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Noah.

— Sina, espere! — gritei, mas ela não parou.

Os cabelos loiros ao vento, o desespero dela palpável para se afastar de nós. De mim. E a corrida intensa foi até a porta de saída. Ela tentou abri-la, mas meti a mão por cima de sua cabeça contra a madeira, obrigando-a a se fechar. Ela insistiu, tentando abri-la de novo.

— Amor, pare, por favor.

— Sai! — ela gritou. O calor de sua raiva foi o que me espantou, mas Isaac estava bem atrás de nós, e mais atrevido do que eu, ele a puxou pela cintura. Minha primeira reação foi pegá-lo pelo pescoço, apertando com força até ele soltá-la.

— Porra, não, Si, você sabe que não fui eu! Nós já falamos disso um bilhão de vezes antes. Você viu Noah lá. Você viu como ele correu, como ele agiu depois!

Sina aproveitou daquele momento insano para abrir a porta, mas parou sob o batente, encarando a mim com os olhos desesperados, sedentos pela verdade.

— É verdade o que Noah disse?

— Claro que não! — Isaac tentou, mas eu o sacudi, um recado claro para que ele calasse a boca. E percebendo que eu deveria ter dito antes. Que deveria ter confiado nela lá atrás, na adolescência, suspirei, engoli em seco e fechei os olhos, sabendo que o pior me esperava.

— É. É verdade. Foi Isaac.

— Me conte.

— Fui até a sua casa naquele dia. — A memória queimou na minha cabeça. — Vi o carro dele lá e escalei até o quarto da sua irmã, ele e ela estavam no seu. Os dois estavam com um planinho sacana de nos separar, ele já te queria naquela época, Red…

Ela encarou Isaac por um minuto, o ódio ganhando sua expressão.

— Quando ouvi o que eles tinham feito, parti para cima de Isaac, mas antes eu coloquei fogo em uma peruca que sua irmã usou e joguei no lixo cheio de papel. O fogo deve ter pegado nas cortinas e no carpete. Isaac tentou me enforcar, sua irmã foi tentar me defender e ele a socou. Susan ficou desacordada na hora, porra, amor… — Meu peito tremeu, eu ri de desespero. — Nós caímos escada abaixo e, não consegui subir para salvá-la. Eu tentei, mas não consegui.

E então, me surpreendendo, Sina veio até nós, encarou Isaac e deu um tapa em sua cara tão bem dado que o garoto ficou sem reação. Como se não bastasse, ela cuspiu nele. Eu não pensei em rir. Não mesmo, porque sabia que seria o próximo. Quando ela me bateu, nem mesmo fechei os olhos. Eu merecia.

— Você me abandonou por uma mentira. — Magoada, abalada, prestes a desabar, a voz de Sina tremia como ela. — Você me deixou viver com ele — ela disse entredentes, a respiração ofegante —, como vivi, sabendo que tudo era culpa dele! Você me deixou dormir ao lado da morte, você sabia do que ele era capaz, Noah!

— Me desculpe, Red — doeu admitir. — Eu achava que você não acreditaria em mim… achava que você estava seguindo os passos do meu pai por interesse.

— Mas podia ter me contado agora! — O grito desesperado e inconformado dela me doeu.

— Não queria te ver assim, não queria acabar com você. Eu juro que foi com boa intenção.

— Boa intenção, boa intenção — ela debochou. — Noah, vivi ouvindo você dizendo que a boa intenção alheia não vale de nada, então por que porra eu tenho que achar que a sua vale? Você não confiou em mim! — Sina chorava tanto, parecia tanto me odiar, que eu só me encolhi.

Ela tinha razão. Eu era péssimo em perdoar, e fácil de enxergar o pior nos outros. Suspirei, ajeitando a postura, e fugindo de seus olhos, dei de ombros.

— Eu fiz tudo o que fiz porque ninguém que deveria me amar foi fiel até o final. Era só o que eu tinha para dar, Red. Dizer que sinto muito muda alguma coisa?

— Não desta vez. Não mais. — Se afastando, ela mirou a mim e Isaac com os dedos e disse: — Cansei dessa merda. Não quero ver a cara de vocês nunca mais. Nunca mais.

E a vi saindo pela porta.

Tive vergonha de ir atrás.

Tive vergonha de olhar o que tinha feito. Larguei Isaac de qualquer jeito e voltei para me largar sobre o sofá.

Eu era, agora, um pobre garoto milionário de coração partido.

Bad Urrea | NoartWhere stories live. Discover now