Capítulo 4

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Sentada ema uma das mesas próximas à entrada da cafeteria, observava perdidamente a movimentação da rua. A essa altura já era impossível dizer que as visões não estavam a afetando de alguma maneira.

Sua mente era tão confusa e bagunçada, parecia navegar em um mar de dúvidas. Um mar profundo, com tubarões de todos os tamanhos e formas espreitando sua tão vulnerável embarcação.

— Emma é daqui? — um motoqueiro com uma grande bag vermelha nas costas para em sua frente.

Não respondeu enquanto se questionava se o homem era real. Porém teve a resposta indireta quando a própria Emma se apresentou e foi até ele, pegando um pacote e o agradecendo, logo retornando para dentro.

Se acomodou na mesa com Lara e revelou duas marmitas de comida.

— Com fome? — oferece a ela.

— Sem dúvidas — puxa para si imediatamente.

Já marcava 13 horas nos ponteiros do relógio e a cafeteria estava totalmente vazia. O estômago dela resmungava a todo momento, e pareceu intensificar quando ela abriu a marmita com arroz, feijão, macarrão, salada e duas sobrecoxas de frango, como se implorasse e ameaçasse: “me alimente logo, mulher, ou vou vazar esse suco gástrico órgão afora”.

— Você está se sentindo melhor? — Emma indaga, dando a primeira garfada no almoço.

— De mais cedo? — ela assente. — Sim. Foi só... acho que estou passando por estresse.

Sua colega de trabalho termina de mastigar enquanto a fita atentamente, com muitas questões na mente, as quais não podem ser assimiladas tão facilmente.

— Sim, estresse — sabia que tinha algo além se passando com a loira. — Mas você olha para lugares fixos como se visse algo... fala sozinha. Estresse faz isso?

Lara quase se engasga com isso. Pede um tempo estratégico enquanto mastiga, maquinando uma desculpa mais plausível, e sua companheira compreende e continua comendo.

— Bem... — engole tudo que estava em sua boca. — Eu tenho muitos problemas de sono... insônia, sabe? Então eu não durmo quase nada. Principalmente por ter trocado de cidade. Não durmo bem há cinco ou seis dias.

— Caramba, isso parece ser péssimo. Quanto tempo você consegue dormir?

— Quando tenho sorte umas duas horas. E nem sempre eu durmo — bem, ela não estava mentindo. Hoje está virada, por exemplo.

— Que terrível! Isso deve te deixar exausta.

— Sim, e aí junta com o trabalho...

— E mesmo com o trabalho te cansando você não consegue dormir? Acho que vou pedir para dona Amelia aumentar sua carga horária — ri divertidamente.

— Mais que catorze horas e meia? Não, obrigado — acompanha o riso.

— Pois é, eu sei, é bem pesado. Entrar seis da manhã e sair oito e meia da noite... ah, e nem ganha tanto. Pelo menos tem pausa para almoçar.

Pensou em comentar sobre o quão injusto isso era, mas decidiu ficar quieta. Iria precisar do emprego ainda. O melhor que poderia fazer daqui para frente era procurar outro ao invés de convencer sua colega a fazer uma rebelião proletária.

Hotel VillensWhere stories live. Discover now