Eu te amo

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Quando cheguei em casa, ainda incerta sobre o que fazer. Um plano, porém já se delineava em minha cabeça. Encontrei Marilia parada perto da porta. Ela parecia ter passado um bom tempo ali, me esperando.

- Por onde você andou? Eu estava maluca de preocupação – perguntou apressada, mantendo certa distância.

- Por aí – eu disse me desviando dela e largando a bolsa na cadeira da mesa de jantar. Eu me sentia exausta, como se o peso do mundo estivesse em minhas costas.

- Por favor me escuta, Maiara! O que você viu não foi o que você pensa que viu... Exatamente. A Camila armou para você nos surpreender.

Eu não tinha dúvidas quanto a isso.

- Eu sei – e me joguei no sofá. De alguma forma, eu sabia que ela dizia a verdade, que tudo não passara de uma tentativa tosca da Camila separar nós duas. Ainda assim doía. E muito!

Ela se aproximou um pouco.

- Você precisa acreditar em mim. Não sei como ela soube que você ia para aquela sala naquele momento, mas eu juro... que... O que você disse? – ela indagou, confusa.

- Eu sei que ela tentou encenar algo que aconteceu. Eu acredito em você, Marilia.

- Acredita?

Sim, eu acreditava. Sabia que ela jamais faria aquilo, especialmente dentro da M&C. Marilia prezava muito as regras.

Eu teria que dizer adeus a ela, temporariamente, mas não dessa forma, não com mentiras. Não sabia ao certo o que dizer, mas tinha certeza que tentaria ser o mais honesta possível. Ela merecia isso. E eu devia isso a mim, mesma. O problema era que honestidade nunca fora meu forte. Eu não sabia nem por onde começar...

- Ela apareceu do nada – continuou ela – Eu estava concentrada na copiadora e aquela porcaria sempre mastiga o papel, você sabe... A Camila puxou conversa e eu nem sei do que ela estava falando, só respondia automaticamente. Então ela me atacou, mal tive tempo de afasta-la e você já estava ali, abrindo a porta.

- Eu sei, Marilia.

- Ah, Maiara – ela suspirou aliviada, sentando ao meu lado, não perdi tempo e a puxei para um beijo. Ela correspondeu com fúria e desespero que senti meu próprio desespero se fundir ao dela, se tornando pesado.

- Você é a mulher mais incrível que eu conheço – ela sussurrou contra meus lábios.

Mulher. Não garota. Mulher. Adulta. Então por que eu me sentia tão pequena e frágil?

Me afastei com relutância.

- E você confia em mim? – perguntei.

Ela me encarou com os olhos sinceros.

- Sempre

- Eu preciso falar.... Preciso... – engoli em seco – Te explicar uma coisa, te contar o que pretendo fazer....

O celular dela tocou.

- Desculpa preciso atender – ela levou o aparelho á orelha – Oi, Isa, ela voltou – e expirou profundamente – Sim, ela está bem. Não está machucada. Estamos sim. Eu aviso pra ela. Obrigada pela ajuda. Tá, tchau – e desligou o telefone – Ela disse pra você nunca mais fazer o que você fez, ou ela nunca mais vai falar com você na vida. – eu me encolhi, envergonhada. – Você pode imaginar como ela estava preocupada, não pode?

- Desculpa – murmurei.

- Ah, Maiara. Acho que sou eu que tenho que pedir desculpas por ter sido tão estupida – ela me envolveu com os braços iniciando um beijo.

- Espera, eu preciso falar com você.

- Seja lá o que for pode esperar. – ela disse voltando a me beijar.

Fiz um esforço sobre-humano para finalizar o beijo.

- É serio, Marilia temos que conversar.

Ela me soltou, passou a mão pelos cabelos para formar um coque no alto, e pareceu tão desamparada que eu quis cair de joelhos e conforta-la.

- Maiara, eu passei cinco longas horas ligando para você e cada cinco segundos, atormentando a Maraisa para tentar descobrir onde você estava, com medo que você acreditasse na armação da Camila e que eu tivesse te perdido de vez. Você entende o que estou sentindo agora? O alívio que sinto em poder ter você comigo nesse momento?

Eu entendia. Eu podia imaginar como seria abraça-la outra vez sabendo que tudo estava bem. Que aquela seria a última vez. Que ficaríamos juntas, não importava o que acontecesse.

Eu não queria me afastar dela, ainda que por pouco tempo.

Uma lágrima traidora desceu por meu rosto. Marilia a secou com os lábios.

Segurando meu rosto com as mãos e me encarando por um momento precioso, seus olhos brilharam como duas estrelas em chamas, incendiando meu corpo.

- Nada é mais precioso pra mim do que você, Maiara. O mundo pode esperar. Qualquer problema, qualquer assunto pode esperar. O amor que sinto por você não.

- Eu te amo, Marilia. Você não faz ideia o quanto eu te amo.

Ela sorriu antes deu capturar seus lábios famintos, a tomei em meus braços, deitei ela com delicadeza sobre o tapete pesado da pequena sala. Ela sussurrou meu nome, de novo e de novo, como uma prece, um mantra, enquanto eu beijava seu rosto, pescoço, sentindo seu cheiro e gosto tão insuportavelmente doce que me vi a beira das lágrimas. Fechei os olhos, presa em meu próprio desespero, e me entreguei ao amor uma última vez.

Procura-se Uma EsposaOnde histórias criam vida. Descubra agora