabe, como é a maioria deles...

Ao riu.

– Sei o que quer dizer.

– Você... Deve ter vivido muito sozinho. – Yuna disse. – Eu sei como é isso... Fico muito feliz de ter te encontrado aqui nesse fim de mundo.

– E um dia vamos sair desse lugar e eu vou te levar para ver as estrelas de perto.

– Quão perto? – Ela disse, com uma expressão que não sabia decifrar.

– Até onde for seguro...

Ela fez uma careta.

– Segurança? Isso é para os fracos.

Um ruído atrás deles fez Ao se virar. Akira Senno estava parado atrás deles.

– Afaste-se dela. – Seus olhos negros encararam Ao com frieza.

– O que você está fazendo aqui, Akira? – Yuna franziu o cenho para o colega de classe.

Ambos eram do segundo ano, da mesma turma. Ao olhou de um para o outro e se lembrou do pé na bunda que o rapaz levou da garota. Controlou-se para não sorrir. Se aquilo era um mero ataque de ciúmes, ele não tinha razão para se preocupar.

– Vou repetir. Afaste-se dela, ceruliano.

Ao não queria encrenca, mas a atitude de Akira era completamente irracional. Yuna era sua amiga e não iria se afastar dela só porque um ex-pretendente desiludido estava pedindo.

– Por quê? – Perguntou simplesmente.

– Está brincando com a minha cara? Você, um inimigo que jamais deveria ter pisado nesta cidade...

– Se tem algum problema comigo, afaste-se você. Yuna é minha amiga, você não tem nada com isso. – Ele sabia que, caso as coisas ficassem feias, algum soldado brotaria de algum lugar para ajudá-lo. Ou talvez para impedir que Ao machucasse algum humano.

– Ao tem razão. – Yuna parecia irritada. – Você é o que, um stalker maluco? Cai fora você, Akira.

– É pela sua segurança, você não está entendendo.

– Quem não entende é você! Qual das palavras você ainda não compreendeu? São só duas: CAI FORA. – Ela foi muito enfática nas palavras.

Reunindo suas coisas rapidamente, ela se levantou, puxando Ao consigo, pela mão. Ele olhou de esguelha e se deparou com o rosto enfurecido de Akira. Naquela hora, ele tinha certeza que partiria para cima. Mas isso não aconteceu. Ele ficou apenas parado, encarando-os caminhar para longe, seus olhos negros envolvidos por um ódio profundo.

– Eu, hein? Credo. – Desabafou Yuna. – Toma cuidado com o Akira, Ao. Não sabemos o que ele pode fazer.

– Deixa ele tentar. – Ao sabia que era mais forte e principalmente mais rápido que Akira. Mesmo ele sendo um prodígio, ainda era humano. Além disso, Akira não poderia ir contra alguém importante como o Precentor de Lesa. Fizera um juramento sob pena de morte.

– Ah, você também? Não compra briga com ele!

– Eu posso vencer. – Ao se gabou.

– Garotos estúpidos!

– Mas, considerando as circunstâncias... Eu duvido que ele vá realmente tentar alguma coisa.

– Nunca se sabe o que passa na cabeça desse idiota. – Yuna suspirou.

– As aulas já vão começar. – Lembrou Ao.

– Vejo você depois da aula? – A menina disse, repentinamente.

– Hum?

– Quer tomar um sorvete comigo? – A garota inclinou levemente o rosto para o lado e sorriu. O coração de Ao quase parou.

"Use meu presente... talvez assim consiga me enganar"

O rosto de Ao esquentou, enquanto as palavras de Char reviveram em sua mente.

– C-claro!

Yuna se afastou, deixando Ao e seu coração a ponto de explodir de emoção.

AO - A Ameaça CerulWhere stories live. Discover now