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Tinha algo diferente nela hoje. Não sei se era o cabelo, ou a roupa.
Observei-a por muito tempo, cada passo, cada respiração, acho que talvez ela tenha notado o peso de meus olhos sobre si, mas se notou não demonstrou.
Tentei identificar o que era esse sentimento de precisar olhar pra ela, precisar estar perto o máximo que podia. Tentei me aproximar mais, sorrateiramente, observando as armas e arcos dispostos ali na arena, já pensando em alguma desculpa para a minha repentina proximidade.
— Olha só. Cansou de observar de longe e veio admirar de perto, espião? — ela disse de súbito. Me pegou de surpresa, que ódio.
— Haha — respondi com deboche, precisava manter o disfarce — Está de bom humor hoje é? Apenas vim lhe convidar a pedido de Mor — olha aí, já jogando a culpa em alguém — para a noite da fogueira, hoje. Pode levar seus colegas junto se quiser.
Enquanto mentia descaradamente, aproveitei para dar passos pequenos em sua direção. E então bingo!!
Era o cheiro! Mas, por que está diferente agora? Deixou de ser aquele campo vasto em uma noite de estrelas com uma tempestade se aproximando, para passar a ser o mesmo campo, mas em um dia ensolarado e lotado de flores.
— Pensei que Morrigan mesma poderia fazer o convite. — respondeu debochando de mim, e obviamente sacando a minha mentira — Tudo bem então, avise-a que talvez eu apareça, não garanto. E me devolva isto! — disse retirando o arco em miniatura de minhas mãos.
Foi nessa repreensão que a aproximou mais de mim. E percebi porque seu cheiro estava diferente. Só para mim!
Paralisei.
Petrifiquei.
Finquei os pés no chão.
Virei estátua.
E todos os outros adjetivos para descrever meu estado físico.
Não podia ser ela! Não tinha que ser ela! Era ela mesmo? Por que?
Ela me encarou. Estalou os dedos e balançou a mão na frente de meu rosto. Eu estava em choque, meus olhos arregalados, minhas narinas dilatadas, boca entreaberta.
ERA ELA!
Ela!
Minha parceira!
MINHA.
— Está bom então. Talvez até mais tarde. — disse saindo da arena.
Ela não fazia ideia. Santo Caldeirão.
Eu não posso acreditar. Mais de 500 anos! E ela só aparece agora?!
Atravessei para a ala do castelo de Helion em que o CI estava hospedado. Ainda em choque.
Me sentei no chão mesmo. Precisava respirar, digerir o que estava acontecendo.
Passando a mão pelo rosto e pelos cabelos que percebi não estar sozinho.
— Az? O que foi irmão? — ouvi a voz de Cassian.
Olhei para ele. As lágrimas já rolando. Ele se abaixou até onde eu estava, me olhou de cima a baixo, provavelmente procurando algum ferimento.
— Meu irmão, se não me disser o que houve não vou poder te ajudar!
Encarei a grande janela a nossa frente e disse em voz baixa:
— A encontrei. Eu a encontrei irmão.

One Shots - Azriel Où les histoires vivent. Découvrez maintenant