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Sina.

Minha cabeça girava. O enjoo não me deixava ficar muito tempo de olhos abertos. Minhas mãos amarradas também não ajudavam em nada.

— Eu vou vomitar — avisei Josh, mas ele não pareceu ouvir. Na verdade, ele parecia tão drogado, tão absorto, que tive medo de continuar dentro daquele carro. Eu não queria morrer. Não queria mesmo morrer.

— Noah vai me matar. Ele vai me matar… — Josh cantou baixinho enquanto nós seguíamos a Dodge de Marco e o Mustang de Noah.

Seu carro era um Jeep alto, escuro, que cheirava à maconha tão forte que piorava tudo o que eu sentia. Seu cheiro tinha medo também, mas eu não queria tentar compreendê-lo. O que Josh fazia era loucura.

Para que ele precisava me sequestrar?

Para que todo aquele circo?

O tempo todo, quando eu perguntava o que estava acontecendo, ele só me mandava calar a boca, dizendo que precisava pensar.

Mas naquele estado? O cérebro dele parecia derretido.

Esfreguei os olhos, travei os polegares dentro das palmas para tentar conter aquela sensação maldita, e os abri, me forçando a ficar acordada e ciente de tudo à minha volta. Se eu tivesse uma mínima chance, não ia vacilar. Se precisasse machucar Josh no processo, eu faria.

Só queria sobreviver.
 
Sem muita ideia do que acontecia, com mil teorias na cabeça, tentei mais uma vez arrancar alguma informação do garoto que passei a vida odiando e que deveria ter deixado no meio da estrada.

— O que está acontecendo? Para onde vamos?

— Você precisa fazer silêncio. — A resposta fria não ajudou.

— Eu quero mesmo vomitar, você precisa parar.

— Vomita aí no chão.

— Quê? Não, não posso. — Tentei argumentar, olhando para ele, implorando um segundo de atenção. Mas, vidrados, os olhos dele estavam fixos na estrada. Foi rápida demais a mudança que vi no rosto de Josh naquele segundo, antes dele enterrar o pé no freio.

— PORRA! — ele gritou, e eu só tive tempo de ver o caminhão que vinha da pista do lado atingir o carro de Marco, de frente, tão rápido e tão forte, que arrastou a Dodge para trás de nós.

Tudo parou.

Meu coração bateu rápido, mas o tempo à minha volta correu devagar. Assustado, os olhos de Josh vieram para o meu rosto enquanto ele se atrapalhava para tirar o cinto. Eu também queria descer. Eu precisava descer.

Era Marco!

O garoto destravou as portas do carro, eu consegui me soltar também, mas nem precisei abrir minha porta. De repente, alguém abriu e eu fui puxada para fora com força.

Achei que fosse cair.

Achei que alguém fosse mesmo me matar.

Mas meus pés pousaram no chão tão suavemente que mal pude acreditar.
O cheiro dele me acalmou, e quando dei por mim, estava contra o peito de Noah, suas mãos vasculhando meu rosto, meu corpo, desesperado.

— Você está bem? Você se machucou?

A primeira lágrima rolou quando neguei com a cabeça.
— Noah… Mar o. — O nome saiu engasgado. Ele não disse nada. Selou os lábios nos meus e se afastou.

— Sabina, ajude aqui.

Eu tremia e quando Noah me soltou, precisei encontrar equilíbrio assim que o frio me atingiu.

— Ei, garota, tá tudo bem. — A morena chorava, vindo até mim, pronta para soltar minhas mãos.

— O que tá acontecendo?

— Uma porra muito fodida. Vem. — Ela me pegou pelo pulso, me obrigando a correr junto dela na mesma direção para onde Noah tinha ido.

Quase caí uma porção de vezes. Minha visão estava embaçada pelas lágrimas que começavam a ganhar força, mas fui capaz de ver Noah no que um dia foi o vidro do carro do pai. O garoto que eu amava estava imóvel. O peito subindo e descendo rápido demais, sua respiração era uma fumaça densa em frente aos destroços.

O ódio dele era capaz de derreter tudo em volta.

Ele, naquele estado, só me dizia uma coisa.

Marco não estava vivo.

E, pelo que eu sabia, era tudo culpa minha.

Bad Urrea | NoartWhere stories live. Discover now