Seu filho da PU.....

338 50 5
                                    

Na manhã seguinte, Marilia disse que meu inseto imaginário não havia dado as caras e, claro, fiz cara de paisagem e desconversei. O dia seguiu normalmente, as pessoas agora conversavam comigo e o pequeno desentendimento entre mim e Camila não chegou aos ouvidos da diretoria nem do RH. Eu estava começando a apreciar aquela rotina. Eu quase gostava de... trabalhar. Quase.

Tudo ia bem até que, no meio daquela tarde, recebi um telefonema. De Simon.

- Você teria tempo para conversar comigo hoje á tarde?

-  Não – respondi secamente.

- Marilia, sei que você ficou magoada por eu ter escolhido o Jeferson em vez da Marilia, mas você precisa entender meus motivos. Vamos conversar, ainda podemos nos entender.

- Estou ocupada. Quem sabe outro dia... – ou em outra vida.

- Deixa de ser teimosa. Você e eu sabemos que você vai vir de qualquer jeito. Mandarei um motorista para te pegar. O que acha? – ele disse melosamente.

- Bom... – o que eu tinha a perder? E, se eu fosse dar ouvidos a vovó e a toda aquela balela de Sun Tzu, o negócio era manter o inimigo perto, não era?

O carro de Simon chegou meia hora depois. Avisei a Marilia que teria que sair mais cedo, mas não dei detalhes, mesmo porque eu mesma não os conhecia ainda. Fiquei sem chão quando o motorista embicou o carro no portão da mansão e não no escritório de Simon. Um misto de nostalgia e pesar me perpassou. Tudo estava perfeitamente igual naquela propriedade e, no entanto, tão diferente. Faltava alma naquela casa.

Simon me aguardava no jardim. Parecia amistoso, sorrindo recostado no espaldar da cadeira de madeira.

- Que bom que você veio.

- Pode parar com a bajulação e ir direto ao que interessa. Eu ainda não engoli aquela história da promoção.

Ele esperou que o motorista se afastasse e indicou a cadeira ao seu lado para que eu me sentasse. Não sentei.

- Eu nunca quis prejudicar a Marilia. Fiz o que achei melhor para a empresa – começou Simon com a voz monótona de sempre.

- Você foi um calhorda. Todo mundo diz para não confiar em advogados... – grunhi.

Ele sorriu se desculpando.

- Não me tome por um calhorda. Só estou pensando no seu futuro. Afinal a M&C será sua muito em breve . Tem certeza que não quer sentar? Vou pedir um chá e...

- Não, obrigada. Onde esta sua esposa?

- Nos Andes. Infelizmente não pude ir com ela. Muita coisa para fazer por aqui. Eu sei que você me culpa Maiara, mas tente entender o meu lado. – ele se recostou na cadeira parecendo exausto. – Eu também tenho que abrir mão de muitas coisas para cumprir as ordens da sua avó. Pense nisso antes de me odiar.

Suspirei pesadamente antes de me sentar ao seu lado.

- Eu não te odeio – não muito. – Por que você me chamou aqui, Simon?

Uma borboleta azul flutuou ao meu redor. Fiquei rígida como uma estaca, meu coração pulsando na garganta. Mas o inseto asqueroso  logo terminou seu círculo predatório e se afastou, entrando pela janela da biblioteca da vovó. Eu me perguntei o que estaria acontecendo com o mundo. De onde tinham saído tantas borboletas azuis.

Fui arrancada de meu devaneio ao ouvir um ronco familiar. Um ronronar agressivo. Meus olhos foram arrastados para a fúria vermelha que deslizava para fora da garagem.

- Meu Porsche! – exclamei atordoada.

- Ah, sim. Você reconheceu – Simon sorriu – Acabei de comprar. O antigo dono não se deu muito bem com ele.

Procura-se Uma EsposaWhere stories live. Discover now