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Ah, meu Deus! - Maraisa exclamou só abrir o jornal e ler a seção de classificados. - Você não fez isso.

- Ficou bom?

Ela me lançou um olhar severo antes de começar a ler em voz alta, sentada a mesa da pequena, porém organizada cozinha.

Procura-se uma esposa para curta temporada. Mulher lésbica ou bissexual entre 21 a 35 anos, que tenha imóvel próprio e emprego estável, disponível para matrimônio. Boa aparência não exigida. Apresentação de antecedentes criminais é obrigatório, casamento de aparência. Sexo está excluido da acordo. Paga-se bem no término do contrato, tratar com Carla pelo telefone.....

- O que você acha, Isa? - Perguntei roendo as unhas.

- Acho que você enlouqueceu de vez. - Ela abaixou o jornal. - Como você vai pagar alguém para ser sua esposa? Você está mais dura que o pão da minha mãe.

Suspirei exasperada.

- No final do acordo, você não prestou atenção? Quando eu tiver a minha fortuna de volta.

Ela revirou os olhos e bufou.

- Você ficou doida, só pode ser.

- Doida não, desesperada. - Argumentei. - Agora é só esperar pra ver o que aparece. - Disse prendendo a ponta da língua entre os dentes.

- Maih. - Ela inspirou profundamente, me encarando com determinação. - Você não pode se casar com uma total desconhecida. Isso é loucura.

- É por que não? Casamento arranjado foi uma prática muito comum e bem sucedida no século passado.

- Bem sucedida? Meu Deus, de onde você tirou isso? As pessoas eram infelizes, e os homens tinham uma penca de amantes.

- Sou lesbica, Isa.

- Isso não muda nada, Maih.

Ela bateu a mão fina no tampo da mesa de madeira imperiosa.

- E as coisas mudaram, o mundo mudou. Você não pode morar com uma mulher que não sabe nada sobre você, ou pior, que você nem conhece. Ela pode ser uma psicopata, uma pervertida ou coisa pior.

Revirei os olhos.

- Você acha que eu não sei disso? Foi por isso que eu pedi o atestado de antecedentes criminais.

Sua boca se escancarou em choque e raiva se estampavam em suas feições delicadas. Mais então ela se recuperou, me lançando um olhar cheio de escárnio.

- Você vai apresentar o seu? - Arqueou uma sobrancelha desafiadoramente. - Porque duvido que alguma mulher queira se casar com uma mulher que já foi presa em todos os cantos do planeta.

- Eu não fui presa em todos os cantos do planeta. - Reclamei ofendida. - Só aquela vez em Amsterdã...... e aquela em Tunísia. E uma vez na Bulgária, mas foi tudo um mal entendido. Como eu ia saber que não podia chamar o policial de filha da puta fascista? Ele queria confiscar meu mp3, pelo amor de Deus. Além disso, sou eu quem está alugando uma esposa, não vou precisar apresentar nada. - Sorri animada, eu cumpriria a clasura imposta pela vovó, mas do meu jeito.

Isa se encostou na cadeira, passando as mãos pelos cabelos negros.

- Se é assim, não seria mais seguro casar com alguém que você já conhece? Uma ex namorada?

- De jeito nenhum! Uma ex namorada ia começar a ter ideias antes mesmo de eu dizer sim perante o juiz. E uma amiga no caso você ia da muito na cara. Um conhecido poderia deixar escapar alguma coisa por aí sobre a minha tentativa de burlar o testamento. Com uma estranha não corre esse risco, são apenas negócios, é o plano perfeito.

Procura-se Uma EsposaOnde histórias criam vida. Descubra agora