O relógio já marcava 20 horas quando terminou seu banho. Estava mais paranoica que nunca.
Havia passado literalmente duas horas sentada na cama olhando fixamente para o chão, sem nenhuma reação. O tempo e o mundo exterior haviam simplesmente paralisado, somente sua mente agoniada funcionava, com centenas de teorias e soluções. Ainda assim, não escolheu nenhuma.
Não àquela hora.
Se vestiu com um short jeans e um moletom preto, saiu de seu quarto e passou correndo, sem olhar por um instante para a porta do 211, assim descendo as escadas o mais rápido que pôde. Sentia arrepios e a insistente sensação de que estava sendo perseguida com constância. Talvez estivesse.
Passou pela porta principal e saiu do hotel. Observou todo o perímetro, a procura de algo especificamente estranho. Caminhou na direção oposta da cafeteria, com o olhar fixo à sua frente, tal como um robô meio às poucas pessoas que também estavam pelas ruas.
Finalmente teve a coragem de olhar para os lados novamente, então seu coração acelerou, mas não era nada. Nada além do normal. Parou, fechou os olhos momentaneamente, suspirou. Nem ela sabia direito o que queria ou procurava.
Mas ele sim, ele sabia.
— Oi, Lara — se estremeceu ao perceber que havia um homem a sua frente. — Você por aqui.
O encarou fixamente e com os olhos arregalados ao reconhecê-lo. Um nó se formou em sua garganta e nada pôde falar, seus braços se enrijeceram e ficaram tesos ao lado do corpo.
— O que é? Parece que viu um fantasma — sorri com certa dose de ironia.
— É... eu... vi... — com dificuldade, suas cordas vocais liberam as primeiras palavras. — Fred...
— Eu mesmo.
— É... você mesmo — enche seu pulmão de ar e tenta piscar os olhos o menos possível, tendo medo do que pode mudar à sua frente em microssegundos. — C-como me esquecer, não é? — se esforçava ao máximo para soltar a fala.
— Que bom que se lembra de mim — solta um riso descontraído. — Sinal que você tem ótima memória.
— E precisa? Só pela forma como aconteceu... eu quase que só penso nisso quando... quando estou naquele quarto. Aquele maldito quarto.
Lara explicitamente demonstrava tentativas de naturalizar uma interação com um morto, o que já era admiravelmente louco.
— Por que pediu para eu tomar cuidado? Naquele manhã na cafeteria... por quê? — questiona e a feição dele fica séria. — Do que você estava falando?
O homem simplesmente fica com um dos seus olhos roxos, e na lateral de sua cabeça extremamente machucada e sangrando, derramando por seu pescoço e melando sua blusa.
— E... e o que... — respira fundo com os olhos lacrimejando de desespero, não conseguindo completar a frase.
Fred aponta para o outro lado da rua, e ela se vira para olhar, porém não encontra nada além de um carro aparentemente comum estacionado próximo à calçada. Quando se volta, o homem já não está mais lá.
Então olha para o céu, sem antes procurá-lo. Encara o brilho das estrelas mescladas naquelas poucas nuvens cinzas. Insistentemente seu cérebro tentava processar tudo, mas já beirava o impossível.
Atravessa a rua e chega ao outro lado, analisando todo o exterior e interior do automóvel, tentando extrair qualquer pista ou detalhe, contudo, nada fora do padrão. A menos que o carro pertencesse a ele, quem sabe.
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Hotel Villens
Mystery / ThrillerCansada de uma vida limitada de cidades interioranas, Lara migra para uma mais globalizada e próxima da capital, em busca de melhores oportunidades, além de tentar fugir da realidade monótona que vivia todos os dias. Ela só não esperava que sua vid...