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Noah.

Sina tremia ao meu lado, mas isso não a impediu de continuar a caminhada até a reitoria. Meu pai realmente parecia nervoso e, chegando finalmente ao seu gabinete, apontou para uma cadeira vazia perto da janela e, só com o olhar, deu a ordem à Sina de sentar nela. A garota loira não discutiu, na verdade, meio em choque, ela nem piscou. Assisti enquanto ela se sentava, completamente desconfortável, brigando com algo dentro de sua cabeça conforme encarava os anéis em suas mãos sobre o colo.

Tentei algum contato visual, mas ela não ergueu a cabeça de jeito nenhum, parecendo acuada. Isso se devia ao show de puta que Isaac continuava dando, chutando e resmungando, tentando se manter dentro de um padrão que meu pai aceitava, já que ele sabia que o pior estava por vir.

Ele foi o primeiro a entrar no escritório, Marco entrou logo em seguida e eu fui o último, fechando a porta depois de dar uma última conferida em Sina, a qual Maressa, agora, dava alguma assistência.

Virei-me a tempo de ver meu irmão dando um chute na poltrona e encarei-o, cruzando os braços, esperando ver até onde meu pai permitiria aquele desrespeito.

— O que pensa que está fazendo, garoto? — Marco Urrea, naquele segundo, era o reitor não nosso pai. Seu tom de voz frio, sério e cheio de repreensão agoniou Isaac.

Meu irmão parou por um minuto, fitou meu pai com olhos vidrados, mãos em punho e veias do pescoço saltadas. Ele era pura raiva e gritou em resposta:

— ISSO TUDO É CULPA SUA! E SUA TAMBÉM, SEU DESGRAÇADO! — A última parte da frase era direcionada a mim, e veio acompanhada de dedos apontados na minha direção.

— Minha? — perguntei, debochando.

— É, você arruinou tudo desde que chegou, mas eu sei como você vai voltar para o buraco de onde saiu. Quer que eu conte, ou você conta para o papai sobre o seu negocinho ilegal?

O sorriso que cortou meu rosto naquele minuto confundiu Isaac.

— Está falando das drogas? — Gargalhei de forma cruel quando ele confirmou com a cabeça e apontei para Marco. — É, de fato, eu sou um exímio produtor, mas aqui está o meu traficante, então reclame com ele sobre o pós-venda, irmão. — Meu tom ácido foi um bônus.

A cara de Isaac foi ao chão. Ele não conseguia acreditar e, por quase um minuto, ficou calado, olhando do meu rosto para o do meu pai.

— Pai? — ele soprou, os olhos enchendo d’água. Ele parecia um garotinho perdido. — Como assim? Você sabia disso? Você está ajudando esse desgraçado? — Apontando para mim, inconformado, Isaac se aproximou de nosso pai que parecia cansado.

— Isaac — mandão e grosseiro, meu pai mandou —, cale a boca!

O clima gelou como se todas as janelas não existissem. Eu não me movi, só assistindo ao circo pegar fogo.
Meu pai suspirou, esfregou o rosto e passou as mãos pelos cabelos. Em seguida, se sentou e encarou a mim e ao seu outro filho.

— Vocês dois não sabem a merda em que estamos metidos. É melhor para todo mundo que essa conversa não saia daqui.

— Ou o quê? — Isaac fez birra, parecendo ter cinco anos de idade.

— Você é idiota ou o quê? — perguntei, desacreditado. — Não é óbvio? Se descobrirem que o reitor da faculdade e sua família estão metidos com isso, o nome, o status, o poder que os Urrea têm… Vai tudo para a lama. E o nome é a coisa mais importante para ele, ou você se esqueceu que o papai do ano aqui — indiquei Marco com o indicador e o dedo médio — só se mexeu para me tirar de casa quando houve possibilidade de os jornais estamparem algo negativo sobre ele?

Bad Urrea | NoartWhere stories live. Discover now