Capítulo 2

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Retira os sapatos, salvando seus pés delicados do abafamento de seus calçados, o que é suficiente para causar um alívio imenso, eles de alguma forma precisavam "respirar".

Por mais simples que pareça trabalhar em uma cafeteria, não é. Principalmente como garçonete. Lara ficou quase doze horas — das 6:00 às 17:40 — em pé e indo de um lado para o outro, salvo o horário do almoço e as rápidas pausas para o lanche e higienes. E hoje ainda teve a “sorte de iniciante” ao ser liberada mais cedo, seu horário é até às 20:30.

Isso é o auge da escravidão. A única coisa que se passa por sua cabeça de cabelos loiros é se será preciso levar seu próprio chicote e correntes amanhã ou se já têm lá.

Apenas um banho quente poderia lavar sua alma e foi o que ela fez. Por sorte aquele entulho de banheiro tinha água quente, mas considerando o local, se o chuveiro elétrico aquecesse e explodisse como uma bomba em sua cabeça, não se surpreenderia.

Se enxugou, pôs uma camisola leve, apagou todas as luzes e voltou para sua cama. Apanhou seu celular e percebeu que já eram quase seis da noite. Olhou pela janela e viu a claridade do sol cedendo seu brilho para o anoitecer.

Sem delongas iniciou uma busca por casas de aluguel com preço em conta. Afinal, o hotel era provisório, apenas para se abrigar por um curto período e poder trabalhar.

Sua mente turbulenta tentava não pensar em Maxine e o jeito como foi encontrada morta, e como a senhora do 211 já sabia disso pelo menos oito horas antes de passar no telejornal. Poderia ela ter visto o crime? Testemunhado? Encontrado e sem coragem de denunciar? Talvez Lara nunca saiba.

Fred também era uma grande interrogação em sua cabeça. Um homem que aconselhou a ela que tomasse cuidado, e depois, partiu. Isso fica ainda mais tenebroso quando finalmente se convence que ela foi a única que o viu na cafeteria.

E então um grito ensurdecedor estremeceu cada célula de Lara, que saltou estabanadamente para o lado da cama com o coração disparado que ia e voltava dentro de seu peito. Seus olhos rapidamente se focaram no celular que acabou sendo arremessado contra o chão, mas outro grito trouxe sua atenção à direção da porta.

— Por favor, me ajuda! — um homem gritava desesperado bem à sua frente. Ele era bastante magro e no escuro, não se podia ter certeza, mas parecia não ter cabelos. — Eu preciso da sua ajuda!!! — as cordas vocais espalhavam choro e desespero sem cessar.

— Quem é você?! — Lara se afastou até se encostar na parede, sem reação. Seus olhos vidrados no estranho desconhecido que berrava por ajuda, suas mãos trêmulas e tesas.

— Por favor, eu não mereço isso! — continuava aos prantos. — Eu preciso, eu preciso da sua ajuda!

— Me fala o que você quer! Calma, o que você quer?! — o homem parece ir se acalmando aos poucos, mas o choro e o desespero ainda presentes. Isso encoraja a jovem assustada a dar o primeiro passo e caminhar lentamente, receosa. — Co-como entrou no meu quarto? — engole em seco.

Dessa vez não houve respostas além do pranto baixinho.

— Como eu posso te ajudar...? — ia chegando mais perto, e mesmo que meio à escuridão, seu rosto passava a se enriquecer em detalhes. Detalhes os quais não haviam saído da cabeça de Lara por um momento sequer no dia de hoje.

— Eu não quero morrer! — um último berro de desespero que usou tanto de suas cordas vocais que o final da frase saiu em rouquidão.

Ele foi empurrado por algo invisível, algo forte o suficiente para o arremessar pela janela e causar o alto barulho de vidro se partindo e caindo no chão, mesclado com o grito de horror e medo vindos da boca de Lara.

Hotel VillensWhere stories live. Discover now