Reconciliações

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            Leon, Vanessa e Marcelo conversavam na mesa da cozinha enquanto tomavam café. A conversa estava agradável, eles conversavam sobre Franz, os momentos felizes que eles tiveram juntos e riam quando lembravam os momentos alegres e divertidos que viveram juntos com o garoto. Não dava pra evitar de sentir aquela dorzinha no peito, aquela saudade inimaginável, mas pelo menos aquela conversa leve diminuía.
           De repente, a porta foi aberta e uma garota de cabelos pretos com basicamente 15 anos de idade. Ela olhou para os presentes, depois fechou a cara quando viu o ruivo ali.

Tereza:O que ele tá fazendo aqui?
Vanessa:Tereza, não se fala assim com as visitas.-repreendeu.
Tereza:E desde quando ele devia ser considerado visita depois de ter descumprido a promessa.-indicou os arredores com as mãos.-Porque eu não vejo o meu irmão aqui.
Vanessa:Tereza!-levantou da cadeira.
Marcelo:Tereza, o Leon está sofrendo assim como nós.-diz sério, levantando da cadeira e colocando a mão no ombro da esposa.-O que aconteceu com seu irmão.....foi uma tragédia, uma tragédia causada por alguém irresponsável. Mas o Leon não tem culpa nisso.
Tereza:Ele me prometeu que cuidaria do meu irmão.-lembrou, com a voz meio embargada.-Ele me prometeu! E agora meu irmão tá morto, ele está morto!-bateu o pé.-Se ele amava tanto meu irmão porque ele não o protegeu melhor? Por quê?!

             Quando ela se viu em meio a lágrimas, ela correu pro quarto. Vanessa estava tentando não chorar, mas seus olhos já estavam marejados. Aquele acidente tirou muita coisa, tirou um amigo, um filho, um irmão, um amor....uma pessoa incrível.
             Leon sentiu amargura crescer em seu peito. A pessoa horrível que tirou Franz devia pagar.....Mas não foi isso que aconteceu, não foi....

Leon:Eu vou falar com ela.-se levantou.-O Franz não ia gostar de ver a gente nesse pé de guerra. Com licença, sogrinha.-andou até o quarto de Tereza.
Marcelo:Eu tenho muita pena dele.-abraçou a esposa.-Eu espero que ele possa se libertar desse amor impossível, nosso filhote não gostaria de ver ele preso à lembranças.
Vanessa:Sim.-assentiu.-Mas nosso filho se apaixonou por uma pessoa meio cabeça oca e ele sabia bem disso.-ambos riram.-Eu espero que o amor passe pelo coração do Leon novamente.
Marcelo:Nós vamos torcer.-assentiu.-Eu só não quero que o coração dele fique cheio de remorso, ele tem um bom coração, mas até bons corações podem ficar corroidos se guardam muitas mágoas.
Vanessa:Sim, isso é verdade. Eu também não quero que o coração dele fique preso pelo remorso, Franz não gostaria disso também. Mas só o tempo pode nos dizer como ele vai lidar com a dor.
Marcelo:Faz três anos, Vanessa.-sentiu as lágrimas descerem pelo rosto.-Três anos que nosso filho foi tirado de nós.
Vanessa:Eu sei.-começou a chorar.-Eu sei.-se aconchegou no peito do marido.

          E enquanto isso acontecia na cozinha, uma reconciliação estava pra acontecer. 
          Leon entrou no quarto, mas manteve distância da irmã do seu moreno. Se conhecia bem Franz, e ele conhecia, sabia que ele era muito defensivo quando pego de surpresa e Leon não queria correr o risco de Tereza pegar o abajur e jogar na sua cara caso tentasse uma aproximação sem aviso.

Leon:Tereza.
Tereza:Sai daqui.-chorava no travesseiro.
Leon:Tereza, eu quero conversar com vc.-se sentou em um canto afastado da cama.-Eu sei que vc está sofrendo pelo que aconteceu, eu também estou. Eu amava seu irmão e ainda o amo, vc também o amava, não precisa passar por isso sozinha.-viu o choro diminuir.-O que aconteceu.....tirou muita coisa de todos nós e a pessoa que fez isso vai pagar, de um jeito ou de outro.
Tereza:Vc vai fazer alguma coisa?-se sentou na cama, começando a encara-ló.

Eles têm os mesmos olhos quando choram.- Leon pensou.-O mesmo nariz empinado vermelhinho.-segurou a vontade de chorar.-Ah Franz, como eu queria que estivesse aqui para ver a grande mulher que sua irmã está se tornando com sua beleza.

Leon:Não sei, seu irmão iria arrancar meu coro se eu tentasse alguma besteira.-riu brevemente.-Mas eu não sei o que poderia fazer se eu visse aquele desgraçado na minha frente.-cerrou os punhos.-Eu acredito que ele ainda vá pagar pelo que ele fez, a vida vai fazer isso.
Tereza:A vida não é justa, Leon. Meu irmão é a prova disso.-lágrimas desceram.-Ele era uma pessoa boa, tinha sonhos, muitos sonhos e mesmo assim ele....ele.....

              Quando o choro retornou, Leon abraçou a garota e chorou junto. Ah, aqueles corações tinham sofrido tanto.

Leon:Pode chorar.-deu leves tapinhas nas costas da garota.-Eu sei que a vida não é justa, mas eu quero acreditar que algo ainda pode ser feito pelo seu irmão. Pelo amor da minha vida.-se afastou para limpar o rosto da garota.-Mas agora tudo que vou fazer é cuidar da irmãzinha que ele tanto amava e ficava protegendo. Sério, quando vc era um cotoco de gente ele não deixava ninguém chegar perto, parecia um pastor alemão protegendo sua cria.-viu a outra rir.
Tereza:Leon, eu quero saber como meu irmão era antes de eu nascer.-diz já mais recuperada.-E também quero saber como ele me tratava quando eu era bebezinha.
Leon:Isso são questões muito simples que posso contar até de trás pra frente.-sorriu.-Seu irmão era um valentão no fundamental......

          E ali eles perderam horas e horas conversando sobre anos que não voltavam mais, porém que acalmava os corações deles. Na saída, Tereza pediu para que Leon viesse mais vezes e o ruivo prontamente aceitou.
           Quando retornou para casa, não sentiu tanto vazio naquele lugar. O silêncio era incômodo, mas o lugar parecia mais leve agora. Andando até o quarto do casal, ele sentou na cama e pegou a fotografia dos dois juntos.

Leon:Sua irmã está bem, meu gatinho.-deu um selinho na imagem do garoto.-Ela vai ser uma garota forte, como vc.-sorriu.

         Leon foi para a escrivaninha na janela e pegou seu caderno, começando a deixar seu poema.

  Aquele acidente tirou tudo de nós

Pois tirou você de nós

Nos acalmamos lembrando de ti

Mas a pessoa que fez isso

Ainda vaga por aí

Livre

E viva

.

Sua família está bem

Embora ainda sofra por sua perda

Assim como eu

Nós choramos por causa de sua ausência

E imagino que você também chore

Pela nossa sofrencia

.

Meu amor, eu espero novamente por segurar sua mão

Te beijar de montão

E dizer mil vezes que te amo

Até que você não aguenta mais ouvir meu "eu te amo"

.

A casa não parece tão vazia agora

Vou levar sua perda aos poucos

Mas são poucos que entendem

Que meu coração sempre será seu

.

.

.

.

           Leon deixou o caderno, tomou um banho e botou um pijama. Pegou um pijama de Franz e deitou na cama abraçado naquela peça de roupa, sentindo os últimos vestígios do cheiro de frutas vermelhas do garoto. Leon pegou e celular e abriu uma mensagem de áudio, a última que Franz enviou. Após ouvir a mensagem, ele abraçou o celular e dormiu, sonhando com seu amado.

Poemas Para Um AnjoWhere stories live. Discover now