Não mexa com quem esta quieto

341 54 33
                                    

- Adivinha de onde estou vindo? – perguntou Camila apoiando as mãos em minha mesa.

Examinei o rosto maquiado e o decote profundo.

- Humm... Do inferninho mais próximo? – provoquei.

Ela sorriu largamente.

- Da sala da presidente. A Sheron quer falar com você.

Levei mais de uma batida de coração para entender o significado daquele sorriso. Ela havia contado a Sheron sobre o meu acordo com a Marilia. E Sheron queria explicações ou coisa pior.

Ela não esperou por resposta. Encaminhou-se para sua mesa sacudindo os quadris.

Corri para o nono andar, colocando na cara minha de expressão mais sincera e esperando que isso bastasse para convencer Sharon a não levar suas suspeitas adiante. Ela e Inês, a secretária da presidente fazia um milhão de anos, me esperando com cara de poucos amigos na sala da presidência, com uma pilha de papéis sobre a mesa que fora da vovó por tanto tempo. A M&C fora o primeiro empreendimento da vovó, por isso ela tinha um carinho especial pela empresa de cosméticos.

- Fiz um levantamento completo sobre os salários dos funcionários e, analisando atentamente, vi que você tem razão, Maiara. O pagamento não é suficiente para se ter uma vida confortável – Sheron disse, me pegando no contrapé. Não era aquilo que eu esperava.

- Não é mesmo – concordei atônita.

- Nem eu nem sua avó fomos informadas sobre isso. Veja bem, eu não posso simplesmente aumentar o salário de todos os funcionários, assim do nada. Haveria um rombo no orçamento da M&C.

- Entendo. Mas você pode priorizar quem ganha menos? – sugeri.

- Não é assim que as coisas funcionam. A empresa trabalha como um todo. Não posso dar aumento apenas para uma parte dos funcionários. É antiético e quase ilegal – explicou ela com um pouco de paciência.

- Hummm... Acredito que mais pessoas tenham jornada dupla. Não estou me queixando de barriga cheia. O que ganho, e imagino, o que a maior parte dos funcionários ganha, não é o suficiente para viver com o mínimo de conforto. Esse mês tive que escolher como gastar meu dinheiro. Entende o que eu quero dizer? Eu nunca precisei fazer isso antes. Talvez essas pessoas tenham feito isso a vida toda, mas, honestamente, como você acha que uma mãe ou um pai se sente tendo que escolher se vai colocar comida na mesa, ou, sei lá, comprar um tênis novo pro filho? Ser pobre é difícil!

Sheron passou a mão pelo cabelo.

- Eu compreendo. E o que você propõe, já que um dia tudo isso será seu? – ela questionou abrindo os braços.

Desconfiada, perguntei.

- Por que a minha opinião importa agora?

- Porque você é a herdeira disso tudo. Em pouco mais de um ano, tudo isso será seu, não é? – ela me lançou um olhar penetrante.

Certo então era assim que ela pretendia me fazer confessar. Só que, ao me avisar, Verônica acabou me ajudando, e eu não seria pega de surpresa.

Endireite-me na cadeira, tentando parecer o mais profissional possível. Ali estava minha chance de provar a Sheron, Simon e a vovó que eu era capaz de ter boas ideias sem acabar na cadeia. Ao menos eu achava que a ideia era boa.

- Se você esta falando sério, então, sim eu tenho uma ideia.

- E qual seria? – ela cruzou as mãos sobre a mesa.

- Você sabe que eu não entendo muito de negócios, mas pensei em sugerir uma participação nos lucros aos funcionários, como algumas empresas fazem. Dividir entre os funcionários o que sobrar da meta de lucros mensal ou anual.

Procura-se Uma EsposaOnde histórias criam vida. Descubra agora