O táxi parou finalmente, após quase uma hora na estrada. Um homem careca de meia-idade e rosto enrugado puxou a embreagem e saiu do veículo, indo em direção ao porta-malas, de onde apanhou algumas bagagens. De uma das portas do fundo desembarcou uma garota magra de cabelos lisos e longos, amarelos como o brilho do sol; devia ter seus 20 ou pouco mais que isso.
Seus olhos escuros encaravam toda a estrutura do enorme hotel bem a sua frente. Tinha sete andares de paredes com tintura cinza desbotada e em muitas partes dava-se para ver os tijolos, mostrando evidentemente os anos de descuidados o qual o mesmo foi submetido. Suas janelas estavam sujas ou rachadas, quando não os dois.
— Aqui está, senhorita — o taxista deixou duas malas grandes e uma bolsa ao lado da mulher.
— Obrigado, senhor. Tenha uma boa noite — agradeceu com um sorriso fraco, enquanto ponderava se tinha tomado a melhor escolha. Por fotos o edifício não se mostrava tão desgastado.
Olhou em seu relógio de pulso e percebeu já ser oito da noite. O que mais queria era descansar de uma viagem cansativa de quatro horas somadas com o táxi e um ônibus, este que se pudesse falar, imploraria para ser levado ao ferro-velho.
Talvez o hotel estivesse passando pelo mesmo desespero.
Colocou a bolsa em um dos braços e segurou cada grande mala de alça nas mãos, encarando as escadinhas de pisos marrons quebrados que levavam a uma porta cor verde-musgo, e logo acima com uma placa digital escrito “Hotel Villens” em vermelho.
— É aqui o inferno? — suspirou se arrependendo de ter pago uma reserva naquele lugar.
A ideia de sair de perto de sua família no interior e vir para uma cidade pouco mais globalizada e próxima da capital já não parecia tão brilhante assim.
— Inferno? Está no lugar certo — um homem a assusta quando se aproxima de repente. — Está indo para esse lixo de hotel, é? Deixe eu te ajudar — se inclinou para pegar uma das malas.
— E você é...? — deu um passo receoso para trás, analisando o garoto de pele branca pálida e olhos verdes rodeado por olheiras tão escuras que pareciam manchas de carvão.
— Desculpa. Andrew. Meu nome é Andrew Villens — passa a mão nos fios de cabelos pretos, com um semblante embaraçado. — Eu sou filho do dono do hotel.
— Filho do dono? E se refere ao hotel como “lixo”?
— Menti? — abre os braços, se referindo à estrutura. É, não mentiu. — E você é?
A jovem parece perdida naquele mar de estranheza, como um peixe sem dúvidas estaria perdido em um rio de esgoto.
Bem, de duas, uma: ou esse tal Andrew tem uma péssima relação com o pai, ou é sensato demais. Ou quem sabe é só um maluco que nunca sequer olhou na cara do dono, e é uma terceira opção válida.
— E você é...? — ele insiste e interrompe os devaneios dela.
— Lara Costa.
— Olha só! Brasileira? Ótimo — intrometidamente pega as duas malas de suas mãos e leva até a recepção, Lara vai logo atrás.
O interior não era tão diferente, sendo pequeno e um tanto apertado, com paredes mescladas em um amarelo encardido e o cinza do reboco, enfeitadas pelas ilustres teias de aranha; o chão de pisos manchados e nitidamente sujos, não deviam ser limpos há muito tempo.
Andrew fez uma reverência que parecia asiática e simplesmente subiu as escadas para o próximo andar.
A recepcionista, uma velha caduca e baixinha foi quem confirmou a reserva do quarto e permitiu a subida.
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Hotel Villens
Mystery / ThrillerCansada de uma vida limitada de cidades interioranas, Lara migra para uma mais globalizada e próxima da capital, em busca de melhores oportunidades, além de tentar fugir da realidade monótona que vivia todos os dias. Ela só não esperava que sua vid...