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D E A N

Eu conto meus passos até a porta, coordenando minha respiração até ter certeza que pareço normal o suficiente para entrar e encará-la. Nenhuma criança deveria ter de assistir a própria mãe se matar, principalmente quando ela está prestes a se formar e todas as suas amigas estão lidando com assuntos superficiais de bailes e garotos, mas Lily parece não perceber o dano que está causando a filha e continua indo mais fundo no abismo do vício por comida.

Vício.

A palavra parece amarga na minha boca depois de todos esses anos.

Ela disse que eu estava exagerando, e que continuaria comendo o quanto quisesse. Eu não percebi na época o quão doente ela estava, mas a psicóloga me alertou a gravidade da situação.

" Você é um facilitador". Ela disse, enquanto explicava a mente da minha mulher. Aparentemente existem muitas lacunas na infância de Lily que podem ter desencadeado o distúrbio alimentar, mas o acidente e a separação foram como um gatilho conjunto.

— Você voltou. — eu pisco ao som da voz suave, suspirando quando seus olhos de águia seguram os meus.

Forço um sorriso.

— Sim. — falo, deslizando o olhar do seu rosto para a televisão, onde um cara sem camisa toca violão e canta.

— E mamãe? — eu suspiro.

Foda-se.

— Ela ficou no SPA. — a mentira escapa com facilidade depois de todo o ensaio que fiz no carro e seu rosto ilumina, cheio de esperança.

Porra. de. Vida.

Sem conseguir encarar seu rosto, dou mais uma olhada na televisão e finjo prestar atenção no cara cantando.

— Quanto tempo ela ficará? — arrasto meus dedos pelo cabelo e volto a contar.

Quando tempo? Eu quase bufo.

Quem pode saber.

— Algumas semanas. — respondo, não arriscando olhar para seu rosto e ser pego na mentira.

Ficamos em silêncio.

— Dean?

Não olhe. Não olhe. Não olhe.

— Por favor, Dean. Olhe para mim.

Porra.

— Vou pedir uma pizza para nós, boneca. Que tal um doce de sobremesa, hein?

Puxo meu celular do bolso, dando as costas para ela enquanto sigo até a cozinha.

— Queijo e cogumelos? — pergunto, apertando o aparelho contra meu ouvido.

Ela suspira, um ruído tão triste que faz meus dentes rangerem de indignação.

— Ela não está no SPA, não é?

VICEWhere stories live. Discover now