Constatou a tela de bloqueio de seu celular, já marcava cinco e meia da manhã. Pela janela podia ver que o céu era azul-claro e começava a apontar no horizonte, anunciando a chegada de um novo dia.
Novamente ficou em claro toda a madrugada, salvos cochilos com minutos de duração. Sua mente mexia como engrenagens em busca de respostas e soluções, processando as milhares de informações obtidas por navegadores de internet.
Graças a isso seria impossível que tivesse condições de trabalho depois de duas noites não dormidas, ao menos desse fator tinha consciência. Desbloqueou o celular e cogitou ligar para dona Amelia, contudo ainda duvidava se seria o certo a se fazer, afinal seria somente o seu terceiro dia de trabalho. Teria que usar de uma ótima desculpa para essa falta.
Sua incerteza durou apenas segundos, logo clicou para ligar e não perpetuar tanto esse momento de dúvida. Por outro lado, não foi atendida. Insistiu mais duas vezes, mesmo resultado.
— Droga... — resmungou em um denso desânimo. — É, nem são seis horas ainda, ela deve estar dormindo.
Bloqueia o aparelho e se deita na cama, encarando o teto.
— Deveria olhar mais ao seu redor.
A voz repentina fez Lara se sentar na cama novamente em uma agilidade enorme, encarando arregalada para Maxine ao seu lado. Recuperou o ar durante o longo momento que a analisou — por sorte estava “normal”, não extremamente ferida e machucada.
— É, acho que sim — força um sorriso. — Quando chegou aqui?
— Há mais tempo que você — esboça um sorriso caloroso.
— Sério? Quanto tempo?
— Hum... hoje a tarde completaria sete dias.
— Oito dias? É bem recente então. Em qual quarto você ficou?
A jovem loira nitidamente se esforçava para tentar naturalizar aquela interação totalmente inédita de sua vida de duas décadas, embora interiormente a tensão fosse sua companheira íntima.
— É, muito recente. A última vez que senti o ar vigorar em meus pulmões foi um dia antes de você chegar aqui. Infelizmente. E eu fiquei no quarto 306, no andar acima, a propósito.
— Eu sinto muito... por que exatamente têm tantos espíritos aqui? Q-quero dizer, todos os que aparecem para mim parecem estar conectados com o hotel, de alguma forma.
— Se hospedaram aqui antes de serem mortos — responde encarando perdidamente o chão com tristeza em seus olhos.
— Eu deveria ficar com medo? — ri nervosa, se afastando um pouco e se encostando na cabeceira da cama para quebrar essa proximidade que a arrepiava.
Maxine apenas acenou um “sim” com a cabeça, tirando todo o fôlego de Lara.
— A cada vez que o relógio marca 18 horas, é marcado um dia a menos de sua vida — retoma seus olhos na loira.
— O que você quer dizer?
— É uma espécie de ritual, digamos assim. Na terceira “18 horas”, será o seu último momento de vida.
— O que quer dizer?!! — se inclina nervosa.
— Muito simples. Você chegou há quatro dias, mas foi depois das 18:00, então não conta. Logo, apenas no segundo dia você passou pela primeira vez por esse horário. Ontem, foi a segunda. Hoje, será a terceira...
— E...?
— Terceira e última.
Engole em seco, sentindo o coração descompassar e um gosto amargo dentro de si.
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Hotel Villens
Mystery / ThrillerCansada de uma vida limitada de cidades interioranas, Lara migra para uma mais globalizada e próxima da capital, em busca de melhores oportunidades, além de tentar fugir da realidade monótona que vivia todos os dias. Ela só não esperava que sua vid...