07 - Uma década depois

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Estavam todos na sala com um ar de riso ainda pendendo dos lábios e uma alegria gigantesca no coração após Isaque finalizar a melodia que ecoava de seu violino.

O menino de nove anos, trazia consigo o sorriso da mãe e os cabelos à altura do queixo do pai.

— Estou extremamente orgulhosa, querido.

— Obrigado, vovó.

— Você foi muito bom, maninho.

— Obrigado, maninha.

A menininha de cinco anos, Lia, com os fios castanhos da mãe e o sorriso tímido do pai lhe sorriu e piscou os olhinhos brilhantes.

Todos eram munidos de sensações maravilhosas quando o menino tocava com tanta entrega, começou aos quatro anos e desde então, nada mais lhe traz tanta alegria quanto tocar seu violino, presente de sua vovó Amélia.

* * *

Dona Amélia, antes de dormir, começou a revolver lembranças boas e valiosas.

Viajou para o dia do anúncio da gravidez de Isabel há dez anos, tudo na vida de todos eles mudaram completamente a partir dali. Após aquele jantar em família e perdão por completo, Amélia mergulhou em um novo nascimento e desde então, tem crescido e viveu muitas coisas boas na década que se passou.

Começou a viver cada dia como se fosse o seu último, após o nascimento de Isaque, fez logo o convite tão desejado por ela a sua filha e genro do coração que ganhara, Isabel e Rogério, para virem morar com ela e sair do aluguel.

Eles de início ficaram meio confusos, duvidosos e apesar de achar que incomodaria, Isabel sabia que sua senhora precisaria de mais ajuda do que ela poderia oferecer somente em alguns dias na semana e Rogério, sem que dona Amélia soubesse, vinha buscando incansavelmente uma forma de sair do aluguel e desejava comprar sua tão sonhada casa própria, mas, as coisas não estavam indo conforme ele queria. E, diante de tal proposta, sentiu um certo e inconsciente alívio. Iria trabalhar para ir em busca de uma casinha para ele e sua esposa, enquanto desafogava do aluguel passando uns meses com dona Amélia que os recebera tão bem. E obviamente, faria o possível para prover o que fosse necessário a ela, sua esposa e o filho.

As coisas seguiram melhores do que qualquer um deles poderia ter imaginado.

Dona Amélia, devido a sua idade, estava cada vez mais fraca, não debilitada, porém, por sua cansada passagem por essa terra há mais de oitenta anos, precisava de ajuda e de descanso. Então, a vida deles se ligaram e se complementaram de forma extraordinária.

Fora que a alegria de uma família completa em um lar, faz a diferença.

Agora, com noventa e cinco anos e uma mente grata, um coração preenchido por um amor maior do que ela poderia descrever e a presença do Senhor, a qual começou a buscar e a conhecer após Rogério e Isabel se mudarem, ela sentia que tudo estava em seu devido lugar.

— Senhor, tarde te encontrei, entretanto, pontualmente, o Senhor me resgatou de mim e de tudo o que me prendia a esse mundo cruel. E pensar que antes eu desejava morrer, ai de mim! Se tivesse morrido sem antes te conhecer e morrer para este mundo, estaria agora sucumbindo nas trevas. O Senhor faz tudo devidamente completo, certo e pontualmente. Após essa década maravilhosa que me foi dada, não carrego nenhum arrependimento e só agora sou capaz de compreender o que dona Adelaide me disse naquela tarde em seu quintal. Senhor, nunca imaginaria que faria tantas coisas boas e que me inundaria de tanta felicidade através da vida de Isabel, de todas as orações feitas por aqueles que me amaram mesmo sendo quem era e de tua infinita misericórdia.

Amor e AmarguraWhere stories live. Discover now